1. BLACK STAR (David Bowie)
Em seu disco de despedida, David Bowie convida o ouvinte para um mergulho na noite da alma. Nele, tudo soa estranhamente confortável e familiar. Ecos dos anos 70 saltam aos ouvidos o tempo todo. Tudo é de uma urgência impressionante. Nesse sentido, lembra um pouco "Station to Station", que foi gravado numa época em que ele vivia no limite, num flerte aberto com a morte -- que ele reverteu de forma brilhante ao longo da série incomparável de álbuns "Low", "Heroes", "Lodger" e "Scary Monsters". Apesar das muitas semelhanças musicais com alguns momentos mais densos de seu disco anterior, "The Next Day" (2013), que abria janelas tanto para seu passado quanto para seu futuro, "Blackstar" não é plural, e nem pretende abrir janela nenhuma para lugar algum. Funciona como um trem fantasma que vaga pela noite, contrapondo o passado à frente do futuro, e vice-versa. Sempre mantendo o imaginário a serviço da realidade, sem perder tempo correndo atrás do sentido da vida, pois não há tempo para isso.
Em seu disco de despedida, David Bowie convida o ouvinte para um mergulho na noite da alma. Nele, tudo soa estranhamente confortável e familiar. Ecos dos anos 70 saltam aos ouvidos o tempo todo. Tudo é de uma urgência impressionante. Nesse sentido, lembra um pouco "Station to Station", que foi gravado numa época em que ele vivia no limite, num flerte aberto com a morte -- que ele reverteu de forma brilhante ao longo da série incomparável de álbuns "Low", "Heroes", "Lodger" e "Scary Monsters". Apesar das muitas semelhanças musicais com alguns momentos mais densos de seu disco anterior, "The Next Day" (2013), que abria janelas tanto para seu passado quanto para seu futuro, "Blackstar" não é plural, e nem pretende abrir janela nenhuma para lugar algum. Funciona como um trem fantasma que vaga pela noite, contrapondo o passado à frente do futuro, e vice-versa. Sempre mantendo o imaginário a serviço da realidade, sem perder tempo correndo atrás do sentido da vida, pois não há tempo para isso.
2. POST POP DEPRESSION (Iggy Pop & Josh Homme)
Quem diria que duas das figuras mais loucas da cena do rock and roll iriam um dia unir forças num trabalho conjunto? Pois aconteceu: Iggy Pop e Josh Homme entraram no estúdio em Janeiro deste ano -- às próprias custas e ainda sob o impacto do morte de David Bowie -- e gravaram 9 canções cruas e extremamente contundentes compostas em parceria entre os dois e em apenas duas tardes de gravação. O resultado é cru, urgente, e ao mesmo tempo climático. E lembra eventualmente "Lust For Life", que Iggy e Bowie gravaram juntos em 1977, na Alemanha. De todas as homenagens e tributos realizados este ano pela memória de David Bowie, essa aqui é disparado a mais verdadeira e a mais relevante em termos artísticos.
3. BURN SOMETHING BEAUTIFUL (Alejandro Escovedo)
Aos 65 anos de idade, o sempre incansável Alejandro Escovedo continua correndo atrás no novas experiências musicais. Depois de três discos excelentes produzidos pelo lendário Tony Visconti e gravados com a banda do amigo Chuck Prophet, Escovedo uniu forças com Peter Buck (do REM) e Scott McCaughey (do Minus 5) e juntos compuseram as canções de "Burn Something Beautiful". A coisa toda funciona tão bem que dá para sentir claramente em cada canção do disco um pouco da personalidade musical de cada um dos três, tudo devidamente entrelaçado em guitarradas sensacionais e refrões contundentes. Em suma: um disco com espírito de aventura, algo difícil de ver num artista veterano.
4. SHINE A LIGHT (Billy Bragg & Joe Henry)
2016 foi realmente um ano em que muitos artistas apostaram em trabalhos em colaboração. Aqui, temos o príncipe do folk-punk inglês Billy Bragg unindo forças ao multitalentoso guitarrista e produtor americano Joe Henry em releituras delicadíssimas das clássicas canções de estrada que fizeram a fama de Woody Guthrie e tantos outros menestréis errantes. Para entrar no clima das canções, os dois decidiram apostar no inusitado e gravar o disco em plataformas de embarque e salões de estações ferroviárias entre Chicago e Los Angeles. O resultado é absolutamente reverente ao gênero, e ao mesmo tempo aventuresco em termos de produção. Uma ideia brilhante que acabou rendendo um disco delicioso.
5. THE WESTERNER (John Doe)
Desde os tempos do lendário grupo X nos Anos 80, quem segue a obra do ex-punk rocker John Doe está mais do que acostumado com suas idiossincrasias musicais. Mas The Westerner é, sem dúvida, a melhor, mais ousada e mais madura musicalmente delas todas. É um disco sobre o deserto, que alterna guitarradas à moda de Duane Eddy e Dick Dale com rocks e baladas climáticas que remetem aos Doors e, claro, ao X no início de carreira da banda. À primeira audição, pode até parecer que John Doe está fechando um círculo depois de 35 anos de carreira. Ele diz que não. Mas a sensação -- muito agradável -- que fica é essa. Um disco surpreendente.
