Thursday, January 11, 2018

O FILME DA SEMANA TRAZ UM TOUR DE FORCE DE GARY OLDMAN COMO WINSTON CHURCHILL

por Manuel Mann, de Lisboa


Winston Churchill gostava de cinema.

Não só dos filmes cómicos de Chaplin, mas também de melodramas como “Vitória Negra”, com Bette Davis, de grandes produções históricas americanas e inglesas como “E Tudo o Vento Levou” ou “A Batalha de Trafalgar”, com Laurence Olivier no papel de lorde Nelson, e de “westerns”.

Mesmo apesar do seu colossal ego, Churchill não deveria fazer ideia que, no futuro, viria a ser interpretado, no cinema e também na televisão, por alguns dos maiores e mais distintos actores britânicos: Richard Burton, Albert Finney, Michael Gambon, Robert Hardy, Brian Cox, Bob Hoskins ou Timothy West.

E ter-lhe-ia agradado saber que todos esses filmes, telefilmes e séries seriam apologéticos, elogiosos, lisonjeiros, no essencial conformes ao cliché consagrado do “velho buldogue” que teve a coragem de enfrentar Hitler quando o resto da Europa se submetia a ele ou se agachava.


Se queremos encontrar uma visão crítica e contrária à visão admirativa e icónica de Winston Churchill – sobretudo do Winston Churchill no poder durante a II Guerra Mundial — não é no cinema que a devemos procurar, mas nas obras de historiadores e autores como John Charmley, Patrick Buchanan, David Irving ou Peregrine Worsthorne, entre outros.

A demonstrá-lo mais uma vez, e de forma edificante e grandiloquente, está o novo filme sobre Churchill, “O Destino de Uma Nação”, de Joe Wright.

Ele acompanha a sua nomeação para primeiro-ministro, em Maio de 1940, após a demissão de Neville Chamberlain, e os dias em que Churchill (Gary Oldman) teve que remar contra a maré do seu próprio partido, cujos membros mais influentes não o achavam o homem ideal para o lugar face ao avanço Europa adentro da máquina de guerra alemã, enquanto lidava com a evacuação das tropas inglesas de França, amontoadas em Dunquerque.


A fita é uma amálgama empolada e laboriosa de factos históricos, deturpações da realidade, simplificações dramáticas e fantasias absurdas (a certa altura, Wright põe Churchill a sair do carro e, sem comitiva nem segurança, a apanhar o Metro – coisa que nunca fez na sua vida -, onde sonda o povo anónimo sobre se deve discutir a paz com Hitler ou enfrentá-lo e tem uma resposta unânime pelo confronto– isto quando parte considerável da opinião pública britânica, e não só da classe política, torcia o nariz à guerra), ora dando uma no cravo da verdade factual, ora outra na ferradura da sua distorção (por exemplo, o primeiro-ministro não estava sozinho, no Gabinete de Guerra, na sua oposição a uma negociação com a Alemanha).

Se a invenção de uma secretária particular jovem, bonita e sensível (Lily James) se aceita para fins de “humanização” de Churchill, já a promiscuidade entre verdade e ficção no argumento (de Anthony McCarten, que já em “A Teoria de Tudo” tomou liberdades com a vida intima de Stephen Hawking) faz de “O Destino de Uma Nação” um filme pouco fiável, em que o rigor histórico é sacrificado às simplificações do entretenimento de massas.


O estilo rebuscado e bombástico de Joe Wright, que usa e abusa do “ponto de vista de Deus”, quer filme um bombardeamento alemão, quer a Câmara dos Comuns, e recorre a a uma banda sonora a condizer, também não ajuda.


É como se ele nos estivesse constantemente a lembrar, por imagens solenemente iluminadas e notas musicais grandíloquas, que estamos a ver HISTÓRIA feita por UM GRANDE HOMEM, em maiúsculas bem soletradas, no caso de não o percebermos bem.


O DESTINO DE UMA NAÇÃO
(Darkest Hour, 2017, 125 minutos)

Direção
Joe Wright

Roteiro
Anthony McCarten

Elenco
Gary Oldman
Kristen Scott Thomas
Stephen Dillani
Lily James
Ben Mendelsohn

Cotação
em cartaz no Pátio Iporanga 4
e no Cinemark Praiamar Shopping


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