Thursday, December 15, 2016

RESGATANDO (COM PRAZER) OS CONTOS ERÓTICOS DA REVISTA STATUS NOS ANOS 70


por Chico Marques


Quando eu era adolescente, no início dos Anos 70, meus interesses literários se limitavam a Histórias em Quadrinhos (da Marvel, na época editadas aqui no Brasil pela EBAL - Editora Brasil América, do Rio) e a livros de ficção-científica de autores como Arthur C Clarke e Isaac Asimov, que achava meio chatos na época -- e hoje acho insuportavelmente chatos.

De qualquer maneira, foi através da ficção científica que, pouco a pouco, fui descobrindo as preferências literárias que cultivo até os dias de hoje. Autores como Romain Cary, René Barjavel, Alfred Bester e principalmente Kurt Vonnegut Jr foram excelentes anfitriões literários, e a eles agradeço por muitas e muitas horas de prazer solitário.

Falando em prazer solitário, foi por volta de 1974 que, através das revistas STATUS da Editora 3 e também da PLAYBOY da Editora Abril -- que aqui no Brasil, estranhamente, ganhou outro nome: A REVISTA DO HOMEM --, descobri uma nova modalidade literária até então insuspeita para mim: a literatura erótica.

Desnecessário dizer que foi uma revelação na minha vida.

Enquanto na PLAYBOY os textos literários publicados seguiam o padrão mais classudo da matriz americana, com trechos de romances recém-lançados de grandes autores, aqui no Brasil a STATUS resolveu apostar no gênero Contos Eróticos promovendo concursos e, com isso, revelando novos talentos literários em suas páginas.

Era uma delícia ler aquelas histórias enquanto "rezava para Onan" contemplando as magníficas fotos de musas da época (quase) completamente nuas, como Rose Di Primo, Nídia de Paula, Sandra Brea, Adele Fátima e Nicole Puzzi, clicadas por fotógrafos talentosíssimos como Bubby Costa e Luís Trípoli.    


Então, um belo dia, apareceu na banca da esquina da minha casa um livro grande publicado pela Editora 3, com uma capa vermelho-alaranjada, chamado 60 Contos Eróticos, reunindo os textos classificados em dois concursos da revista Status.

Desnecessário dizer que o livro virou minha leitura de cabeceira.

Li e reli sei lá quantas vezes.

Depois, foram meus dois irmãos que leram e releram até as páginas ficarem completamente grudadas.

E então o livro sumiu.

Recentemente, achei um exemplar dando sopa no website do Sebo do Messias e não resisti: mandei vir.

E veio.

Com ele, vieram também lembranças de toda a minha adolescência.

E, de quebra, alguns insights que não época não me ocorreram claramente, mas, de alguma maneira, ficaram subentendidas: a literatura erótica feminina, em geral, é muito mais poderosa que a literatura erótica masculina.

Não tenho a menor dúvida de que para cada Philip Roth ou Nicholson Baker existem inúmeras sabe-se lá quantas mestras do erotismo.

Tem algumas histórias sensacionais neste livro.

A mais famosa deles talvez é Vereda Tropical, de Pedro Maia Soares, que foi filmada por Joaquim Pedro de Andrade com Claudio Cavalcanti interpretando o homem que só sente prazer fazendo sexo com melancias. Semanalmente ele vai à feira e escolhe a melancia mais atraente. Depois disso, ele carinhosamente a leva para casa, fica completamente nu, com uma faca abre um talho na casca dela em formato de vagina e a penetra incansavelmente. E sai plenamente satisfeito. Ao menos, até a semana seguinte.     

Lembro de um outro conto intitulado Weekend com Liv Ullmann, de Sílvio Cruz. Liv era linda, e eu a conhecia de Gritos e Sussurros e Cenas de Um Casamento, filmes de Ingmar Bergman que vi em matinés aqui em Santos e achei chatíssimos na época -- mas suportei por conta das cenas de nudez da loira sueca em questão. Coisas de adolescente, que conseguia ter tesão até vendo fotos de índias de tetas caídas. O conto em questão é tão bom que acabou servindo de apêndice para que, mais adiante, eu visse filmes de Ingmar Bergman e conseguisse entrar em seu universo temático pela porta da frente. Infelizmente, nunca mais ouvi falar de seu autor.

Tinha ainda A Deusa de Ébano, de Magno Soares: uma história deliciosa em que uma neguinha assanhada de 13 anos de idade come impiedosamente um menino de 8. Lembro que, na época, não conseguia entender como uma menina de 13 seria capaz de fazer um menino de 8 funcionar. Hoje, vendo as coisas que vejo diariamente na Rede Pública de Ensino, nada mais me espanta.

Enfim: reler 60 Contos Eróticos sem a pressa libidinosa da adolescência -- sem a preocupação de fazer dele inspiração para sessões de masturbação -- tem sido um prazer imenso. Que recomendo a todos vocês, homens e mulheres apreciadores do gênero. São textos que na época eram provocantes e polêmicos, mas que, lidos hoje, 40 anos depois de terem sido escritos, soam delicados e perenes.

Acreditem: um quinto dos 60 contos contidos neste livro em questão merece a posteridade.

STATUS LITERATURA
60 CONTOS ERÓTICOS
diversos autores
Editora 3
1976
capa dura
a partir de RS 7,00



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