6. PAGING MR. PROUST (The Jayhawks)
Com mais de 30 anos de carreira oscilando entre o alt-country e o indie-rock, os Jayhawks pareciam no início ser a reencarnação do espírito ousado do grupo Uncle Tupelo, mas acabaram se transformando numa espécie de "versão fim de século" dos country-rockers do Poco. Claro que não há nada de errado ou de indigno nisso, muito pelo contrário. Novamente sem Marc Olson, que já entrou e saiu da banda sabe-se lá quantas vezes, os integrantes remanescentes dos Jayhawks seguem em frente combinando suas preferências musicais, e, mesmo sem grandes pretenções, realizando um disco exemplar. A produção de Peter Buck, do REM, ajudou bastante na hora de colocar todos esses elementos em perspectiva. De resto, as harmonias vocais da banda continuam deliciosas e as canções são todas ótimas.
7. SCHMILCO (Wilco)
O nome do novo disco do Wilco remete ao grande Harry Nillson, que gostava de usar a alcunha Schmillson, e anuncia mudanças muito curiosas na orientação musical da banda. É como se Jeff Tweedy estivesse trazendo para dentro o Wilco um pouco do clima caseiro experimental do disco que gravou ao lado de seu filho dois anos atrás -- que acabou servindo de trilha sonora para o premiadíssimo filme "Childhood", de Richard Linklater. Paralelo a esses experimentos, Tweedy embarca em canções confessionais com um sotaque country que remetem ao início de carreira do Wilco e ao trabalho dele com Jay Farrar no lendário Uncle Tupelo nos Anos 80. O resultado disso é surpreendente. É o Wilco "de volta para casa", só que musicalmente renovado, tematicamente redimensionado, e pronto para voar alto e longe novamente.
8. THE GHOSTS OF HIGHWAY 20 (Lucinda Williams)
Se hoje o termo Americana acabou virando gênero musical, uma das grandes responsáveis por isso foi Lucinda Williams. Ao lado de Lyle Lovett e outros artistas country crossover, ela conseguiu melhor do que ninguém atrair a atenção das plateias de rock para uma série de trabalhos musicais que desafiavam toda e qualquer classificação em meados dos Anos 90. Esse seu novo trabalho é uma colcha de retalhos espetacular, onde Lucinda trafega pelo country, pela soul music e pelos blues em canções poderosíssimas que são a cara dela -- ou seja: passionais, truculentas e inebriantes. Atenção para a releitura sensacional que ela elaborou para Factory, de Bruce Springsteen. Sem exagero, o melhor disco de Lucinda Williams desde o clássico "Car Wheels On A Gravel Road" (1998).
9. SOLID STATES (The Posies)
Outra banda que chega aos 30 anos de carreira com dignidade artística a toda prova. Sempre sob o comando do genial Ken Stringfellow, os Posies tem gravado pouco -- apenas um disco a cada 5 anos --, mas nunca decepcionam, e nunca abrem mão de correr riscos. Nesse novo disco, o power-pop característico da banda flui tranquilamente através de temas agridoces, como divórcios e perdas afetivas. Uma coleção de canções cativante e despretenciosa. Mas vital.
3. BURN SOMETHING BEAUTIFUL (Alejandro Escovedo)
Aos 65 anos de idade, o sempre incansável Alejandro Escovedo continua correndo atrás no novas experiências musicais. Depois de três discos excelentes produzidos pelo lendário Tony Visconti e gravados com a banda do amigo Chuck Prophet, Escovedo uniu forças com Peter Buck (do REM) e Scott McCaughey (do Minus 5) e juntos compuseram as canções de "Burn Something Beautiful". A coisa toda funciona tão bem que dá para sentir claramente em cada canção do disco um pouco da personalidade musical de cada um dos três, tudo devidamente entrelaçado em guitarradas sensacionais e refrões contundentes. Em suma: um disco com espírito de aventura, algo difícil de ver num artista veterano.
4. SHINE A LIGHT (Billy Bragg & Joe Henry)
2016 foi realmente um ano em que muitos artistas apostaram em trabalhos em colaboração. Aqui, temos o príncipe do folk-punk inglês Billy Bragg unindo forças ao multitalentoso guitarrista e produtor americano Joe Henry em releituras delicadíssimas das clássicas canções de estrada que fizeram a fama de Woody Guthrie e tantos outros menestréis errantes. Para entrar no clima das canções, os dois decidiram apostar no inusitado e gravar o disco em plataformas de embarque e salões de estações ferroviárias entre Chicago e Los Angeles. O resultado é absolutamente reverente ao gênero, e ao mesmo tempo aventuresco em termos de produção. Uma ideia brilhante que acabou rendendo um disco delicioso.
