Saturday, November 19, 2016

CAFÉ E BOM DIA #42


Led Zeppelin nasceu no final dos anos sessenta e em 1970 estava rodando na minha vitrola. Óbvio que tenho tudo deles, embora não seja a banda darling da minha discoteca. Quase cinquenta anos depois leio com prazer Welch buscar no nascedouro a história do grupo que começa com Jimmy Page recomendado por Eric Clapton para substituí-lo no Yardbirds. Já em 1966 Page sonhava em formar uma banda. Tempos depois o sonho se realizou juntando Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones. Interrompi a leitura de um autor francês do século XVIII e saltei para o século XX, contudo foi oportuno. Primeiramente por ter tido a oportunidade de comentar com Valdir Montanari. Valdir escreveu para a revista Bizz, Som Três entre outras, também o primeiro livro no mundo sobre rock progressivo. Visto ter recebido convite para reeditar o livro, planeja com acréscimo, falamos sobre Jeff Beck quando ainda fazia parte dos Yardbirds e a música "Beck's Bolero", tendo Page na guitarra, Nicky Hopkins no piano, John Paul Jones e Keith Moon do The Who que é de certa forma o ponto de partida do progressivo. Welch me ofereceu a oportunidade de visitar o que se passou atrás de cada LP que girou pela minha juventude. "Crime Of Passion", o livro do jornalista Chris Welsh, do saudoso semanário inglês Melody Maker, é encantador, quer pelo texto como pela edição. O tempo passou de repente nas voltas do meu coração.



Passeando pelos jardins do oráculo do século XVIII nascido filho de um notário parisiense e educado por jesuítas resultou num produtivo homem de letras. Poeta, autor de tragédias, obtendo com elas grande sucesso. Veio inspiração para " Cartas Filosóficas " e com essa publicação se viu obrigado a deixar Paris, porém já houvera sido preso em 1717 e em 1726 exilado. Essa expulsão lhe levou para Mme Chatelet e ganhou espaço para vários trabalhos científicos, ensaios e históricos. Em Ferney junto a fronteira com a Suíça continuou produzindo contos, memoriais jurídicos, panfletos filosóficos resultando na consagração. Não há como sintetizar o obra de Voltaire. Sua correspondência monta mais de 13 000 cartas e são de grande importância, pois estudiosos do autor nos oferecem um retrato minucioso do caráter e universo de seus pensamentos através da ampla relação social de Voltaire. Aprecio o sarcasmo, pois tomando a frase de Leibnitz " Tudo vai melhor, no melhor dos mundos " faz do determinismo um dos mais animados romances com personagens inesquecíveis, Pangloss, Cunegonde e Cândido. Meu objetivo de buscar sua visão das artes, sua visão literária, teatro, artes plásticas me conduziu a "Dorval e Eu" que lhe tira da tragédia e passa para o drama burguês, tenta acabar com os caracteres abstratos. Nas artes leio em "Salões Célebres" a defesa da sensibilidade e moral defendendo os quadros de Greuze. É muito pouco para avaliar a mudança do feudalismo para o capitalismo, mas Voltaire é hipnotizante. Muito pouco lido, creio que Zadig, Cândido e o tratado da tolerância ainda sejam, mas Voltaire e muito mais.


O OVO EMPRESTADO
Conto Tradicional Hebreu

Num dia em que os pajens do rei David tomavam refeição juntos, foram-lhes servidos ovos cozidos. Um dos pajens estava mais faminto do que os outros, e consumiu antes a sua parte. Quando os demais começaram a comer, ele ficou com vergonha de estar com o prato vazio, e abordou o colega mais próximo:

— Empreste-me um dos seus ovos.

— Com prazer. Mas desde que você me prometa devolvê-lo, quando eu o solicitar, com todos os rendimentos que ele me teria proporcionado.

O pajem não viu inconveniente em assumir esse compromisso, e aceitou. Pôde então adornar com um ovo a desolada solidão do seu prato. Muito tempo depois, o que havia feito o empréstimo veio cobrá-lo.

