por Fábio Campos
Cinebiografias são tão comuns no cinema que acabaram virando um subgênero.
Existem diversas maneiras de se apresentar a vida alguém no cinema. A mais comum é aquela cinebiografia didática, cobrindo um longo período da vida do biografado, mostrando fatos que o levaram a realizar algum grande feito, ou que moldaram a sua personalidade, transformando-o naquela celebridade conhecida do grande publico.
Apesar de produzir grandes filmes, temos o limite de pouco mais de duas horas para contar, muitas vezes, uma longa história e, com isso, eliminando as sutilezas do biografado, outras vezes pode simplesmente descambar para a bajulação.
Outro tipo de cinebiografia, cada vez mais utilizado, é concentrar o foco num acontecimento marcante da vida do biografado, mostrando, assim, as suas nuances. Esse tipo de aproximação cabe melhor num filme de duas horas e nos traz um contato inédito com o biografado. Neste caso, normalmente, o biografado já tem uma trajetória bastante conhecida do publico, cabendo ao filme revelar as tais sutilezas que o primeiro modelo deixa de fora.
Como exemplos bem-sucedidos desse modelo temos Frost/Nixon, que nos dá uma visão bem próxima do presidente Nixon numa entrevista logo após a renuncia e, recentemente, Jobs, onde o roteirista Aaron Sorkin concentrou o filme em três eventos da tirados da enorme biografia de Steve Jobs, conseguindo dar uma visão da sua personalidade com mais proximidade. Como o filme foi um fracasso de bilheteria, me parece que o grande publico não gostou da abordagem.
Jackie segue essa segunda linha. Se concentra numa entrevista concedida logo após o assassinato de JFK para nos dar uma visão mais próxima da ex primeira dama. Obviamente, o conteúdo principal da entrevista é o recente assassinato do marido, com isso os fatos são recriados sempre sob a perspectiva de Jackie, com a máxima proximidade do espectador.
O diretor Pablo Larraín nos faz acompanhar de perto a trajetória de uma mulher num mundo imensamente masculino. Daí conseguimos nos comunicar com a personagem, dividindo suas inseguranças, seus dilemas e suas decisões. Com isso é possível ter uma ótima noção da personalidade de Jackie e da pessoa que ela se tornou depois da tragédia.
Um dos grandes méritos do filme é conseguir tratar de um assunto discutido e mostrado quase que a exaustão, de um ponto de vista tão diferente, onde tudo tem um frescor quase inédito, dando uma importante consistência ao filme. A preocupação com que o legado do marido não se perca, é algo comovente, não lembro de ter visto alguém mencionar isso.
Além disso, temos uma atuação magistral de Natalie Portman. A extrema proximidade com a personagem seria arruinada por uma má atuação. Neste caso, ao contrário, acreditamos testemunhar os fatos como se eles houvessem realmente acabado de acontecer.
Para ressaltar as brutais mudanças que os acontecimentos causaram a ela, o filme usa um recurso muito interessante, recriar cenas de um tour que a primeira dama fez pela Casa Branca para a TV, mostrando a insegurança e a ingenuidade daquela época, contrastando com a força e a determinação do período de luto.
Apesar da empatia, o filme nunca cai na bajulação, apresenta um tom quase documental, deixando que formemos nossa própria opinião sobre a personagem, sem nunca impor um ponto vista, algo louvável em cinebiografias.
JACKIE
(2016 - 100 minutos)
Diretor
Pablo Larraín
Roteiro
Noah Oppenheim
Elenco
Natalie Portman
Peter Saasgard
Greta Gerwig
Estreia nos cinemas brasileiros
dia 2 de Março de 2017
Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 50 anos atrás.
desde que nasceu, 50 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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