Saturday, May 16, 2015

O COWBOY JUDEU ANARQUISTA QUE REINVENTOU O CINEMA AMERICANO


O grande diretor americano Robert Altman, se estivesse vivo, teria completado 90 anos neste ano.

De "MASH" (1969) para cá, ele injetou no Cinema Americano uma dose cavalar de Anarquia Artística que foi extremamente bem recebido pelo público a princípio. Mas no início da Era Reagan, quando a América embarcou numa nova onda de caretice, Altman foi devidamente escanteado de Hollywood.

Mas não parou, claro. Passou os Anos 1980 repensando saídas artísticas e ensaiando seu retorno triunfal, que aconteceu bem no início dos Anos 1990, com "The Player" e "Short Cuts", seguindo em frente com novos trabalhos ousados e sempre anárquicos, até sair de cena em definitivo no final de 2006, vítima de leucemia.

Os seis filmes de Robert Altman que escolhemos para hoje promovem uma amostragem bem interessante de sua carreira. Todos esses filmes estão disponíveis nas estantes da Paradiso Videolocadora.

M.A.S.H.
(M.A.S.H., 1970, Donald Sutherland, Elliott Gould, Robert Duvall, Sally Kellerman)
Acompanhe as desventuras de Hawkeye Pierce (Sutherland) e Trapper John McIntire (Gould) pelas unidades médicas M.A.S.H. espalhadas pela Coréia durante a Guerra e divirta-se com as bebedeiras, as festas intermináveis, as partidas de golf no front e a celeração dos valores americanos em meio a cirurgias improvisadas que salvam vidas de soldados americanos em pedaços. Uma das maiores comédias de humor negro da história do cinema e um marco na comédia americana. Virou uma série de TV de enorme sucesso, que permaneceu em produção por mais de 10 anos. Em DVD (116 minutos)
CERIMÔNIA DE CASAMENTO
(A Wedding, 1977, Vittorio Gasman, Lillian Gish, Lauren Hutton, Carol Burnett, Geraldine Chaplin)
Os convidados ainda nem chegaram, e as confusões na suntuosa Mansão Corelli, num subúrbio de Chicago, parecem não acabar: a morte súbita avó num dos quartos da casa, a tentativa de traição conjugal da mãe da noiva, as safadezas do médico da família, o bispo gagá se atrapalhando durante a cerimônia e até mesmo a prima comunista que gosta de posar nua diante das pinturas com operários cubanos que cria. Uma das empreitadas mais ambiciosas de Altman, onde reúne um elenco gigantesco para debochar em grande estilo, com seu senso de humor corrosivo, da mais discutível das instituições da civilização judaico-cristã. Vittorio Gassman está maravilhoso. Carol Burnett também. Aliás, todos estão. Altman, principalmente. Um dos melhores filmes americanos dos Anos 1970. Em DVD (125 minutos)
O JOGADOR
(The Player, 1992, Tim Robbins, Gretta Scacchi, Peter Gallagher, Lyle Lovett)
Vencedor de prêmios em vários festivais inclusive Cannes e o Globo de Ouro (Melhor Filme e Ator) , "O Jogador" é o flagrante que Altman queria dar na Hollywood yuppie e careta que o descartara no início dos 1980.  Tim Robbins é o executivo de um grande estúdio cinematográfico que está sendo atormentado por uma recente enxurrada de fracassos e rumores da iminente contratação de um executivo rival. Além disso vem recebendo uma série de ameaças de morte. Quando ele acidentalmente mata um roteirista, tem que responder a uma investigação policial ao mesmo tempo que joga com os sutis interesses da empresa e se envolve com a bela mulher do roteirista que matou. Altman mostra, com muito humor e sagacidade, a que ponto os executivos de Hollywood pode chegar com suas posturas anti-éticas e amorais. O filme tem a participação de vários astros como Bruce Willis, Cher, Susan Sarandon, Anjelica Huston, Burt Reynolds, Nick Nolte e Julia Roberts, entre vários outros. Todos trabalhando pelo piso da tabela do Sindicato, só pelo prazer de trabalhar com o genial Robert Altman, que jamais teria como pagar seus salários milionários. Em DVD (126 minutos)
SHORT CUTS
(Short Cuts, 1993, Robert Downey, Julianne Moore, Tom Waits, Lily Tomlin, Andie MacDowell)
