Você já olhou
para alguém e perdeu o ar?!
Se isso ainda
acontece com você, você é um felizardo(a)!
Bem-vindo(a) ao
mundo dos humanos.
Nesse ponto,
discordo do Harari. O menino é um gênio! Vale cada centavo, cada linha! E isso
porque esse (des)apaixonado merceeiro está apenas no primeiro ‘tijolinho’ do
‘trem’, o “Sapiens...”. Tem o “Homo Deus” ainda para enfrentar. Só que ele se
perde na técnica (absoluta, aliás!) e deixa de lado certas ‘sutilezas’ que não
entram no homem “caçador-coletor”, “revoluções agrícolas” e os escambau...!
O (Yuval Noah)
Harari deixa de lado algo primordial numa ciência humana: os, às vezes,
tortuosos (mas saborosíssimos!) caminhos da emoção e do afeto. Esse bicho
inexplicável que foge à toda lógica, linhas de raciocínio, padrões de
pensamento, teorias, teses e, como diria meu amigo Ian (Sansom), “... blá, blá,
blá, blá...”.
Se bem que vamos
dar a mão à palmatória para o historiador israelense: ele explica direitinho
certa mania do ser humano em mediar qualquer traço da existência ou ações
humanas por certas partes específicas do corpo, o que esse (des)assistido
merceeiro costuma chamar de ‘genitalização’.
No caso, Harari
apela para os bonobos: um paralelismo perigosíssimo, mas com algum traço de
realismo. Contudo, formas biológicas ainda não explicaram como é que você
‘perde o ar’, o batimento cardíaco aumenta, o corpo arrepia, as pernas
bambeiam, quando você olha para uma pessoa.
Uma simples
foto... e a emoção aflora.
Lamento, caro
Harari: ‘cê’ perdeu, ‘ladrão’! Casa caiu ‘pr’ocê’, playboy!
Você já olhou
para alguém e perdeu o ar?!
É óbvio que
torcemos para a plenitude. Não há nada melhor do que esse ‘sumiço de ar’
acontecer para ambos os lados. Muito nos entristecemos quando apenas um dos
lados se vê quase sem respiração e não há uma correspondência.
Nem sempre isso
é possível... por inúmeras razões. Gostar (ou amar) não é uma regra exata,
fechada, “... porque eu gosto de você, logo, você gostará de mim...”. Isso não
existe. A coisa beira quase ao ilógico. Além disso, há tantas outras coisas no
meio do caminho e nem sempre esse “perder o ar” acaba sendo correspondido.
‘Amar a si
próprio(a)’ para ser amado(a), “... saber deixar alguém te amar...”, medos
oriundos de traumas quase intransponíveis,... até mesmo questões energéticas
(da energia vital da pessoa) entram na questão e a correspondência não
acontece. É triste, sabemos! Dói muito, dói de sair sangue quando dessa
ausência. Porém, há de se ter certo entendimento que, por mais que queiramos,
talvez essa correspondência jamais ocorra.
Muita coisa se
perdeu: perdeu-se a atenção ao afeto, combustível-mestre de qualquer tentativa
de vida amorosa. A boa-vontade, o interesse, a paciência do entendimento.
Perdeu-se o ‘sumiço do ar’ quando se olha para a pessoa, uma forte emoção que
uma simples presença pode proporcionar.
Perdeu-se a
emoção do toque.
O simples toque.
Não qualquer um: aquele que vem de alguém que acabou de perder o ar ao te ver.
Percebam que
tudo isso traz certo peso: é um troço que engorda. Há de se ter uma firmeza de
compromisso consigo próprio(a) para a manutenção de tal chama. Com medo de
sentir dor outra vez, o que faz o ‘bicho-homem’?!
Genitaliza-se a
intimidade, e que todas as demais emoções, percepções das emoções do(a) ente
amado(a), vão às favas.
Na intimidade,
as genitais estão chegando primeiro. Questões como afinidade, sinergia, harmonia,
carinho, acolhimento, amparo, confiança, interação, admiração, entre tantas,
foram quase todas para a lata do lixo.
As genitais
chegam primeiro...
... acabamos
escravos de muito orgasmo, orgasmo, orgasmo... ejaculação, ejaculação,
ejaculação, e se perde o momento de se sentir, literalmente, o sabor da pessoa,
o cheiro da pessoa, a eletricidade naquela pele colada à sua...
... se bobear,
não rolam nem ‘as preliminares’.
Vira uma
prospecção de petróleo: bomba-se, bomba-se, bomba-se sonda adentro e, quem
sabe, com alguma sorte, termina-se a operação com um barril pronto para a
comercialização.
Nem sabemos, ao
certo, se dá para chamar isso de sexo.
De fato,
transamos com as genitais, sim. Mas não somente com elas...
... perdoem
informar, mas transamos é com o corpo inteiro.
Até a alma entra
na jogada.
As genitais são
a expressão física de um encontro com alguém que, ao olharmos para ele(a), “...
perdemos o ar...”.
Alguém que nos
motiva, nos faz bem, nos emociona, nos move (e vejam que, talvez, nem estejamos
falando de amor!): alguém que desperta em nós uma profusão tranquila de todos
os afetos possíveis.
Acima de tudo,
alguém de nosso genuíno interesse: alguém que faz brotar dentro de nós um
inenarrável prazer de estar ombro-a-ombro, lado-a-lado.
Inexplicável!
Simplesmente, inexplicável... a coisa mais ilógica do mundo.
Mediar carinho,
admiração, prazer e afeto “... s-o-m-e-n-t-e...” com as genitais é a sofrida e
dura realidade de nosso tempo. Soa como “... o início da picada...”.
Os contornos, o
peso, a textura da pele, a temperatura, a respiração, o toque nos fios de
cabelo, o som da voz, a eletricidade, o sabor e o cheiro: somente com essa
mediação (a das genitais), tudo isso se perde.
Ainda que chamem
esse combalido merceeiro de ‘romântico’, ‘ingênuo’, ou o nome que queiram
atribuir: não faço muita questão de perder cada vibração que a pessoa que me
faz ‘perder o ar’ pode me proporcionar.
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