Wednesday, January 31, 2018

QUEM É VOCÊ NA FILA DO PÃO? (por Marcelo Rayel Correggiari)




A descrença desse faminto merceeiro em relação aos rumos da humanidade costuma ter lá seu fundamento...
... uma coisa do tipo: “... veja essa foto!”.
Não que “... uma imagem vale mais do que mil palavras...”. Cascata! Mil palavras, a 3.000 Hertz de frequência vibracional energética, podem movimentar o universo bem mais do que uma simples foto. Entretanto, a iconografia que ilustra a “Mercearia...” dessa semana é real, tem ‘pedigree’, é verossímil e “... dou fé”.
Panificadora Vila Belmiro, na esquina das ruas Guararapes com D. Pedro I. Afixada pelo interior da vitrine dos pães doces, a mensagem ilustrativa dessa semana. Ora, ora, ora... é de se imaginar o ‘bas fond’ que ocasionou a emissão de tal comunicado.
Há exato um ano, descobri, após 46 anos de vida, uma predileção local, santista e, para variar, bem rasteira, por um tal de “... cará-do-meio...”. Hmm... Certo. “Cará-do-meio?!”. “Sabia, não!”. “Cará-do-meio?! ‘Tá’...”.
Graças ao meu querido amigo dos tempos de escola, do Barão do Rio Branco, o André Ruas, soube dessa trincheira ferrenha que o(a) santista cava cidade afora em torno do bendito ‘cará-do-meio’. Mas não é só a escavação do recurso bélico, não, querido(a) freguês(a): bem mais do que isso, é uma disposição de se pegar ‘em armas’, lutar com ‘unhas-e-dentes’ se for o caso!
Yuval Noah Harari, no seu advertido “Sapiens - ...”, solta uma afirmação meio ‘bombástica’ de que a ruína do ‘homo-sapiens’ começou com a revolução agrícola e o abandono da caça-coleta. Vende-se uma ideia bem ficcional de que o homem evoluiu ao dominar os grãos, em especial, os de trigo. “Na-na-ni-na-nina...!”, diz Harari. “Não foi o Homem que ‘escravizou’ os grãos de trigo... pelo contrário! Foram os grãos de trigo que ‘escravizaram’ o Homem”.
Isso porque ele ainda não esteve em Santos, mais precisamente na Panificadora Vila Belmiro.
Uma colega em comum, minha e do André, também “da época do Barão...”, a terapeuta holística Cláudia Blanco, nessa mesma padaria, quase perdeu as estribeiras com uma fila ‘cachorra’ que não andava nem por decreto, tudo por conta de uma inclinação da freguesia bairrista pelos pães franceses (conhecidos em Santos como “média”) mais ‘branquinhos’ em detrimento dos mais ‘escurinhos’.
A Claudinha, uma das sinapses mais rápidas do velho oeste, quando chegou a vez dela, não desperdiçou: “... me vê cinco, por favor... sem preconceito!”, no que foi aplaudida de pé e ruidosamente ovacionada pelas balconistas do referido estabelecimento panificador.
Pois, vejam, meus anjos: depois de um ano, repetindo tema. Falta de criatividade do merceeiro ou como o(a) santista, orgulhoso do chão onde nasceu, apequena a alma e o espírito a passos largos, atendo-se a tudo o que é tópico numa exogenia de causar os mais aterrorizantes calafrios?
“Caridade” e “Liberdade”, pelo jeitão da coisa, ficou no brasão do município. No mais, ...
Povo que não segue de modo algum as súplicas do poeta: “Tudo vale a pena/Quando a alma não é pequena”.
Bom, vamos pôr ordem nessa cizânia: na Panificadora Vila Belmiro, levou dois ‘carás-do-meio’, tem de levar um da ponta... e em múltiplos de três!!!
É... Harari está certo quanto aos grãos de trigo: o Homem é seu escravo. Só não precisaria descer a essas esferas de escrotidão.
É bem cansativo: reflexo de um lugar que te mede de cima a baixo em busca de sinais de uma opulência que costuma vir acompanhada de um vazio que põe tudo a perder.
Vão embora as amizades verdadeiras e construtivas, as paixões de entrar para a história, o amor verdadeiro, de carinho, afeto, cuidado, real e consistente, constante. Valores do ‘ter’ e não do ‘ser’. A materialização do materialismo, do utilitarismo, e sequer os sentimentos são lançados ao mar. Um lugar onde não se chora mais ‘por Amor’, que não se deixa mais inundar por uma Black Science Orchestra e sua “Sunshine” de fazer o coração querer amar, desesperado por barbas-de-lenhador ou “desfilando felicidade” em lugares com frequência vibracional em torno de 350 Hertz sob o testemunho fotográfico de rede social.
Nessa toada, o ‘trem’ escapa da pior forma: beligerância ‘da pesada’ se os carás disponíveis para a venda forem os ‘da ponta’.
A que ponto chegamos! Ou a que ponto se chega quando o prazer de ‘se estar’ com alguém realmente especial, ou ‘ser’ único(a), tem de entrar na fôrma do ‘ter’.
Briga-se muito pelo ‘cará-do-meio’ quando nem mais do famoso tubérculo a porra do pão é feito!
Ou como diz a canção: “(...) Assim caminha a humanidade/A passos de formiga e sem vontade (...)”.
Acho Harari petulante, sem contar muito científico e, logo, bem desumano, às vezes. Mas que o ‘bicho-homem’ é escravo do trigo, assim como de tantas outras coisas, ah... não tem muito o que dizer sobre isso. A esperança desse merceeiro, assim como dessa Mercearia, é quando as pessoas finalmente, como se diz em Belo Horizonte, alcançarão “a prateleira de cima”.
 

Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO



No comments:

Post a Comment