Sunday, December 6, 2015

POEMINHA DE DOMINGO (por Tárik de Souza)


ESTAMENTO
Tárik de Souza 


enterre o sonho 
no Jardim do Meyer 
fuligem de trem 
escarro de cigarro

a placa humana viandante
soldada ao pixe fervente
sob o lusco-fusco
verde-e-rosa do subúrbio
Rio, 40 graus, de Janeiro

Pipa na Alta Tensão
serol nos trilhos
velhos quarando calçadas
purrinha, ladainha
bicho e bilhar

enterre o sonho no Jardim do Meyer
poído no diz-que-não-diz da Repúblicas
atado ao porão dos Governos

de seu (o sonho enterrado)
um pingüim de louça
e a Nossa Senhora
de zinco
em telhado quente




Tárik de Souza Farhat
(Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1946)
é jornalista, crítico musical e poeta.
Filho do escritor e jornalista Emil Farhat,
iniciou sua atividade profissional em 1968
como editor de música da revista Veja.
Trabalhou para a Folha, o Estadão, IstoÉ,
Vogue, Elle, Bizz, Opinião, Pasquim, Som 3,
Playboy e principalmente para o JB.
Fundou e editou em meados dos Anos 70
a revista "Rock A História e a Glória".
Publicou vários livros sobre música
e dois de poemas, menos conhecidos:
"E Esse Nó No Peito" (1978)
e "Autópsia em Corpo Vivo" (1979).
Palavras de Antonio Houaiss sobre ele:
“Seria agora oportuno dizer da sabedoria
com que Tárik de Souza tempera dor e alegria
(de esperança), o coloquial e o solene,
o popular e o erudito, as isotopias consagradas
e as insuspeitáveis, e as euforias, cacofonias,
harmonias, blasfêmias, imperdões e perdão.
Tempo virá em que outros se debruçarão
sobre estes poemas para colher seus cristalemas:
que agora nos baste o imediato recôndito,
sua poesia tão pungente bela.”


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