O British Film Institute publicou uma relação de filmes que, em sua análise, são perfeitos para serem assistidos nesta época do ano, no circuito independente e de filmes de arte.
Quando chega o Natal, a maioria dos filmes reprisados tendem a clássicos para lá de conhecidos – e muito sentimentais também – como “A Felicidade Não se Compra” (It’s a Wonderful Life, 1946), “Duas Semanas de Prazer” (Holiday Inn, 1942) e “Natal Branco” (White Christmas, 1954), entre outros. Até mesmo comédias rancorosas como “Papai Noel às Avessas” (Bad Santa, 2003) podem perder sua superfície meio áspera, se assistidas repetidamente.
E as mesmas reprises, ano sim ano não, podem se tornar aborrecidas e, Natal ou não, a vida continua. Acidentes acontecem, assim como discussões. E os jantares em família podem significar uma bem vinda pausa para muitos, mas o Natal também pode ser uma época extremamente solitária para muitos, quando crises financeiras, parentes bêbados ou apenas famílias disfuncionais podem nos levar ao desespero.
Procurando alternativas para a seleção de filmes do período, filmes independentes ou “de arte” podem ser reconfortantes descobertas. Diretores de origens variadas como Whit Stillman (EUA) e Eric Rohmer (França) ambientaram seus filmes durante ou próximos aos feriados de fim de ano, e mesmo assim evitaram firmemente fazer apenas tradicionais filmes de Natal. Stillman estreou na direção com “Metropolitan” (1990), vendendo seu apartamento em Nova York por US$ 50 mil e escolhendo um grupo de desconhecidos para atuar. Rohmer, como era típico entre os diretores da Nouvelle Vague, usou Paris como locação. E “Tangerine” (de Sean Baker, 2015) foi inteiramente filmado com um iPhone, adotando, de maneira moderna, toda a estética do movimento francês do qual Rohmer foi um dos expoentes.
Com seus orçamentos diminutos, muitos realizadores independentes conseguiram dar destaque a personagens que nunca chegariam aos filmes natalinos dos grandes estúdios. Encarando assassinos, sem-tetos e várias outras almas perdidas, o que estes filmes parecem ter em comum é o foco nos menos afortunados nesta temporada tão festiva. Se você está cansado das mesmas reprises, com suas mensagens engrandecedoras – e já assistiu a mais “O Mágico de Oz” do que pode aguentar numa vida toda – vale a pena mergulhar nesta seleção de dez filmes independentes e “natalinos”. Experimente.
“Blast of Silence”
(de Allen Baron, 1961)
Este enxuto e solitário thriller noir apresenta um pistoleiro contratado para executar seu metódico trabalho num dia de Natal. Em apenas 77 minutos, o filme acompanha Baron (ator e diretor) enquanto ele percorre solitário a 5ª Avenida, em Nova York. As vitrines coloridas e luminosas das lojas de departamentos têm sua luz absorvida pela crueza da fotografia em preto e branco do filme – sem falar na perceptível aversão que o protagonista nutre pela própria cidade. Uma profunda voz de barítono (de Lionel Stander) provê uma memorável narração em off ao filme. Niilista e incisiva, ela se torna estranhamente inflamada, contrastando com o errático desfilar do personagem pelo Natal de Manhattan. Apesar dos feriados, há um trabalho a ser feito.
(de Allen Baron, 1961)
Este enxuto e solitário thriller noir apresenta um pistoleiro contratado para executar seu metódico trabalho num dia de Natal. Em apenas 77 minutos, o filme acompanha Baron (ator e diretor) enquanto ele percorre solitário a 5ª Avenida, em Nova York. As vitrines coloridas e luminosas das lojas de departamentos têm sua luz absorvida pela crueza da fotografia em preto e branco do filme – sem falar na perceptível aversão que o protagonista nutre pela própria cidade. Uma profunda voz de barítono (de Lionel Stander) provê uma memorável narração em off ao filme. Niilista e incisiva, ela se torna estranhamente inflamada, contrastando com o errático desfilar do personagem pelo Natal de Manhattan. Apesar dos feriados, há um trabalho a ser feito.
