Thursday, December 22, 2016

NATAL É TEMPO DE FILME-PIPOCA, E CARLOS CIRNE RECOMENDA 2 EM CARTAZ NA CIDADE


SING, UM MUSICAL ENGRAÇADO, EMOCIONANTE E INUSITADO

Num mundo povoado por animais em funções, vidas e atitudes antropomórficas – tema recorrente neste ano, vide “Zootopia” -, Buster Moon (voz de Matthew McConaughey) é um coala proprietário de um teatro decadente que, à beira de perder o imóvel, comprado com muito sacrifício por seu pai, para o banco, resolve montar uma competição de canto, com um prêmio de US$ 1,000 (sim, mil dólares). Só que sua centenária secretária, a salamandra Miss Crawly (voz de Garth Jennings), às voltas com seu olho de vidro, erra e digita US$ 100,000 (cem mil dólares), atraindo centenas de candidatos para os testes.

Depois de uma hilariante maratona de seleção, Buster escolhe: a porquinha/mãe de 25/dona de casa Rosita (voz de Reese Witherspoon); o gorila adolescente Johnny (voz de Taron Egerton); a rebelde porca-espinho Ash (voz de Scarlett Johansson); o rato cover de Sinatra Mike (surpreendente voz de Seth MacFarlane); o porco exibido Gunther (voz de Nick Kroll). E, por vias indiretas, acaba contando também com a elefanta adolescente Meena (voz de Tori Kelly), tímida em excesso.

Lógico que a competição sofre mil revezes e Buster acaba tendo que tentar a sorte pedindo ajuda à avó de seu amigo ovelha Eddie (voz de John C. Reilly), uma diva da ópera (com as vozes de Jennifer Hudson quando jovem, e de Jennifer Saunders quando idosa), Nana Noodleman que, com muita idade, despreza qualquer tipo de diversão popular.

Obviamente, todo o processo é absolutamente catártico para todos os envolvidos, incluindo o público. E se você é fã de programas de competição de canto, tipo “American Idol” ou “The X-Factor”, “Sing” é absolutamente imperdível. Primeiro pela qualidade da produção como um todo – de fotografia a montagem, um show -, e segundo pela qualidade da dublagem original. Não cabe nenhum comentário sobre a dublagem em português, pois assistimos à versão legendada. E esta é brilhante.

A começar pela primeira cena, com uma interpretação de “Golden Slumbers / Carry That Weight”, na voz de Jennifer Hudson, no que talvez seja o melhor arranjo que este clássico dos Beatles (do álbum “Abbey Road”, 1969), já recebeu em sua história, até releituras de Irvin Berlin (“Let’s Face the Music and Dance”), Elton John (“I'm Still Standing”) e Leonard Cohen (“Hallelujah”), numa salada pop de mais de 80 músicas! Impossível destacar o melhor.

Numa época em que as animações são cada vez menos para crianças, e cada vez mais “para todos”, cabe ainda a observação de algumas das milhares de citações à cultura pop contemporânea, como o trio de rãs que rompe, por problemas de ego do vocalista, e o quinteto de cadelinhas akita japonesas que não entendem uma palavra de inglês, mas querem participar de qualquer maneira da competição. Muito engraçado. E também emocionante. E, se puder, assista à dublagem original. Os sotaques, em especial os gorilas ingleses, são um show à parte. Não perca!

SING
(Sing, 2016, 108 minutos)

Direção

Garth Jennings
Christophe Lourdelet

Com as vozes de

Matthew McConaughey
Reese Witherspoon
Seth MacFarlane
Scarlett Johansson
John C. Reilly
Tori Kelly
Taron Egerton
Nick Kroll
Garth Jennings
Jennifer Saunders
Jennifer Hudson



ROGUE ONE - EXCELENTE DIVERSÃO ATÉ PARA OS NÃO INICIADOS NA CULTURA STAR WARS

Assistindo aos primeiro minutos de “Rogue One - Uma História Star Wars”, a primeira reclamação de qualquer fã deve ser: “Cadê os letreiros perspectivados, em direção ao infinito?”. Uma das mais tradicionais marcas da franquia Star Wars, os letreiros não aparecem na abertura deste capítulo. E faz sentido. “Rogue One - Uma História Star Wars” não é a continuação de nenhum dos (agora) sete episódios cronológicos de Star Wars.

