A
CHUVA, A NEVE, O OCEANO, OS PRÉDIOS, OS PERSONAGENS: 30 ANOS DEPOIS DO BLADE
RUNNER ORIGINAL, TUDO PERMANECE MÁGICO, QUASE TÓXICO, E DEFINITIVAMENTE
ASFIXIANTE
por
Rui Miguel Tovar (de Lisboa) para NIT
Volta
e meia (que é como quem diz, umas quantas vezes por semana), vou ao YouTube,
escrevo “Blade Runner” e deixo correr uma hora e tal de Vangelis com frases
soltas do filme de 1982. Yup, é isso mesmo: enquanto trabalho, ouço Vangelis
misturado com as vozes de Harrison Ford e Sean Young. Que pan-ca-da. True.
Posto isto, o Blade Runner de Ridley
Scott é claramente um dos meus filmes preferidos. O ambiente de 2019, o estilo
Lucky Luke de Harrison Ford, a música de Vangelis, a chuva miudinha constante,
as piruetas da Daryl Hannah, o emotivo “like tears in rain” do Rutger Hauer, o
picante “is this testing whether I’m a Replicant or a lesbian, Mr Deckard” da
Sean Young. Tudo é sensorial.
Passam-se
35 anos e eis-nos de novo a saltar para um futuro distante, o de 2049.
Perguntas mais que óbvias: o filho do Ronaldo vai dar alguma coisa no futebol?
Aquele programa Danças do Mundo já é Ganzas do Mundo? O concurso da Miss
Universo já foi ganho por alguma representante fora do planeta Terra? Enquanto
as respostas andam perdidas no espaço e no tempo, palmas para Denis Villeneuve.
O realizador franco-canadiano agarra-se ao projeto one-of-a-kind e sai-se com
notável distinção. É uma sequela daqui (e estou neste preciso momento a segurar
o lóbulo da orelha direita com o polegar e o indicador).
O
tempo avança 30 anos e tudo continua nublado, quase tóxico, definitivamente
asfixiante: a chuva, a neve, o oceano, a paisagem, os prédios, os personagens e
os diálogos. Subsiste a dúvida interior do herói sobre a sua condição: humano
ou Replicant? O caminho da verdade é tricky, daí que Ryan Gosling (Officer K)
passa o tempo todo dividido, qual bola de pinball indecisa a bater naqueles
elásticos laterais. Pelo meio, o polícia de Los Angeles vai à procura de
Harrison Ford (Deckard), desaparecido há precisamente 30 anos, para resolver um
dilema que provocará um caos ilimitado na já fragmentada sociedade mundial. O encontro
dos dois é um acontecimento, em tons alaranjados. Há uma épica troca de murros
— um deles atinge Ryan com tanta força que a filmagem é interrompida para
entrar o massagista em campo. Que cena. Literal e metafórico. Sem perder a
compostura, Ryan diz de sua justiça: ‘É uma honra levar um soco do Indiana
Jones”.
Bom,
adiante. Porque isto do Blade Runner 2049
inclui mais substância e encanto com a presença feminina da cubana Ana de Armas
(Joi), um holograma HD a fazer marcação cerrada a K. Um pouco à imagem de Robin
Wright (Joshi, sua superior hierárquica na LAPD) e ainda Sylvia Hoeks (Luv, a
número 2 da empresa Wallace, fabricante de Replicants em massa).
E
o número um dessa estrutura, quem é? Ladies and gentlemen, Jared Leto. Para
interpretar Niander Wallace, um homem de negócios bem sucedido, sem escrúpulos
e cego, usa lentes de contacto especiais e faz-se acompanhar sistematicamente
de David, um deficiente visual. Resultado? “Raramente vi o Harrison Ford”. A
queixa de Leto é cómica. Ou não fosse proferida no Comic-Con em San Diego.
Curiosamente, San Diego faz parte do filme de duas horas e 43 minutos como
porta de entrada para as memórias mais antigas de K, ainda como miúdo de tenra
idade a fugir dos mais velhos com um cavalo de madeira na mão. Memórias reais
ou implementadas num chip? Synchronise watches, já só falta um dia. Até lá, é
viver ainda em 2019.
