Sabemos, bem,
que soa repetitivo: lá pela segunda ou terceira vez, tocar no assunto
novamente. Contudo, essa desavergonhada Mercearia jamais se furtará de, sempre
que possível, lançar-se a esse serviço de utilidade pública.
O bom e velho
alerta: há certas questões na vida do(a) querido(a) freguês(a), essas de grande
incômodo, que, infelizmente, não temos outra coisa a dizer exceto nossos
‘parabéns’. Afinal, permanece assombrosa tal vocação de se deitar na cova
aberta pela própria pessoa.
O grande índice
de que ‘tem gato na tuba’ é quando chegam “... os outros lados da história...”.
Por isso, sempre é bom ouvir todos os lados e todas as considerações em torno
de algo ou alguém.
Se, de repente,
o(a) amado(a) freguês(a) ouve sobre um ‘grande demônio’, alguém muito malvado a
ser combatido(a), é hora de ‘ouvir o(a) vilão(ã)’, “sentar-se no outro lado da
mesa”, a fim de perceber que o lance não é “... beeeeeemmm
assiiiiiiiiiiiiimm...” como se supõe inicialmente.
Os ‘grandes
demônios’ possuem a ‘sua razão de ser’: ao se deparar com os diversos lados da
história, é possível o entendimento de que o ‘demônio’ não é tãããão demônio
assim, e de que a eventual ‘maldade’ apregoada, além de ter um consistente
embasamento, não é uma maldade, mas, sim, a salvação de uma lavoura que caminha
a passos largos em direção a danos irreversíveis.
Mais solitude e
menos festa, mais silêncio e menos polifonia, ouvir sempre, falar... nem tanto:
feito isso, há certas constatações e descobertas que caem no colo.
A saber: quem é
o ‘mocinho’ e o ‘bandido’ da porra toda, ou se os dois lados são ‘os grandes
demônios’, cada um a seu estilo.
Quando algo ‘dá
merda’, é de bom juízo, no mínimo, intuir qual o nível de participação de ambas
as partes no ‘merdelê’ todo da questão abordada. Ainda que um dos lados tenha
80% de responsabilidade no furdunço estabelecido, ainda sobram 20% para o
outro.
Entende-se,
dessa maneira, o silêncio, o afastamento, para que se veja, em perspectiva, com
quem ou o quê estamos lidando.
Para isso, é
preciso ‘aquietar’ o espírito e aqui estaria ‘a arte do barulho’: quem
realmente deseja realizar tarefa tão áspera?! Quem tem coragem para fazê-la,
por em prática esse ‘divisor de águas’, aquilo que diferencia o amador e o
profissional, os meninos dos homens?!
Quem realmente
quer curar a própria mente e a alma para que se obtenha um rumo em direção à
paz, ou à felicidade genuína, contra todas as mediações tópicas ou materiais
que nada mais servem de amenizadores da vida miserável que se tem (ou se
leva)?!
Nem sempre ‘os
monstros’ são de própria lavra: por intermédio de traumas e outras dores, são
colocados em nossas vidas compulsoriamente. São eles os responsáveis de retirar
de nossas vidas a saúde psiquiátrica, psicológica, emocional, de agirmos de
forma quase insana, com critérios completamente descolados da realidade e que
definitivamente nos afastam das coisas boas que surgem em nossas trajetórias.
Os monstros
instalam esses medos, como o de amar, por exemplo. Pelos medos, deixamos de
cumprir ritos, demandas, porque a felicidade é exigente, não pode ser tomada
pelas superficialidades das aparências, por ruídos de celebrações ou pela boa e
velha concupiscência.
A paz e a
felicidade exigem densidade.
Sem a densidade,
tudo se transforma em enfadonha ocupação. O pior: só aumenta o tamanho da dor e
a quantidade de cagadas que se faz na vida.
É fácil
justificar o fim do sonho. É de se admirar quem tem ‘colhão preto’ para bater o
pau na mesa e tê-lo de volta, fazê-lo em conformidade daquilo que realmente se
quer!
Enquanto isso,
um monte de distrações: a conhecida fuga dos espíritos arruinados, encerrados.
Olhem só...
comidinha para os monstros! Que só fazem crescer, tornarem-se gigantes maiores,
prontos para devorar o(a) querido(a) freguês(a) mais e mais, jogando quem desse
recurso lança mão no buraco eterno de um espírito que sangra no costumeiro
sobressalto do desassossego.
É fácil
justificar que “... que não se sonha mais...”, “... que a vida é ‘assim’ ou
‘assado’...”, “... que se é desse jeito e não há nada que se possa fazer...”,
blá, blá, blá, blá, blá! Cadê a coragem de se enfrentar as dores do parto de
uma transformação para melhor?! Cadê?!
Cadê colhão e
ovário para segurar com todas as forças algo que realmente nos traz paz,
harmonia, tranquilidade, que nos faça bem?! Cadê?!
Ou
continuaremos, por conta do medo ou do que for, a manter a vidinha miserável
que se tem sem qualquer exame do que a alma realmente está pedindo, escondidos
nos critérios completamente descolados da realidade?!
A vida costuma
ser ingrata à certa covardia diante das exigências para uma condução sábia dela
por intermédio dos ganhos de densidades. Critérios insustentáveis, que apenas
visam o que há de mais tópico nas aparências e tem o conforto como norte, em
algum ponto, só alimentam o tamanho do mal. São a comida que se dá a esses
monstros, que só crescem, crescem, crescem... e impreterivelmente vivem a
devorar você.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
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