6, The Fort
Helen’s Bay
County Down
Irlanda do Norte
À Vossa Majestade, Carlos II,
Abro, por meio
desta, meu espírito e especialmente revelo, uma vez mais, minha infinita paixão
pelas missivas ao enviar-lhe minhas mais elevadas estimas e saudações à Vossa
Majestade.
Saúdo-o, ó,
Monarca, pela benevolência inestimável da paciência diante de mim nas leituras
corriqueiras de meus endereçamentos postais.
As cartas! Ó, as
cartas! Elas que tanto caíram em desuso e habitam o desprezo de milhares!
Pois o motivo
dessa mensagem, Majestade, é a devida resposta à Vossa indagação quanto ao
andamento das tratativas de possível harmonioso convívio entre os de Portadown,
já que me soa, à distância, Vosso claro conhecimento de que elas se encerraram
de forma bastante inusitada.
O gesto dos
unionistas é cabível e até esperado diante de suas firmezas e certitudes que
impreterivelmente habitam seus espíritos. Afinal, honram a força e o esforço de
William d’Orange, o denodo do Monarca neerlandês, cuja memória do 11 de julho
impregna o ideário inclusive de localidades pacíficas como Cultra, ou aqui em
Baía de Helena, bem como todo o Condado da Baixada.
A constatação,
Majestade, vem da certeza do que se quer, acima de tudo. Ter claro em mente o
que se deseja para a Vida sempre é bom presságio para o sucesso de qualquer
empreitada. Contudo, há mister de se revolucionar o íntimo para o logro de
quaisquer interações.
O gesto sempre
acompanhará as intenções. Um gesto diametralmente contrário àquilo que
realmente se deseja para a Vida produz indivíduos que, sem o menor indício,
agem em alucinante descompasso, transformando, em curtíssimo tempo, o deserto
em mar e o mar em deserto mediante as mais puídas alegações.
A posição dos
republicanos é deveras estranha. Por algum motivo, agem da forma que agem, e
não apresento aqui qualquer objetivo em torno de uma moralidade rasa e
carcomida. É algo que reside muito mais abaixo do verniz exposto nos discursos
apresentados.
Alerto Vossa
Majestade, novamente, que gestos que não acompanham palavras ou tudo aquilo que
se diz é um dos piores cadafalsos para as almas que anseiam por harmonia.
Os republicanos
são capazes de reconhecer a segurança e o regozijo de se viver no Ulster para
queimar o lábaro da mão de Finn MacCool sobre a cruz de São Jorge antes que o
sol se ponha no céu. A disparidade da ação é de arrancar o chão sob os pés, de
roubar a paz, de carbonizar o espírito.
Tal movimento
revela-se tão contrário em seus extremos que qualquer súdito, ciente da
ocorrência, suspeitaria do acobertamento de algo muito mais profundo e
absolutamente inconfessável. Entretanto, Majestade, seria de bom juízo não se
ater aos motivos do sumiço do chão sob pena de se colocar quatro reinos
unificados em certo perigo por conta de uma discordância em Portadown.
Assim,
Majestade, cumpre essa correspondência prover os seguintes aconselhamentos.
O primeiro,
quanto ao entendimento do que se passou. Não é de bom agouro investigar as
filigranas em torno de uma queda por motivos próximos do ilógico. Por vezes,
certos descompassos encontrados podem até possuir suas complexidades, mas a
segurança de um bravo coração não pode ir muito além de uma simples ‘sim, ou de
um simples ‘não’.
O segundo,
quanto à resignação. Por mais que a alma esteja dilacerada, um ‘não’ sempre
será um ‘não’, e nada neste mundo seria capaz de mudar tal fato. É necessário
aceitar a impossibilidade do que for por mais que um dos lados tenha se
esforçado. A aceitação de um pretérito compulsório quando o desejo era
contrário ao unilateralmente imposto é uma das lições ainda a ser aprendida e o
misterioso recomeçar das cinzas para o fortalecimento de um espírito valente. Tremendamente
doloroso, cáustico, lancinante; bem sabemos. Contudo, é preciso perceber a hora
da resignação, quando se chega ao ponto onde não há muito o que possa ser
feito.
Somente um
milagre seria capaz de reverter certos quadros. E certamente tal esperança não
constitui a forma mais consistente para a condução de qualquer coisa.
Outrossim,
reforço meu apoio nesse momento difícil. Manifesto, nesse epílogo, minha
admiração por Vossa Majestade e profunda gratidão pelo gesto largo da
generosidade da leitura dessas parcas linhas.
Saudações,
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
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