5. THE WESTERNER (John Doe)
Desde os tempos do lendário grupo X nos Anos 80, quem segue a obra do ex-punk rocker John Doe está mais do que acostumado com suas idiossincrasias musicais. Mas The Westerner é, sem dúvida, a melhor, mais ousada e mais madura musicalmente delas todas. É um disco sobre o deserto, que alterna guitarradas à moda de Duane Eddy e Dick Dale com rocks e baladas climáticas que remetem aos Doors e, claro, ao X no início de carreira da banda. À primeira audição, pode até parecer que John Doe está fechando um círculo depois de 35 anos de carreira. Ele diz que não. Mas a sensação -- muito agradável -- que fica é essa. Um disco surpreendente.
6. PAGING MR. PROUST (The Jayhawks)
Com mais de 30 anos de carreira oscilando entre o alt-country e o indie-rock, os Jayhawks pareciam no início ser a reencarnação do espírito ousado do grupo Uncle Tupelo, mas acabaram se transformando numa espécie de "versão fim de século" dos country-rockers do Poco. Claro que não há nada de errado ou de indigno nisso, muito pelo contrário. Novamente sem Marc Olson, que já entrou e saiu da banda sabe-se lá quantas vezes, os integrantes remanescentes dos Jayhawks seguem em frente combinando suas preferências musicais, e, mesmo sem grandes pretenções, realizando um disco exemplar. A produção de Peter Buck, do REM, ajudou bastante na hora de colocar todos esses elementos em perspectiva. De resto, as harmonias vocais da banda continuam deliciosas e as canções são todas ótimas.
7. SCHMILCO (Wilco)
O nome do novo disco do Wilco remete ao grande Harry Nillson, que gostava de usar a alcunha Schmillson, e anuncia mudanças muito curiosas na orientação musical da banda. É como se Jeff Tweedy estivesse trazendo para dentro o Wilco um pouco do clima caseiro experimental do disco que gravou ao lado de seu filho dois anos atrás -- que acabou servindo de trilha sonora para o premiadíssimo filme "Childhood", de Richard Linklater. Paralelo a esses experimentos, Tweedy embarca em canções confessionais com um sotaque country que remetem ao início de carreira do Wilco e ao trabalho dele com Jay Farrar no lendário Uncle Tupelo nos Anos 80. O resultado disso é surpreendente. É o Wilco "de volta para casa", só que musicalmente renovado, tematicamente redimensionado, e pronto para voar alto e longe novamente.
8. THE GHOSTS OF HIGHWAY 20 (Lucinda Williams)
Se hoje o termo Americana acabou virando gênero musical, uma das grandes responsáveis por isso foi Lucinda Williams. Ao lado de Lyle Lovett e outros artistas country crossover, ela conseguiu melhor do que ninguém atrair a atenção das plateias de rock para uma série de trabalhos musicais que desafiavam toda e qualquer classificação em meados dos Anos 90. Esse seu novo trabalho é uma colcha de retalhos espetacular, onde Lucinda trafega pelo country, pela soul music e pelos blues em canções poderosíssimas que são a cara dela -- ou seja: passionais, truculentas e inebriantes. Atenção para a releitura sensacional que ela elaborou para Factory, de Bruce Springsteen. Sem exagero, o melhor disco de Lucinda Williams desde o clássico "Car Wheels On A Gravel Road" (1998).
9. SOLID STATES (The Posies)
Outra banda que chega aos 30 anos de carreira com dignidade artística a toda prova. Sempre sob o comando do genial Ken Stringfellow, os Posies tem gravado pouco -- apenas um disco a cada 5 anos --, mas nunca decepcionam, e nunca abrem mão de correr riscos. Nesse novo disco, o power-pop característico da banda flui tranquilamente através de temas agridoces, como divórcios e perdas afetivas. Uma coleção de canções cativante e despretenciosa. Mas vital.
10. THIS GIRL'S IN LOVE - A BACHARACH & DAVID SONGBOOK (Rumer)
Para quem não conhece, Rumer é uma espécie de Karen Carpenter com alma. Ou uma espécie de Adele com estofo musical. Cantora poderosíssima, e de extremo bom gosto na hora de escolher repertório, ela acaba de gravar um tributo a Burt Bacharach e Hal David que é simplesmente desconcertamente de tão bonito. Desde aquele disco clássico de Ron Isley de 2003, ninguém passeava por esse repertório clássico dos Anos 60 com tamanha propriedade e conhecimento de causa. Se você ainda não conhece os "poderes" de Rumer, não há melhor maneira de começar do que por aqui.
Para quem não conhece, Rumer é uma espécie de Karen Carpenter com alma. Ou uma espécie de Adele com estofo musical. Cantora poderosíssima, e de extremo bom gosto na hora de escolher repertório, ela acaba de gravar um tributo a Burt Bacharach e Hal David que é simplesmente desconcertamente de tão bonito. Desde aquele disco clássico de Ron Isley de 2003, ninguém passeava por esse repertório clássico dos Anos 60 com tamanha propriedade e conhecimento de causa. Se você ainda não conhece os "poderes" de Rumer, não há melhor maneira de começar do que por aqui.
Grande seleção Chico! Tenho os dois primeiros, e realmente são magníficos! Os outros eu não conheço, mas fiquei curioso e vou procurar por aí! Eu também não descartaria Blue & Lonesome, dos Stones, do qual fiquei muito bem surpreso pela qualidade... Grande abraço
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