Diz a lenda que Altman estava voltando de um Festival de Cinema na Europa e, no avião, começou a ler um livro de contos de Raymond Carver. Começou a vislumbrar como intercalar algumas daquelas histórias e fazer delas um filme de quase 3 horas de duração. E fez esse fabuloso e assustador painel da Los Angeles atual a partir do atropelamento de uma criança, filha de um apresentador de TV. Casais que não se entendem, pais e filhos que não se comunicam e amantes que não conseguem se integrar pontuam essa Los Angeles disfuncional de Altman, e resultam em um de seus filmes mais grandiosos e bem resolvidos. Um dos maiores filmes, americanos ou não, de toda a Década de 1990. Em DVD (187 minutos)
PRET-A-PORTER
(Pret-a-Porter, 1994, Marcello Mastroianni, Sophia Loren, Julia Roberts, Tim Robbins)
Um panorama cruel sobre a frivolidade da Indústria da Moda em Paris, Um repórter se divide entre a cobertura do evento e o assassinato de um executivo do ramo. Mas envolve-se com uma jornalista da Fashion TV completamente cretina. Paralelo a isso, dois ícones de outras épocas -- a modelo Loren e o empresário Mastroianni, ambos aposentados -- circulam em meio a esse show de vulgaridades com suas dignidades aparentemente intactas. A cena de sexo entre os dois septuagenários é uma das mais engraçadas da História do Cinema. Com certeza, não o filme mais bem resolvido da filmografia de Altman. Mas é delicioso. Paris está linda. E o final completamente anárquico reduz a pó o Mundo da Moda. Em VHS, inédito em DVD no Brasil (133 minutos)
KANSAS CITY
(Kansas City, 1996, Harry Belafonte, Jennifer Jason Leigh, Miranda Richardson, Dermot Mulroney, Steve Buscemi, Michael Murphy)
Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, é mais um filme painel de Altman com um elenco enorme reunido em Kansas City na década de 30, onde grandes lendas do jazz e mafiosos brancos e negros convivem pacificamente. A trama -- se é que existe uma --, beira o surreal: nas vésperas das eleições, um jovem branco se disfarça de negro para cometer um roubo, mas é identificado e capturado pela quadrilha de um chefão do crime (Belafonte). Para salvar a vida do marido, Blondie, a mulher do ladrão branco, elabora um plano e sequestra a mulher de um influente político local, na esperança de ele concorde em ajudá-la e consigam trocar um pelo outro. Mas com a época é de Eleições, todas as atenções estão voltadas para o pleito, e a vida de nenhum dos dois reféns é tão importante do que o resultado nas urnas. O engraçado é que Michael Tanner faz o político corrupto -- justo ele que, anos antes, havia protagonizado a série de TV "Tanner 88", dirigida por Altman num tom semi-documental fake, sobre um senador democrata em campanha pela presidência dos Estados Unidos. Um filme delicioso, com uma trilha sonora exuberante. Em DVD (158 minutos)
A FORTUNA DE COOKIE
(Cookie's Fortune, 1999, Patricia Neal, Glenn Close, Julianne Moore, Liv Tyler, Ned Beatty)
Nada acontece em Holly Springs, uma pequena cidade do Mississippi onde as pessoas vivem no final do século 20 como se estivessem no Século passado. Cada um não só conhece o seu vizinho como respeita seus segredos e suas pequenas loucuras como uma forma de cortesia, algo que só quem é sulista é capaz de entender perfeitamente. Jewel Mae Orcutt (Patricia Neal), que todos conhecem como Cookie, é uma das mais ilustres e idosas representantes desta comunidade. Excêntrica por excelência, ela vive em um solar entulhado por lembranças que lhe foram dadas por Buck, seu finado marido. As saudades são tantas que Cookie comete suicídio -- uma cena magnífica, o único suicídio engraçado da Cultura para Holly Springs encenando uma versão amadora de "Salomé", de Oscar Wilde. Apesar de se dizer intelectualizada, Camille não admite um suicídio na família, e tenta encobrir as pistas que levem a tal conclusão. Ela não imagina que está cometendo o maior erro da sua vida. Um dos melhores filmes da fase final de Altman e uma comédia impagável. Em DVD (118 minutos)
DOUTOR T E AS MULHERES
(Dr. T, 2000, Richard Gere, Helen Hunt, Farrah Fawcett, Laura Dern, Liv Tyler, Kate Hudson)
