Tem sido uma constante nos últimos tempos ver celebridades do cinema e da TV arriscando aventuras literárias prá lá de duvidosas e conseguindo editores com uma imensa facilidade, já que são, antes de mais nada, celebridades rentáveis.
Dentre todos esses casos, dá para contar nos dedos os que são genuinamente gabaritados em termos artísticos a ponto de cometer obras literárias dignas de ser consideradas como tal. Mas, infelizmente, para cada obra de Steve Martin e Hugh Laurie, chega ao mercado uma infinidade de tranqueiras editorias como o malfadado livro de poemas de James Franco, "Palo Alto", e a desconcertante (no mau sentido do termo) coletânea de contos "Yes Please", de Amy Poehler.
Pois David Duchovny, 55 anos, conhecido por seu trabalho em "The X-Files" e "Californication", acaba de lançar "Holy Cow", seu primeiro romance, aqui no Brasil pela Editora Record, e deve surpreender até mesmo aos fãs de Hank Moody, o roteirista bêbado e sedento por sexo que circula pela periferia da Indústria do Cinema e da TV em aventuras extremamente insuitadas.
Trata-se de um romance formatado a partir de um roteiro de cinema, narrado por Elsie Bovary, uma corajosa e tagarela vaca leiteira de uma pequena fazenda no norte do Estado de Nova York, que passa seus dias alegremente sendo ordenhada, pastando e sonhando com os belos e robustos touros, que vivem na fazenda do outro lado da cerca.
Uma noite, enquando passeia despreocupadamente pelos arredores da casa do fazendeiro que a explora, Elsie vê através de uma janela aberta uma cena de um programa de TV que mostra bois e vacas sendo abatidos em uma matadouro. "Um mundo de sangue... o meu tipo de sangue", diz ela, estupefata com o que viu. E então, quando o programa de TV faz menção à Índia, onde as vacas são sagradas e ninguém as come, Elsie decide que lá é seu lugar. E cai na estrada com Jerry, um porco que se converte ao judaísmo, e que quer ir para Israel. Para completar o grupo de animais fujões, um peru de fala suave chamado Tom junta-se a eles antes que chegue o Mês de Novembro e ele não sobreviva ao próximo Dia de Ação de Graças. Tom, o peru, pretende fugir para a Turquia. Acha que o origem de sua linhagem vem de lá.
Sentiram a pegada bizarra da trama de "Holy Cow"? É uma fábula muito divertida, que alguns críticos definiram como um meio termo entre "Animal Farm" de George Orwell e "A Fuga das Galinhas". Parece literatura infantil, mas não é. Até porque acontece de tudo nessa viagem desses animais em busca de melhores condições de vida. visando salvar suas peles. Falsificam passaportes, se disfarçam de humanos, roubam um avião para chegar a seus destinos e, em meio a essa aventura absolutamente surreal, aprendem muito sobre si mesmos e sobre a natureza humana.
Para quem não sabe, David Duchovny possuí um título de Mestre em Literatura Inglesa pela Yale University. Apesar de ser marnheiro de primeira viagem, é um escritor surpreendente e imaginativo ao extremo. A maneira como dá voz a cada uma dessas criaturas em fuga é tão engenhosa quanto espirituosa. Logo no início do livro, por exemplo, Elsie nos revela que seu relato está sendo orientado por seu editor, que acha que a história de sua fuga pode render um belo argumento para um filme de animação na Pixar. Não é à toa que partes do romance são escritas em formato de roteiro de cinema.
Sentiram a pegada bizarra da trama de "Holy Cow"? É uma fábula muito divertida, que alguns críticos definiram como um meio termo entre "Animal Farm" de George Orwell e "A Fuga das Galinhas". Parece literatura infantil, mas não é. Até porque acontece de tudo nessa viagem desses animais em busca de melhores condições de vida. visando salvar suas peles. Falsificam passaportes, se disfarçam de humanos, roubam um avião para chegar a seus destinos e, em meio a essa aventura absolutamente surreal, aprendem muito sobre si mesmos e sobre a natureza humana.
Para quem não sabe, David Duchovny possuí um título de Mestre em Literatura Inglesa pela Yale University. Apesar de ser marnheiro de primeira viagem, é um escritor surpreendente e imaginativo ao extremo. A maneira como dá voz a cada uma dessas criaturas em fuga é tão engenhosa quanto espirituosa. Logo no início do livro, por exemplo, Elsie nos revela que seu relato está sendo orientado por seu editor, que acha que a história de sua fuga pode render um belo argumento para um filme de animação na Pixar. Não é à toa que partes do romance são escritas em formato de roteiro de cinema.
A meu ver, o mais interessante de "Holy Cow" é justamente seu despreendimento estilístico e temático. Não se trata de um romance sobre Religião, nem sobre Veganismo, e muito menos sobre as questões que norteiam o Oriente Médio. É uma fábula surreal, que se insere sem a menor dificuldade numa literatura com uma tradição muito rica, que promove, de certa forma, uma aproximação entre a "madcap comedy" totalmente fora de controle dos filmes clássicos dos Irmãos Marx e o universo temático das obras clássicas de Lewis Carroll e Roald Dahl.
"Holy Cow" não é literatura de primeiríssima grandeza. Mas é original. E é um romance extremamente divertido. Quem gosta de bizarrices espirituosas, não pode deixar de ler.
HOLY COW - UMA FÁBULA ANIMAL
um romance de David Duchovny
(Editora Record, 2015, 208 páginas)
Tradução: Renata Pentegill
Preço: 35 reais
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