Monday, January 25, 2016

POEMINHA DE SEGUNDA (por Carlos Drummond de Andrade, assim como na semana passada)


O HOMEM E SEU CARNAVAL

por Carlos Drummond de Andrade



Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.
Sem olhos, sem boca
sem dimensões.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.

O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.

Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.





Carlos Drummond de Andrade
(Itabira MG 31/10/1902 - Rio de Janeiro RJ 17/08/1987)
é considerado o mais influente poeta brasileiro do século XX.
Drummond possui mais de 50 livros publicados
entre crônicas e poesia.
O valor de seu legado literário é imenso.




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