Dr. Sullivan Travis é um ginecologista de prestígio de Dallas, Texas, rodeado de muitas que ele julga conhecer profundamente, mas que, pouco a pouco, o levarão à loucura. Em seu Consultório, enfrenta diariamente um ritmo alucinante de pacientes pacientes surtadas na sala de espera. Já em casa, sua mulher enlouquece, e , numa visita a um Shopping Center com as sobrinhas, decide tomar banho nua numa fonte luminosa (curiosamente, diante de uma loja da Rede Godiva). Doutor T -- de Texas, Estado do antagonista favorito de Altman, George W Bush -- esfria a cabeça jogando golf, onde acaba se apaixonando por uma instrutora independente, determinada e aparentementre descomplicada. Mas sabe ele onde está estacionando sua ambulância... Um filme engraçadíssimo, com um elenco enorme e estelar, que a maioria das mulheres costuma odiar, e que poderia ter como subtítulo "Toda Misoginia Será Perdoada". Uma comédia sensacional! Em DVD (121 minutos)
GOSFORD PARK
(Gosford Park, 2001, Maggie Smith, Alan Bates)
Pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Gosford Park é a magnífica casa de campo em que Sir William McCordle (Michael Gambon) e sua esposa, Lady Sylvia (Kristin Scott Thomas), recebem amigos e conhecidos para uma festa em grande estilo. A lista de convidados é eclética: inclui uma condessa, um herói da I Guerra Mundial, o astro de cinema inglês (Jeremy Northam) e um produtor de cinema americano. Enquanto os convidados se instalam nos quartos no andar de cima da casa, os criados pessoais de cada um juntam-se ao quadro de serviçais da casa, amontoando-se nas cozinhas e corredores sob as escadas. Mas nem tudo é o que parece: nem no que diz respeito aos anfitriões e convidados, todos enfeitados de jóias, nem no que se refere aos quartos do sótão e às funções dos empregados para manter o conforto de seus patrões e onde ouvem muito mais do que deveriam e bem mais do que ousariam admitir. Para piorar, Sir William é assassinado em seu quarto: primeiro por envenenamento, e depois apunhalado. Altman sempre quis fazer um filme de mistério clássico inglês, mas fora dos padrões, pois queria que as intrincadas relações pessoais viessem em primeiríssimo lugar, e a descoberta (ou não) da identidade do assassino por um detetive tipo Hercule Poirot não tivesse a menor importância. Foi plenamente bem sucedido em termos artísticos. O filme foi um grande sucesso de bilheteria, e ajudou a viabilizar a projeto da série de TV inglesa "Downton Abbey". Só não ganhou os Oscars daquele ano por criticar abertamente em entrevistas a postura de George W. Bush na Guerra contra o Iraque. Em DVD (187 minutos)
A ÚLTIMA NOITE
(A Prairie Home Companion, 2007, Kevin Kline, Meryl Streep, Lily Tomlin, Woody Harrelson)
O filme derradeiro de Altman é uma surpreendente homenagem a um show de rádio de country music que permeneceu no ar semanalmente por mais de 50 anos, mas está prestes a acabar. Não é fake, pois seu tradicional anfitrião Garrison Kellar, que não é ator, encabeça o elenco do filme. Trata-se de um documentário que é apresentado por um meio-detetive, meio-anjo chamado Guy Noir (Kline) que, em princípio, está alí para esclarecer uma morte que ainda não aconteceu -- a do próprio diretor Altman, que estava muito mal de saúde, e rodou o filme sentado numa cadeira de rodas, com um balão de oxigênio de um lado e seu discípulo Paul Thomas Anderson do outro, passando as orientações de Altman à equipe. As apresentações musicais que surgem na tela são feitas por atores incorporando cantores country, que fornecem depoimentos reveladores ao documentarista. Um dos filmes mais originais e inclassificáveis da carreira de Robert Altman. Um encerramento com chave de ouro para uma vida inteiramente dedicada a reinventar o cinema americano. Que artista enorme foi Robert Altman! Em DVD (106 minutos)


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Boqueirão - Santos SP
(13) 3235-8135
Delivery de DVDs e Blu-Rays de Segunda a Sexta das 19 às 21 horas 



 

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