Thursday, October 12, 2017

VALORES (uma crônica de Marcelo Rayel Correggiari)


Um dos grandes desafios de se tocar uma Mercearia é entender os valores de tudo o que nos cerca.
‘Precificação’ é um exercício quase infernal de se entender, em valores comerciais, o tamanho do trabalho que deu certo item ter chegado ali, bem diante dos nossos olhos.
O ponto nem sempre está no valor de aquisição, mas na manutenção do que foi adquirido... conquistado.
Isso sem contar que o corpo muda, a cabeça também, o que não tinha a menor relevância antes se torna crucial agora... dependendo dos tombos e traumas, os medos se tornam radicais.
O conhecimento de formas diferentes das nossas é de deixar com o cu na mão: está para nascer aquele(a) que, no mínimo, não sente algum ‘friozinho na barriga’ ao longo de uma interação em que ‘o(a) outro(a)’ impreterivelmente soa como ‘certo alguém’ que vem para nos desestabilizar.
Ah, a alteridade...! Não houve qualquer filosofia que deu conta de assunto tão fascinante e, ao mesmo tempo, espinhoso.
Porém, fique tranquilo(a), querido(a) freguês(a): ‘o(a) outro(a)’ (que, para Lacan, não existia) pode até ser um desafio difícil de decifrar, mas você certamente é também uma quimera invencível na vida de alguém.


O convívio: sofisticada arte sedimentada num ‘pós-desastre’ perto do indelével.
O que acaba fazendo das interações futuras uma espécie de vontade ‘aos trancos e barrancos’ para a materialização de valores que antes não existiam. Os dois lados, assim, operam com elementos completamente novos, inusitados, que à primeira vista sempre parecem indissociáveis.
Entra milênio, sai milênio, e a questão em torno do valor parece não avançar sobre algum campo, no mínimo, mais consistente.
Como dito há pouco, a filosofia não deu conta de estabelecer alicerces mais rochosos quando o assunto foi o valor. Quem já passou um ano inteiro debruçado sobre uma estética, por exemplo, como a de Baumgarten, sabe bem o quanto áspero é estabelecer observações quaisquer com algum valor em mente.
As observações (ou considerações!) sobre Estética (como uma disciplina da Filosofia) acabam sempre esbarrando em critérios razoavelmente claudicantes, especialmente quando a matéria cai no embate eterno entre Ética X Estética. A confusão que acontece é complexa e eterna mesmo diante de soluções para lá de simples.
Tudo por conta das considerações necessárias para se entender o porquê certo valor está no mundo. Temperatura, clima, geografia, escolhas, crenças, língua, etnias, organizações sociais, um monte de coisas entram na pauta quando se procura estabelecer algum entendimento sobre o motivo de certo valor ter vindo ao mundo.


O mais delicado sobre as questões em torno do valor: entendê-lo em si, como resultado de experiências prévias, díspares, que cada um possui. Aprender a conviver com essa diferença, permiti-la. A busca de um senso-comum para que os famigerados ‘julgamentos’ não interrompam a fluência de algo que poderia ser muito bom, excelente, para tantas e tantas pessoas.

A isso damos o nome de “boa-vontade”. Sem a boa-vontade, muito pouco vindo da felicidade pode ser experimentado.


Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO

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