“Minha Noite com Ela”
(de Eric Rohmer, 1969)
O filme de Rohmer é uma obra de arte em termos de insônia, ruminações e conflitos filosóficos. Quando Jean-Louis (Jean-Louis Trintignant), católico praticante, acaba preso numa nevasca na véspera de Natal junto à libertária Maud (Françoise Fabian), uma crise entre amor e fé se instala. Rohmer filma quase que com reverência os dois que discutem e debatem praticamente tudo, do Marxismo ao Catolicismo. E a ambientação na véspera de Natal parece, a princípio, ser apenas tangencial, mas quando Jean-Louis se apega a suas crenças éticas e religiosas – firmemente antagonizado por Maud – uma sensação de confusão e renascimento percorre toda a cena. E o período de solstício de inverno – com as noites mais longas do ano – parece extremamente apropriado para que esta experiência de transformação aconteça.
(de Eric Rohmer, 1969)
O filme de Rohmer é uma obra de arte em termos de insônia, ruminações e conflitos filosóficos. Quando Jean-Louis (Jean-Louis Trintignant), católico praticante, acaba preso numa nevasca na véspera de Natal junto à libertária Maud (Françoise Fabian), uma crise entre amor e fé se instala. Rohmer filma quase que com reverência os dois que discutem e debatem praticamente tudo, do Marxismo ao Catolicismo. E a ambientação na véspera de Natal parece, a princípio, ser apenas tangencial, mas quando Jean-Louis se apega a suas crenças éticas e religiosas – firmemente antagonizado por Maud – uma sensação de confusão e renascimento percorre toda a cena. E o período de solstício de inverno – com as noites mais longas do ano – parece extremamente apropriado para que esta experiência de transformação aconteça.
“Mon Oncle Antoine”
(de Claude Jutra, 1971)
Neste filme canadense de 1971, o diretor Claude Jutra realizou o que talvez seja o mais sombrio filme natalino jamais registrado em celuloide. Ambientado numa empobrecida cidade mineira na década de 1940, o filme trata de um antiquado “armazém de secos e molhados” e um garoto, Benoit, que trabalha ali para seu grosseiro tio. Apesar da linda cena de neve na vitrine da loja, as coisas ali não poderiam sem menos alegres. O garoto e seu tio trabalham paralelamente como agentes funerários e encaram a morte regularmente. Quando eles têm que resolver um problema na véspera de Natal, recuperando um corpo, e acabam se metendo numa “situação” difícil, o adolescente Benoit enfrenta uma perturbadora e reveladora conversa com o tio. O fato da vida do diretor, Claude Jutra, ter sido breve, em função de um precoce diagnóstico de Alzheimer e seu subsequente suicídio, só tende a elevar exponencialmente as trágicas dimensões do que é visto na tela. “Mon Oncle Antoine” apresenta um Natal que é um verdadeiro divisor de águas para um garoto cuja inocência é despedaçada e que tem que enfrentar um crescimento abrupto e inesperado. Descobrir a verdade sobre o Papai Noel é fichinha, comparado com o filme.
(de Claude Jutra, 1971)
Neste filme canadense de 1971, o diretor Claude Jutra realizou o que talvez seja o mais sombrio filme natalino jamais registrado em celuloide. Ambientado numa empobrecida cidade mineira na década de 1940, o filme trata de um antiquado “armazém de secos e molhados” e um garoto, Benoit, que trabalha ali para seu grosseiro tio. Apesar da linda cena de neve na vitrine da loja, as coisas ali não poderiam sem menos alegres. O garoto e seu tio trabalham paralelamente como agentes funerários e encaram a morte regularmente. Quando eles têm que resolver um problema na véspera de Natal, recuperando um corpo, e acabam se metendo numa “situação” difícil, o adolescente Benoit enfrenta uma perturbadora e reveladora conversa com o tio. O fato da vida do diretor, Claude Jutra, ter sido breve, em função de um precoce diagnóstico de Alzheimer e seu subsequente suicídio, só tende a elevar exponencialmente as trágicas dimensões do que é visto na tela. “Mon Oncle Antoine” apresenta um Natal que é um verdadeiro divisor de águas para um garoto cuja inocência é despedaçada e que tem que enfrentar um crescimento abrupto e inesperado. Descobrir a verdade sobre o Papai Noel é fichinha, comparado com o filme.
“Noite do Terror”
(“Black Christmas”, de Bob Clark, 1974)
“Noite do Terror” pertence à série de filmes realizados no começo dos anos 1970, os “slasher films”, famosos pelo padrão tão conhecido de garotas com pouca roupa, nas faculdades, sendo esfaqueadas, vozes sinistras no telefone, e um assassino que está, secretamente, dentro da própria casa. Estrelado por grandes nomes do período como Margot Kidder (de Superman: o Filme, 1978) e Keir Dullea (de 2001: Uma Odisseia no Espaço, 1968), “Noite do Terror” resiste muito bem, apesar do tema. Abrindo com uma enervante versão de “Noite Feliz”, o filme começa com uma festa anual de Natal numa república de estudantes, quando o assassino telefona fazendo assustadores e agressivos comentários – de natureza sexual – para as moças. Filmes de horror ambientados durante as festividades de dezembro não são muito incomuns, mas o filme de Bob Clark é realmente um marco, estabelecendo padrões, tanto para os impulsos subversivos das festividades quanto para toda a arquitetura do gênero “slasher”.
