Thursday, August 13, 2015

"MISSÃO IMPOSSÍVEL: NAÇÃO SECRETA" BRILHA COMO O FILME-PIPOCA DA SEMANA

por Chico Marques

Eu gostava muito de ver MISSÃO IMPOSSÍVEL na TV nos Anos 60 e 70, quando eu era garoto. Foi exibido primeiro na saudosa TV Excelsior, e depois na TV Record. Peter Graves e Martin Landau eram sensacionais como os agentes do Esquadrão Especial MIF, que tinha ainda no grupo Greg Morris, Peter Lupus e Barbara Bain. Quando Martin Landau deixou a série, foi substituído por Leonard Nimoy, e tudo ficou melhor ainda. E então a insossa Barbara Bain saiu, dando lugar à morena estonteante Lesley Ann Warren, mulherão que rapidamente se transformou numa espécie de "farol" para minha pré-adolescência.

 A série de TV "Missão Impossível" teve sete temporadas entre 1966 e 1973, até que, devido ao desinteresse do público, foi cancelada pela NBC-TV. Mas no final dos Anos 70, em meio a uma daquelas greves de roteiristas que vira e mexe assolam a Indústria do Entretenimento filmado, ela voltou para reaproveitar velhos spripts não-filmados, trazendo Peter Graves novamente à frente do elenco, agora composto por atores mais jovens. Entre 1988 e 1990 foram ao ar novos 35 episódios da velha série, até ser cancelada novamente. 

Como os tempos mudaram muito nos 49 anos que nos separam do dia em que foui ao ar o primeiro episódio de "Missão Impossível", é natural que o público mais jovem que assiste hoje os velhos episódios da série reclame do ritmo das histórias. Li em um forum sobre a série alguém alegando que a série ficou velha porque é esquemática, cerebral, sem ação e gelada. Eu até concordo. O que o cidadão que redigiu o comentário não entende, e talvez jamais vá entender, é que o charme de "Missão Impossível" residia justamente nessa coisa cerebral e gelada, que, combinada, gerava um efeito eletrizante. Seguia a cartilha dos "thrillers" clássicos, em que a ação é sempre muito mais interna que externa.


Quando "Missão Impossível" foi levado ao cinema pela primeira vez por Brian DePalma em 1996, muitas dessas características originais foram respeitadas. O filme trazia sequências altamente tensas e climáticas, dentro do espírito clássico da série, pontuadas por cenas de ação sob medida para agradar ao público mais jovem. 

Mas do segundo filme em diante, tudo isso se perdeu. John Woo transformou "Missão Impossível" em um videoclip violento, sentimentalóide, vingativo e totalmente descaracterizado. 

J J Abrams bem que tentou colocar "Missão Impossível" mais ou menos de volta no esquadro original no terceiro filme da série, e até foi bem sucedido, mas infelizmente muito da magia havia se perdido e não tinha como ser resgatada. Não com Tom Cruise produzindo a série e ocupando o papel principal. 

No quarto filme, "O Protocolo Fantasma", no entanto, alguma coisa aconteceu. O toque de humor trazido por Benji, personagem de Simon Pegg, trouxe à série um novo alento e a salvou da mesmice na qual havia mergulhado. De repente, a canastrice de Cruise conseguiu ficar inserida num contexto mais amplo. Finalmente foi possível assistir a um filme da série sem se irritar com os excessos e com o resrespeito ao conceito original do criador da série Bruce Geller.


Pois bem: estreia nessa quinta o quinto filme da série "Missão Impossível", novamente com Tom Cruise como o agente Ethan Hunt e Simon Pegg como Benji.

 O nome é "MI: Nação Secreta", e o cenário é desolador, pois o Esquadrão MIF do qual os dois faziam parte foi dissolvido, e todos os espiões que restaram soltos por aí estão sendo caçados por mercenários de um grupo chamado O Sindicato -- que a CIA não leva muito a sério, mas o sabichão Ethan Hunt sabe ser muito mais perigoso do que aparenta ser.

Pausa para reflexão: se tem um negócio que é sempre muito chato na série "MI" com Tom Cruise é que Ethan, misteriosamente, sempre sabe mais que seus superiores, que estão há anos monitorando a vida de seus adversários. Vinganças pessoais, que não existiriam jamais na série original, acontecem a torto e a direito nesses filmes recentes. E o conceito original das missões silenciosas da série, que sempre primavam pela sobriedade, viraram coisa de filme de James Bond. Ou seja: jackbauerizaram "Missão Impossível".

A direção de Christopher MacQuarrie, que já tinha trabalhado com Tom Cruise no insosso "Jack Reacher", é eficaz, mas sua escolha parece ser consequência dele ser sido um "yes man" bem ao gosto dos produtores Cruise e J J Abrams. 

O filme tem seu charme. E vai agradar em cheio aos fãs da série. A mim, agradou por outros dois motivos: a lindíssima atriz sueca Rebecca Ferguson, que faz a nada confiável espiã Ilsa Faust, e, claro, Simon Pegg, que volta mais engraçado do que nunca, fornecendo o contraponto necessário para a inexpressividade galopante que tomou conta do personagem de Tom Cruise.

"MI: Nação Secreta" é um filme-pipoca eficaz que pode ser visto sem susto pelo público jovem. Infelizmente, para os mais velhos, vai soar como um redux ridiculamente minúsculo de um universo temático extremamente amplo, como o da série original de TV. 

E é uma pena que tenha que ser assim, mas enfim...


MISSÃO IMPOSSÍVEL: NAÇÃO SECRETA
MI: Rogue Nation
(2015, 131 minutos)

Roteiro e Direção
Christopher MacQuarrie

Produção
Tom Cruise
J J Abrams

Elenco
Tom Cruise
Jeremy Renner
Simon Pegg
Rebecca Ferguson
Alec Baldwin


Em cartaz no Cine Roxy 5 
Cinemark Praiamar Shopping



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