Para
quem não curte envolvimento o Carnaval é um orgasmo! Deixamos o mundo rolar na
folia enquanto seguimos em nossos aposentos lendo, ouvindo o melhor que há e
assistir loucamente todas fitas a espera. Sempre mesmo ritual pré-momístico:
separar romances e biografias, programar o que rola nos Telecines da vida e
pesquisar as melhores rádios de jazz do planeta.
Aprecio
deveras a “Swiss Jazz” que toca sem parar blues, swing e bossa nova da melhor
qualidade. Imagino-me ouvindo Erroll Garner nesse verão atipicamente fresco e
terno da costa paulista onde me exilo gozozamente da turba paulistana. Falando
nisso não é que a maravilhosa Vera Lynn já vai para 101 anos nesse março e
talvez eu seja dos últimos da minha geração de cinqüentões a curtir essa diva
inglesa?! Ah! Vera Lynn que prazeres tu me deste!
Prometi-me
terminar assistir uma fita esquecida com Orson Welles e Claudette Colbert: “O Amanhã
É Eterno” Qualquer filme B dos anos 40 é melhor que outro pipoca da nossa era
superficial. Não podemos nos queixar da falta de obras primas: nesse fevereiro
assisti duas vezes o lindooo! “Me chame pelo seu nome”, que vai muito além de
instrumento estético ao publico gay e que pretendo comentar detalhadamente aqui
nessa prestigiada coluna.
Ando
a reler um clássico que também vai além do tão somente juvenil: “A ilha do
tesouro” de Robert Louis Stevenson que era o livro preferido do meu amado
Lezama Lima, sendo o autor o queridinho do não menos mestre Jorge Luis Borges. Que
atmosfera! Que construção mágica desse romance que só cresce com o tempo.
Parece clichê, mas literalmente viajo! pelas páginas anglo-tropicais do mesmo
escritor de “O médico e o monstro”. São todas essas leituras pré e pós
carnavalescas que nos embalam ouvindo ecos da folia dos salões e passarelas do
samba enquanto transitamos pelos Mares do Sul e cenas da Provence sem arredar
pé da cidade portuária dos canais.
Até
em função desse apaixonante “Me Chame Pelo Seu Nome”, ando ouvir com nostalgia
hits dos anos 80: talvez alguém além desse poeta “entendido” se recorde de
Richard Butler?! Pois é isso: o filme alterna Bach e Richard Butler algo denso
e fofo assim assim... Nessa pegada vintage que tanto me caracteriza o ecletismo
a vós exposto selecionei dois livros comprados nos antológicos alfarrábios
santeses: primeiro um André Gide, meu
autor de cabeceira. Achei a pérola que é seu primeiro livro: “Paludes” em ótimo
estado saído nos anos 70 pela grande editora Civilização Brasileira. Ah! se existe
recomendação que imploro sigam meus leitores atentos é ler, reler, procurar
conhecer André Gide! E finalmente garimpei uma das poucas biografias ou
romances históricos alinhavados por Dominique Fernandez (busquem seus retratos
de Pasolini e Tchaikovsky) que não tinha mergulhado: “A corrida para o abismo”,
um amplo painel da vida e tempo de Caravaggio. Onde deparo série, documentário,
livro eu adquiro sobre Caravaggio. E não é que me deu vontade agora de
re-assistir o clássico de Derek Jarman sobre esse pintor maldito?
O carnaval cult promete e desde já um beijo de
banda bunda e afeto a todos vocês que acompanham minhas linhas tortas e não
menos sinceras.
Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
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