(“Black Christmas”, de Bob Clark, 1974)
“Noite do Terror” pertence à série de filmes realizados no começo dos anos 1970, os “slasher films”, famosos pelo padrão tão conhecido de garotas com pouca roupa, nas faculdades, sendo esfaqueadas, vozes sinistras no telefone, e um assassino que está, secretamente, dentro da própria casa. Estrelado por grandes nomes do período como Margot Kidder (de Superman: o Filme, 1978) e Keir Dullea (de 2001: Uma Odisseia no Espaço, 1968), “Noite do Terror” resiste muito bem, apesar do tema. Abrindo com uma enervante versão de “Noite Feliz”, o filme começa com uma festa anual de Natal numa república de estudantes, quando o assassino telefona fazendo assustadores e agressivos comentários – de natureza sexual – para as moças. Filmes de horror ambientados durante as festividades de dezembro não são muito incomuns, mas o filme de Bob Clark é realmente um marco, estabelecendo padrões, tanto para os impulsos subversivos das festividades quanto para toda a arquitetura do gênero “slasher”.
“Conforto e Prazer”
(de Bill Forsyth, 1984)
Único exemplar escocês desta festiva seleção, “Conforto e Prazer” traz o corrosivo senso de humor de Bill Forsyth à tona. Esta absurda comédia de Natal apresenta um DJ de Glasgow que vê sua vida virar de ponta cabeça durante os feriados de Natal, quando sua namorada o abandona. Dirigindo aleatoriamente pela cidade, ele de repente é pego no meio de uma violenta guerra entre duas famílias italianas de vendedores de sorvete rivais. Ele é então forçado a se safar da situação. Bobo e ingênuo, o filme de Forsyth é menos celebrado que “A Paixão de Gregory” (1980) e “Momento Inesquecível” (1983) - ambos do mesmo autor -, mas a temática concernente ao “pequeno indivíduo” permanece. E não há nada mais “Capra” do que isso.
(de Bill Forsyth, 1984)
Único exemplar escocês desta festiva seleção, “Conforto e Prazer” traz o corrosivo senso de humor de Bill Forsyth à tona. Esta absurda comédia de Natal apresenta um DJ de Glasgow que vê sua vida virar de ponta cabeça durante os feriados de Natal, quando sua namorada o abandona. Dirigindo aleatoriamente pela cidade, ele de repente é pego no meio de uma violenta guerra entre duas famílias italianas de vendedores de sorvete rivais. Ele é então forçado a se safar da situação. Bobo e ingênuo, o filme de Forsyth é menos celebrado que “A Paixão de Gregory” (1980) e “Momento Inesquecível” (1983) - ambos do mesmo autor -, mas a temática concernente ao “pequeno indivíduo” permanece. E não há nada mais “Capra” do que isso.
“Metropolitan”
(de Whit Stillman, 1990)
Um dos mais celebrados filmes independentes dos anos 1990, “Metropolitan”, estreia de Whit Stillman na direção, oferece um raro retrato da época de festas entre debutantes na alta sociedade de Nova York. Estrelado por um elenco de desconhecidos, o filme traz muita conversa entre os jovens – sobre literatura, envolvimentos românticos e, principalmente, sobre a ruína de seu sistema de classes. Recheado de intriga romântica, o filme se passa durante os feriados de fim de ano no Upper West Side de Nova York, com o elenco decorando uma bela árvore de Natal. Há um idealista escritor – à la F. Scott Fitzgerald – como protagonista masculino (Edward Clements), que rapidamente cai de amores por uma das debutantes. Vestidos com os mais caprichados black-ties e soirés possíveis, estes jovens de vinte e poucos anos se digladiam na Nova York que - tanto então como agora – se rende à alta burguesia urbana.