— Muito bem — concordou o pajem. — Então eu vou lhe dar um ovo, pois foi este o empréstimo que você me fez.

— Nada disso! Você tem de acrescentar os rendimentos que o meu ovo me daria durante todo esse tempo.

Discutiram, mas não havia meio de chegar a um acordo, pois os cálculos de rendimentos geraram números estratosféricos. Decidiram então apelar para o julgamento do rei David. Quando entravam no palácio, encontraram Salomão, filho do rei, que tinha por costume perguntar sempre o objetivo da visita. Fez a pergunta habitual aos dois jovens, que lhe deram todas as explicações. Salomão então lhes disse:

— Submetam então a vossa querela a meu pai, e depois digam-me qual terá sido a sentença.

Os jovens se apresentaram a David e lhe expuseram o compromisso que havia entre os dois, de devolução do ovo com os rendimentos que teria proporcionado. O compromisso havia sido assumido diante de testemunhas, e foi fácil comprová-lo. Então David sentenciou:

— Assim sendo, a sua obrigação é pagar.

— Nunca me neguei a pagar. O que não concordo é com o volume da dívida que ele me está cobrando.

Dirigindo-se ao credor, David perguntou:

— Quais são as contas que você está fazendo?

— Senhor, no prazo de um ano um ovo produz uma galinha. Essa galinha põe no mínimo vinte ovos, que no fim de um ano se transformam em vinte galinhas. Cada uma delas, por sua vez, põe vinte ovos que geram vinte galinhas, perfazendo quatrocentas. O cálculo se estende a cinco anos, que é o tempo decorrido desde o empréstimo.

— Acho o cálculo bem feito. Neste caso, é isso o que você tem que pagar — disse o rei, dirigindo-se ao devedor.

Saiu dali o pajem decepcionado, vendo que de acordo com esses cálculos os rendimentos se transformaram numa dívida absurda. Na saída, Salomão lhe perguntou:

— Qual foi a sentença do rei?

— Ele disse que tenho de pagar tudo o que o meu companheiro sustenta que lhe devo. Mas nem vejo como o conseguirei, pois a quantia é altíssima.

— Não se desespere por isso. Vou lhe dar um bom conselho, que resolverá o problema.

— Deus o recompense por isso!

— Faça então o seguinte — e deu-lhe então Salomão as orientações sobre como deveria proceder.

No dia seguinte o pajem se pôs à margem de uma estrada muito movimentada, com um prato de favas cozidas na mão. Quando se aproximava um grupo de soldados ou pessoas de importância, ele se punha a escavar a terra, como se estivesse plantando algo. Estranhando essa atitude, muitos perguntavam:

— O que está fazendo aí?

— Quero ver se estas favas cozidas conseguem germinar.

— Você deve estar louco! Onde já se viu favas cozidas germinarem!?

— Nada mais natural.

Seria mais assombroso alguém conseguir obter uma galinha de um ovo cozido. O pajem passou todo o dia dando a mesma resposta a todos que o abordavam. Como era de esperar, logo o fato chegou ao conhecimento do rei David, que entendeu a mensagem e ordenou o comparecimento do pajem à sua presença.

— Quem te sugeriu o que andas fazendo, de semear favas cozidas?

— Por Deus, senhor! Foi o vosso filho Salomão.

David mandou chamar o príncipe, e lhe perguntou:

— Como te ocorreu dar ao pajem esse conselho, que resolve tão bem o problema?

— Como poderia o jovem responder por coisas que se baseiam apenas num disparatado pressuposto? Depois que um ovo é colocado em água fervendo, já não pode ser considerado uma galinha em potencial. Um ovo cozido é tão apto para germinar como uma fava cozida.

Então... David não poderia negar a evidência. Chamou à sua presença os dois contendores, e ordenou ao devedor:

— Devolva ao credor somente um ovo, e tua dívida estará quitada.

Contos Hebreus para saudar um fim de semana menos chuvoso.

CAFÉ E BOM DIA PARA TODOS



Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.

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