Thursday, January 21, 2016

CAFÉ E BOM DIA #9 (por Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta)



Fugindo do rótulo polêmico que determina o que é "nouveau roman" -- estilo não muito claro para mim, cujo ponto de partida talvez tenha sido Nathalie Sarraute, ou Alan Robbe-Grille, ou Michel Simon -- acabo de ler "Passagem de Milão", um belo romance de Michel Butor que vem acompanhado do rótulo "nouveau roman".

"Passagem de Milão" retrata a vida de um edifício em 24 horas.

Nele, Butor aponta que a solidão é consequência de um mundo com valores em transformação.

Mas, se ignorarmos até mesmo quem somos, como poderemos almejar o conhecimento do próximo e a compreensão recíproca?

A impossibilidade do conhecimento do outro resulta na solidão irremediável dos homens, que Nathalie Sarraute já desenvolvera como tema, deixando uma reflexão ótima: Somos Planetas de um mesmo Sistema, mas absolutamente mudos uns com os outros.

A insegurança, fruto da incapacidade de conhecer qualquer coisa em definitivo, faz com que o homemtome na literatura e na leitura o papel de espião trafegando em ruas labirínticas ou corredores mudos.

A característica comum ao que Sartre chamava de "anti-romance" é a aparente demência de seus personagens.

Os tipos que desfilam pelas páginas dos livros de Butor são tão esrtimulantes quanto o primeiro café da manhã.

Era Butor quem dizia: "Não me assustam os dementes, mas sim os idiotas".


Violette Leduc é uma escritora pouco conhecida.

Eu mesmo li um só livro dela, que caiu nas minhas mãos por pura sorte: "A Bastarda", de 1964.

Obra considerada principal da autora, esta narrativa autobiográfica de uma sinceridade intrépida — como classificaria Simone de Beauvoir no elogioso prefácio que escreveu para o livro —, faz com que Violette Leduc retome e vá ainda mais além de seus romances anteriores (L'Asphyxie, L'Affamée, Ravages). Ainda que o erotismo lésbico esteja bastante presente, observamos que se trata menos de "histórias escabrosas" do que de um "inferno humano explorado".

Publicado no Brasil inicialmente na década de 60, o livro foi reeditado nos anos 80. Hoje encontra-se fora de catálogo, só podendo ser encontrado em sebos.

Violette Leduc escreveu 15 livros viscerais.

Quero muito ler "A Faminta, Descrição do Amor", que, segundo quem o leu, nos leva ao âmago de um conhecimento, narrando suas bruscas incursões num domínio que poderia ser chamado de mítico e afundando em suas origens.

Já estava perdida nos arquivos da minha cachola quando tive a oportunidade de assistir o filme de Martin Provost concentrado no pós-Segunda Guerra até o lançamento de " O Bastardo ".

Eis pois que abro minha primeira crônica de 2016 desejando que ressurja a editora DIFEL. 

Café e Bom Dia Para Todos.


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.



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