(de Whit Stillman, 1990)
Um dos mais celebrados filmes independentes dos anos 1990, “Metropolitan”, estreia de Whit Stillman na direção, oferece um raro retrato da época de festas entre debutantes na alta sociedade de Nova York. Estrelado por um elenco de desconhecidos, o filme traz muita conversa entre os jovens – sobre literatura, envolvimentos românticos e, principalmente, sobre a ruína de seu sistema de classes. Recheado de intriga romântica, o filme se passa durante os feriados de fim de ano no Upper West Side de Nova York, com o elenco decorando uma bela árvore de Natal. Há um idealista escritor – à la F. Scott Fitzgerald – como protagonista masculino (Edward Clements), que rapidamente cai de amores por uma das debutantes. Vestidos com os mais caprichados black-ties e soirés possíveis, estes jovens de vinte e poucos anos se digladiam na Nova York que - tanto então como agora – se rende à alta burguesia urbana.
“A Sangue Frio”
(The Ice Harvest, de Harold Ramis, 2005)
Quem mais indicado para marcar uma cínica temporada de festas do que John Cusack? Neste quase independente filme de Harold Ramis, sobre um empreendimento criminoso que dá terrivelmente errado, Cusack faz um moralmente dúbio advogado, que trabalha para a Máfia. Na véspera de Natal ele é enrolado num embroglio neo-noir absurdamente complicado, como muitos dos elementos bizarros que fizeram a fama de Ramis. Ele compra presentes para os filhos, rouba US$ 2 milhões, tranca um mafioso no porta-malas de seu carro e visita seus (ex) sogros para as festas, tudo isso num período de 24 horas. Com um cômico Billy Bob Thornton para lá de bêbado, este é um “filme de Natal” em seu ponto mais violento, grotesco e engraçado possível.
(The Ice Harvest, de Harold Ramis, 2005)
Quem mais indicado para marcar uma cínica temporada de festas do que John Cusack? Neste quase independente filme de Harold Ramis, sobre um empreendimento criminoso que dá terrivelmente errado, Cusack faz um moralmente dúbio advogado, que trabalha para a Máfia. Na véspera de Natal ele é enrolado num embroglio neo-noir absurdamente complicado, como muitos dos elementos bizarros que fizeram a fama de Ramis. Ele compra presentes para os filhos, rouba US$ 2 milhões, tranca um mafioso no porta-malas de seu carro e visita seus (ex) sogros para as festas, tudo isso num período de 24 horas. Com um cômico Billy Bob Thornton para lá de bêbado, este é um “filme de Natal” em seu ponto mais violento, grotesco e engraçado possível.
“Um Conto de Natal”
(Un Conte de Nöel, de Arnaud Desplechin, 2008)
Grandes reuniões de família geralmente são pródigas em stress. Tem-se que receber as pessoas, prepara a refeição e tentar evitar que se discuta religião ou política à mesa. Mas, para a desolada família que é o centro do filme de Arnaud Desplechin, que sofreu terríveis doenças e perdas antes de o filme começar, os feriados têm a tendência de se tornarem muito sentimentais. Catherine Deneuve faz uma mulher em estado terminal de sua doença que está graciosamente resignada com seu destino. Ela está cercada por uma grande e bem intencionada família, e todos eles acabam trazendo seus problemas, personalidades e ressentimentos para a mesa (literalmente). A mão leve de Desplechin salva “Um Conto de Natal” da miséria total, mas o filme ainda é excruciante de se assistir, de qualquer forma. Suas cenas carregadas de diálogos – temperados com humor incidental e terrível honestidade – tornam este um filme de Natal para os fortes. É um drama claustrofóbico com a realista força dos mais estranhos jantares familiares.
(Un Conte de Nöel, de Arnaud Desplechin, 2008)
Grandes reuniões de família geralmente são pródigas em stress. Tem-se que receber as pessoas, prepara a refeição e tentar evitar que se discuta religião ou política à mesa. Mas, para a desolada família que é o centro do filme de Arnaud Desplechin, que sofreu terríveis doenças e perdas antes de o filme começar, os feriados têm a tendência de se tornarem muito sentimentais. Catherine Deneuve faz uma mulher em estado terminal de sua doença que está graciosamente resignada com seu destino. Ela está cercada por uma grande e bem intencionada família, e todos eles acabam trazendo seus problemas, personalidades e ressentimentos para a mesa (literalmente). A mão leve de Desplechin salva “Um Conto de Natal” da miséria total, mas o filme ainda é excruciante de se assistir, de qualquer forma. Suas cenas carregadas de diálogos – temperados com humor incidental e terrível honestidade – tornam este um filme de Natal para os fortes. É um drama claustrofóbico com a realista força dos mais estranhos jantares familiares.