Quando em 1977, assistindo a um estranho filme de ficção científica, com elenco e diretor desconhecidos (quase todos pelo menos), presenciamos o nascimento de um dos maiores eventos da história do cinema mundial – que, eventualmente, se expandiu para um sem números de mídias adjacentes -, não poderíamos imaginar estarmos discutindo, quase 40 anos depois, detalhes absolutamente particulares de qualquer personagem da série, assim como suas implicações dentro do complexo universo de histórias que envolvem Star Wars. Pais, filhos e “padrinhos”, ungidos ou não pela “Força”, tornaram-se como que parte da família de qualquer pessoa que se envolva com os filmes e sua mitologia. Não seria Darth Vader o mais temido – ou conhecido, pelo menos – dos vilões do cinema mundial?

Este “Rogue One - Uma História Star Wars” acontece entre os Episódios III e IV da saga, contando uma história que aparecia nos letreiros de abertura do primeiro filme lançado, o agora chamado “Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança” (1977), quando é descrito o roubo, por parte de espiões rebeldes, dos planos de construção da Estrela da Morte, nave / base do Império com força destrutiva capaz de dar cabo de um planeta inteiro – como acontece com o planeta Alderaan, neste mesmo filme.

Em “Rogue One”, Jyn Erso (Felicity Jones, um genérico de Carrie Fisher), jovem soldado da Aliança Rebelde, consegue, com a ajuda de outro piloto, Cassian Andor (Diego Luna), se infiltrar numa base do Império, onde estão guardados os planos de construção da Estrela da Morte, para tentar roubá-los e ajudar os Rebeldes em sua luta. Ela chega a esta informação através de seu pai, Galen Erso (o sempre eficiente Mads Mikkelsen), o criador da Estrela da Morte, de quem foi separada ainda na infância, quando ele foi levado pelo Império para trabalhar em seus laboratórios. Como em qualquer outro capítulo da saga, milhares de personagens, de nomes complicadíssimos, para resolver uma simples questão: a luta do Bem contra o Mal.

O que parece, a princípio, um capítulo caça-níqueis na entressafra dos capítulos VII e VIII (que deve estrear em dezembro de 2017), “Rogue One - Uma História Star Wars” é, na realidade, um daqueles pocket books que a gente devora avidamente durante uma viagem de trem ou avião, porque conhece todas as premissas estruturais, mesmo tendo acabado de ser apresentados aos personagens principais. Sim, porque entre os secundários, há uma série de pequenas participações (ou citações a) de personagens ou eventos de outros capítulos da franquia, que fazem o deleite de fãs mais observadores.

Justamente aí é que reside o charme de “Rogue One”: uma história conhecida, sem novidades, personagens facilmente identificáveis, diálogos de autoajuda e superação sofríveis (outro fator presente em todos os episódios), cenas de ação de tirar o fôlego, que remetem diretamente ao melhor filme da franquia, “O Império Contra-Ataca” (Episódio V, 1980), além de um androide desbocado e de pavio curto – um dos melhores até hoje – “K-2SO”, responsável pela linha de diálogo que está presente em todos os filmes da série, “I have a bad feeling about this” (“tenho um mau pressentimento sobre isso”, livremente) e, é claro, Darth Vader, na voz (e respiração) do insuperável James Earl Jones!

A destacar, além da fotografia de Greig Fraser, que emula lindamente “O Império Contra-Ataca”, e a agilíssima montagem de John Gilroy, Colin Goudie e Jabez Olssen, o assombroso trabalho de CGI (fundamental, sempre, nesta série), que devolve à vida o saudoso Peter Cushing (1913-1994), na pele de Moff Tarkin. A Princesa Leia já não teve tanta sorte.

Diversão pipoca, digna representante do universo Star Wars, dirigida pelo especialista em efeitos visuais Gareth Edwards (de “Godzilla”, 2014), “Rogue One - Uma História Star Wars” inaugura um filão inesgotável de tramas paralelas, já tão bem explorado em livros e comics, e que agora chega também aos filmes. Imprescindível para os fãs, resulta também em excelente diversão para os não iniciados. Não perca!

ROGUE ONE
(Rogue One, 2016, 134 minutos)

Direção
Gareth Edwards

Elenco
Felicity Jones
Diego Luna
Alan Tudyk
Donnie Yen
Wen Jiang
Ben Mendelsohn
Forest Whitaker
Riz Ahmed
Mads Mikkelsen
Jimmy Smits
James Earl Jones


Carlos Cirne é crítico de Cinema
e há 14 anos produz diariamente
com o crítico teatral Marcelo Pestana
a newsletter COLUNAS E NOTAS,
de onde o texto acima foi colhido.





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