Wednesday, January 31, 2018

DE SAMPA AO CAIS (por Flávio Viegas Amoreira)



Já lá se vão 40 anos que vivo duas atmosferas apaixonantes: o planeta Sampa e a terra onde nasci, o mítico porto de Santos. Me sinto um Levi-Strauss percorrendo essa estrada semanalmente nos "Tristes Trópicos", afinal o maior antropólogo do século XX era fissurado nesse trecho da costa e pela Paulicéia. No seu clássico dedica um capítulo inteiro a chegada a Santos e a subida da Serra do Mar entrando por Piratininga. A estação Jabaquara e a Praça dos Andradas de Santos são dois terminais dum mesmo entroncamento para o mundo onde me desdobro epidérmica e poeticamente indo e vindo ....Sampa é de certa forma extensão desse litoral histórico assim como a retroalimentação com a megalópole faz da chamada Baixada espécie de continuidade marítima de Sampa: Malibu, Brighton ou qualquer litoral que desce por uma metrópole. Plínio Marcos fazia essa mesma viagem temporal e geográfica: era um cidadão tanto do Macuco quanto do Copan. Oitenta quilômetros nos separam e quanta enriquecedora mutação entre o Anhangabaú e os contornos de Urubuqueçaba. Bebericar na Augusta e esticar uma cerveja no Gonzaga: que universos lindamente díspares e complementares! Por Santos passaram Hans Staden, o cônsul britânico Richard Burton , num mesmo dia passaram pela barra o bailarino Niijinsky e o escritor maior Borges, para Santos o poeta Neruda dedicou dois lindos poemas..... da mesma forma para Santos escreveram lindos versos Elizabeth Bishop maios poeta norte-americana e nossos bardos Mario de Andrade e Bandeira....Santos tantos! Posso escrever imenso memorialismo só sobre essa travessia, esse rumo, mutação anfíbia de escritor da Praça Benedicto Calixto e Santa Cecília ao poeta noturno embalado em maresia. Subo a muralha com "Paulista" de Eduardo Gudin cantado por Leila Pinheiro, desço ouvindo "Midnight Cowboy" e sigo ao mar do Boqueirão entoando "Wave": que trilha!




Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).

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