BLADE
RUNNER SÓ HÁ UM:
O
ORIGINAL E MAIS NENHUM
por
Jorge Mourinha (de Lisboa) para PÚBLICO
Não
vale a pena estar com ilusões nem andar aqui a fazer fosquinhas ao elefante no
meio da sala: Blade Runner não
precisava de uma sequela, é uma obra-prima única e irrepetível e qualquer
tentativa de “projectar” ou “alargar” o seu “universo” é supérflua. Blade Runner 2049 bem se esforça por
respeitar o caderno de encargos que Ridley Scott (aqui produtor) cristalizou em
1982 no filme que, goste-se ou não, se tornou num dos referentes incontornáveis
da ficção-científica moderna. Em seu abono, até o faz com algum vistão (notável
fotografia de Roger Deakins e cenografia de Dennis Gassner); e podemos dar
graças por ver um filme que tem o bom senso de querer dar ao espectador ideias
em que ele fique a remoer — o argumento, co-escrito por Hampton Fancher, um dos
guionistas originais, explora a fundo a ideia do que torna alguém humano, a
linha ténue entre a inteligência natural e a inteligência artificial. Por aí se
percebe também que este Blade Runner 2049
é bicho algo diferente do original: onde Blade
Runner se plasmava numa lógica de film noir futurista, a nova iteração
rapidamente se desvia para uma meditação grave e ponderada sobre a natureza do
humano, que a espaços remete mais para o Inteligência
Artificial de Kubrick-via-Spielberg ou para o seminal anime Ghost in the Shell do que exactamente
para o filme de Scott.
No
papel, 2049 nem sequer se distancia
grandemente do que o seu realizador, o canadiano Denis Villeneuve, fez o ano
passado com A Chegada: uma
peça de ficção-científica adulta, séria, onde o factor humano se recusa a ser
sufocado pela tecnologia nem pelos efeitos visuais. Na prática, no entanto,
2049 fica abaixo dessa história de contacto extra-terrestre. Primeiro, porque a
solenidade quase Nolaniana da sua mise en scène e as múltiplas peripécias que o
argumento acumula sem grande razão estendem desnecessariamente o filme quase às
três horas de duração (o original contentava-se com duas). Depois, porque Amy
Adams era infinitamente melhor do que Ryan Gosling é aqui, com o actor a
assumir um “piloto automático” que parece não ter reparado que o seu agente K,
centro do filme, está a tentar perceber esta coisa da alma, e porque os 15
minutos de tempo de ecrã que Harrison Ford tem atiram Gosling (e o canastro
Jared Leto) para canto sem esforço. E, finalmente e sobretudo, porque o peso
das expectativas de trazer no título Blade
Runner já o condenara à partida. Qualquer que fosse o ângulo de visão, esta
sequela nunca poderia ser, em 2017, o que o original foi em 1982. Não era
preciso ter tentado para o sabermos, mas o simples facto de o ter tentado
resume a ambição e a queda do filme de Denis Villeneuve.
Fosse
este um filme que não tivesse Blade
Runner no título, talvez o estivéssemos a ver de outra maneira, talvez as
suas interrogações ganhassem outro peso. Mas Blade Runner 2049 quis ser a sequela daquele filme, e terá de
carregar esse lastro para o bem e para o mal.
BLADE RUNNER 2049
(Blade
Runner 2019, 2017, minutos)
Direção
Denis
Villeneuve
Roteiro
Hampton Fancher
Michael Green
Michael Green
Produção
Ridley
Scott
Elenco
Harrison
Ford
Ryan
Gosling
Ana
de Armas
Jared
Leto
Mackenzie
Davis
Embora não tenha sido necessário, acho que a sequela cumpre sua função de segurança com a história e revela um pouco sobre Rick Deckard. O novo blade runner filme foi um dos mehores filmes de ficção científica que foi lançado. O filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. No elenco vemos Ryan Gosling e Harrison Ford, dois dos atores mais reconhecidos de Hollywood que fazem uma grande atuação neste filme. Realmente a recomendo.
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