"Tangerine"
(de Sean Baker, 2015)
O muito comentado “Tangerine” de Sean Baker é subversivo por si só, em estilo e conteúdo. Foi inteiramente filmado com um iPhone 5S, capturando a vida noturna da baixa Los Angeles numa véspera de Natal. O plot, que se resume ao período de um dia, acompanha as amigas Sin-Dee (Kiki Rodriguez) e Alexandra (Mya Taylor). Elas são duas prostitutas transgênero que acabam atravessando a cidade numa tresloucada busca pelo namorado/cafetão de Sin-Dee. Baker injeta humor, miséria e uma estranha agudeza de percepção, com um elenco quase totalmente de não-atores, tudo isso capturado com surpreendente padrão estético por seu aparelho celular. Em suas desventuras, as duas mulheres esbarram em incontáveis parcelas normalmente não focalizadas da subcultura norte-americana, tornando “Tangerine” quase uma fábula. Por sua “modernidade”, “Tangerine” atinge proporções revolucionárias.
(de Sean Baker, 2015)
O muito comentado “Tangerine” de Sean Baker é subversivo por si só, em estilo e conteúdo. Foi inteiramente filmado com um iPhone 5S, capturando a vida noturna da baixa Los Angeles numa véspera de Natal. O plot, que se resume ao período de um dia, acompanha as amigas Sin-Dee (Kiki Rodriguez) e Alexandra (Mya Taylor). Elas são duas prostitutas transgênero que acabam atravessando a cidade numa tresloucada busca pelo namorado/cafetão de Sin-Dee. Baker injeta humor, miséria e uma estranha agudeza de percepção, com um elenco quase totalmente de não-atores, tudo isso capturado com surpreendente padrão estético por seu aparelho celular. Em suas desventuras, as duas mulheres esbarram em incontáveis parcelas normalmente não focalizadas da subcultura norte-americana, tornando “Tangerine” quase uma fábula. Por sua “modernidade”, “Tangerine” atinge proporções revolucionárias.
“Carol”
(de Todd Haynes, 2015)
Poucas histórias de amor ambientadas no Natal são tão elegantes quanto “Carol”, de Todd Haynes, com seus chiques conjuntos de blusas e casaquinhos, embalagens de presentes e martinis super secos. Este caso de amor ambientado especificamente em meados do século 20 é a antítese do que se pode esperar de um clássico do Natal – a estação dos filmes sobre superação e redenção -, sendo lento, reservado, pleno de silêncios glaciais e olhares perdidos. Quando a sofisticada Carol (Cate Blanchett) pede uma sugestão de presente para a deslocada e jovem vendedora com chapéu de Papai Noel (Rooney Mara), desabrocha um ilícito e mal fadado romance. Elas sucumbem sob seus plácidos exteriores e inflamados pensamentos, enquanto o relacionamento de Carol com seu marido se deteriora e ela tenta manter a custódia do filho pequeno. Antes de se separarem, elas fazem uma breve viagem de final de semana, longe do frio de Nova York. A química é irrefutável, mas a desfecho tende a ser amargo e melancólico, principalmente para Carol. Mas, no fim das contas, um toque de melancolia e saudade perece ser indispensável a qualquer Natal.
(de Todd Haynes, 2015)
Poucas histórias de amor ambientadas no Natal são tão elegantes quanto “Carol”, de Todd Haynes, com seus chiques conjuntos de blusas e casaquinhos, embalagens de presentes e martinis super secos. Este caso de amor ambientado especificamente em meados do século 20 é a antítese do que se pode esperar de um clássico do Natal – a estação dos filmes sobre superação e redenção -, sendo lento, reservado, pleno de silêncios glaciais e olhares perdidos. Quando a sofisticada Carol (Cate Blanchett) pede uma sugestão de presente para a deslocada e jovem vendedora com chapéu de Papai Noel (Rooney Mara), desabrocha um ilícito e mal fadado romance. Elas sucumbem sob seus plácidos exteriores e inflamados pensamentos, enquanto o relacionamento de Carol com seu marido se deteriora e ela tenta manter a custódia do filho pequeno. Antes de se separarem, elas fazem uma breve viagem de final de semana, longe do frio de Nova York. A química é irrefutável, mas a desfecho tende a ser amargo e melancólico, principalmente para Carol. Mas, no fim das contas, um toque de melancolia e saudade perece ser indispensável a qualquer Natal.
Carlos Cirne é crítico de Cinema
e há 14 anos produz diariamente
com o crítico teatral Marcelo Pestana
a newsletter COLUNAS E NOTAS,
de onde o texto acima foi colhido.
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