Como todos bem
sabem, essa iletrada Mercearia tem a ver com texto...
... e livros,
por que não?!
As vendas de tal
artigo nesse modesto estabelecimento comercial poderiam estar mais aquecidas.
Contudo (e apesar da crise!), nada que espante brilhante plateia de se
enfronhar no que pensam autoras(es), escritoras(es) e demais operadoras(es) de
tão nobre indústria.
Sunday night at
Guarany Theatre, Mesa 10 da IX Tarrafa Literária, a derradeira! Sob o nome de
“Jornalismo do Agora e do Amanhã” e na batuta sempre esperta do mediador nota
mil-bom papo Vladir Lemos (apresentador do Cartão Verde/TV Cultura), Cynara
Menezes e o eternamente combativo José Trajano (ex-ESPN Brasil) vieram dar os
seus ‘plás’.
Ambos, hoje,
fazem jornalismo fora daquilo que se costumou chamar de “grande mídia” (sob
égides de grandes marcas de empresas jornalísticas renomadas). Nos canais
alternativos atualmente apresentados pela web/internet (como blogs e hubs de
vídeo/TV como o YouTube), os dois consagrados nomes trazem para os holofotes
assuntos e temas que nenhum ‘jornal-nacional-da-vida’ teria colhões de expor.
Cynara Menezes,
magnífica, usou seu inerente talento para apresentar ao público a necessidade
de se ter a “contrapartida”, o ‘outro lado’, as diferentes versões sobre um
mesmo fato, o que naturalmente seria a essência do jornalismo, mas que hoje em
dia passa muito longe disso. Ela sabe, como ninguém, trazer a plateia para
perto quanto à relevância de seu trabalho, a saber: colaborar com as diferentes
facetas da informação para uma consistente ‘formação de opinião’.
Já o Zé
Trajano... com aquela cadência tijucana de elaborar a grande oratória (algo
semelhante à conversa em mesa de bar, regada a muitos risos, humor e cerveja)
continua sentando o relho para cima da babaquice!
Está igual a
vinho: cada vez melhor!
A começar que
ele dá ‘nome-aos-bois’, sem medo de ser feliz e correndo ‘pro’ abraço! Começou
desancando o apresentador do Roda Viva (TV Cultura), Augusto Nunes, que, para
ele, atua como preposto de qualquer ‘barão’ da grande mídia com uma facilidade
e docilidade ímpar neste ‘mundão de meu Deus’.
Afinal, coragem,
ouro e diamantes são quase sempre de difícil aquisição.
É admirável a
coragem do Trajano em certas situações que fariam qualquer um de nós encolher. Certa
feita, quando saíra da editoria do Ilustrada, da Folha de S.Paulo, para o
caderno de esportes, fôra convocado para uma reunião no gabinete do patrão, o
Otávio Frias.
Rega-bofe de
presença, uísque e demais acepipes, onze da noite (pós-horário do fechamento do
jornal). O comunicado do barão Frias: uma suspeitíssima transferência do
diretor de jornal, o lendário jornalista Cláudio Abramo, para a Europa (se eu
não me engano, Paris).
Sabedores das
malícias do ‘regime de exceção’ em curso naquele instante (era época da
Ditadura Militar), tirar do caminho um ‘homem de esquerda’ como Cláudio era um
troço para lá de punitivo. Manobrinha bem suja, mas habilmente mitigada por
Frias.
Até aí, morreu
neves atolado em cuspe. Zé Trajano foi o Zé Trajano de sempre quando do anúncio
do substituto de Abramo: o jornalista Bóris Casoy, um declarado simpatizante do
CCC.
Aí, querido(a)
freguês(a), ‘fodeu o barraco da Dita’! Trajano, em meio aos editores dos demais
cadernos, pediu a palavra para comunicar que estava igualmente ‘puxando o
carro’.
“Mas... Trajano!
Não vai mudar nada no Esporte! Não vai acontecer nada no seu caderno”.
José Trajano
explicou que ele não estava ali só pelo emprego e pelo salário, mas também pelo
prazer de trabalhar e aprender com o mestre Abramo. O sumiço providenciado para
o Cláudio também lhe tolhia certo elã no exercício do ofício e desdobramentos
positivos para a carreira, sem contar que não compactuaria com a tremenda
sacanagem feita contra o seu mestre.
Além disso, a
cereja-do-bolo: ficar sob a tutela de Casoy, declarado simpatizante do CCC,
soava como ‘o início da picada’! Uma roubada sem precedentes...
A hora de
‘entrar’, todos sabem. Mas a hora de ‘sair’, é para poucos.
Esse é o José
Trajano: não abraça certas ‘ideias de jerico’ que rolam por aí, num mundo
imerso em babaquice da pior espécie, onde a humanidade, a cortesia, a lealdade
e a sensibilidade de se ‘vestir a pele do outro(a)’ parecem relegados a
vigésimo plano. Num primeiro momento até soa grosseria da parte dele: uma
observação mais detalhada, daquela com a lupa na mão, e rapidamente se vê que o
respeito ao próximo não confunde ‘beijo roubado’ com ‘beijo à força’.
Nos comentários
finais entre os honrosos membros do público após a ‘derradeira’, entre um gole
de café e outro, verificou-se também que tudo hoje acaba descambando para o
lance da política, ou do “debate político”.
Tremendo engano,
o nosso! Não há “debate político” (e botem aspas nisso!). O que há é a
utilização de um suposto debate político para o ataque vil a desafetos de toda
sorte. Aliás, o trem hoje é encontrar pêlo em ovo como motivo suficiente para
atacar aqueles de quem não gostamos quando a saída seria bem simples: ou se
contrataria um(a) advogado(a), ou os casos de litígio seriam resolvidos no
tapa.
A babaquice:
presente nos relacionamentos, nas ‘baladas’, no ambiente de trabalho, comum na
falta de comportamento humano e generoso do dia-a-dia, de não ter o(a) outro(a)
em alguma consideração antes de uma tomada de decisão; esse açoite, essa
brutalidade de causar a náusea e a vertigem, de pôr em prantos quem não se
deve, de ferir tanto por tão pouco.
Item
abundantemente encontrado comércio afora, mas não comercializado por essa
modesta Mercearia.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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