Thursday, February 8, 2018

CARNAVAL DE LETRAS E FITAS (por Flávio Viegas Amoreira)



Para quem não curte envolvimento o Carnaval é um orgasmo! Deixamos o mundo rolar na folia enquanto seguimos em nossos aposentos lendo, ouvindo o melhor que há e assistir loucamente todas fitas a espera. Sempre mesmo ritual pré-momístico: separar romances e biografias, programar o que rola nos Telecines da vida e pesquisar as melhores rádios de jazz do planeta.


Aprecio deveras a “Swiss Jazz” que toca sem parar blues, swing e bossa nova da melhor qualidade. Imagino-me ouvindo Erroll Garner nesse verão atipicamente fresco e terno da costa paulista onde me exilo gozozamente da turba paulistana. Falando nisso não é que a maravilhosa Vera Lynn já vai para 101 anos nesse março e talvez eu seja dos últimos da minha geração de cinqüentões a curtir essa diva inglesa?! Ah! Vera Lynn que prazeres tu me deste!


Prometi-me terminar assistir uma fita esquecida com Orson Welles e Claudette Colbert: “O Amanhã É Eterno” Qualquer filme B dos anos 40 é melhor que outro pipoca da nossa era superficial. Não podemos nos queixar da falta de obras primas: nesse fevereiro assisti duas vezes o lindooo! “Me chame pelo seu nome”, que vai muito além de instrumento estético ao publico gay e que pretendo comentar detalhadamente aqui nessa prestigiada coluna.



Ando a reler um clássico que também vai além do tão somente juvenil: “A ilha do tesouro” de Robert Louis Stevenson que era o livro preferido do meu amado Lezama Lima, sendo o autor o queridinho do não menos mestre Jorge Luis Borges. Que atmosfera! Que construção mágica desse romance que só cresce com o tempo. Parece clichê, mas literalmente viajo! pelas páginas anglo-tropicais do mesmo escritor de “O médico e o monstro”. São todas essas leituras pré e pós carnavalescas que nos embalam ouvindo ecos da folia dos salões e passarelas do samba enquanto transitamos pelos Mares do Sul e cenas da Provence sem arredar pé da cidade portuária dos canais.


Até em função desse apaixonante “Me Chame Pelo Seu Nome”, ando ouvir com nostalgia hits dos anos 80: talvez alguém além desse poeta “entendido” se recorde de Richard Butler?! Pois é isso: o filme alterna Bach e Richard Butler algo denso e fofo assim assim... Nessa pegada vintage que tanto me caracteriza o ecletismo a vós exposto selecionei dois livros comprados nos antológicos alfarrábios santeses:  primeiro um André Gide, meu autor de cabeceira. Achei a pérola que é seu primeiro livro: “Paludes” em ótimo estado saído nos anos 70 pela grande editora Civilização Brasileira. Ah! se existe recomendação que imploro sigam meus leitores atentos é ler, reler, procurar conhecer André Gide! E finalmente garimpei uma das poucas biografias ou romances históricos alinhavados por Dominique Fernandez (busquem seus retratos de Pasolini e Tchaikovsky) que não tinha mergulhado: “A corrida para o abismo”, um amplo painel da vida e tempo de Caravaggio. Onde deparo série, documentário, livro eu adquiro sobre Caravaggio. E não é que me deu vontade agora de re-assistir o clássico de Derek Jarman sobre esse pintor maldito?

 O carnaval cult promete e desde já um beijo de banda bunda e afeto a todos vocês que acompanham minhas linhas tortas e não menos sinceras.

Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).



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