Tuesday, February 20, 2018

O TOSTEX (por Carlão Bittencourt)


“Eu nunca broxei”
(Ziraldo Alves Pinto)


Maurício é redator. Dos bons. Mas antes de tudo é uma grande figura humana. Simpaticíssimo, usa o bom humor e o sorriso, constantes, para disfarçar uma certa melancolia, que guarda a sete chaves num dos quartos escuros da alma.



Por isso, prefere estar sempre cercado de gente. Quanto mais, melhor. Principalmente se for do sexo feminino.




Bom de copo, de papo, exímio pianista, Maurício é também um ótimo contador de histórias. Histriônico, detalhista e com um timing perfeito para a comédia. A ponto de, inclusive, narrar os próprios fracassos. Coisa rara em se tratando de um publicitário.




Essa passagem é sobre uma de suas aventuras amorosas. Uma que, só para variar, é hilária. Confira.




Maurício se encantou com uma colega de trabalho. Uma beleza de garota. O problema é que, como toda mulher bonita, ela tinha outros admiradores. Às pencas. A concorrência era fortíssima.




Embora charmoso, inteligente e com outras mumunhas, Maurício não pode ser considerado um modelo de beleza. Com boa vontade, dá para o gasto.




Assim, na falta da estética, apelou para a dialética. Bravamente. Transformou a conquista num job. Foi à luta.




Em dois meses, a moça capitulou. Saíram. Depois de muita conversa e alguns drinques num barzinho discreto, foram para o apartamento dele, um quitinete ajeitado.




Versado nos mistérios do amor, Maurício tinha preparado o cenário. Ao abrir a porta, em vez de acender a luz, ligou a chave-geral. Para surpresa da mulher.




Na mesma hora, a voz inimitável de Alberta Hunter atacou os primeiros versos da canção “The love I have for you”. Em seguida, uma lâmpada mágica iluminou a passarela de pétalas de rosas que, sutilmente, indicava o caminho até a cama. Não deu outra. Em cinco segundos estavam nus.




Alguns beijos depois, Maurício percebeu que havia algo errado. Com Ele. Apesar do clima, do enlevo e da beleza do corpo da amante, o soneca se recusava a trabalhar. Por mais que perseverasse, nada. Traído por um velho amigo!




Maurício fez, então, uma coisa absolutamente inesperada. Deu um salto, saiu da cama e, esfregando as mãos , disse, com a maior naturalidade:




"Bom, eu vou fazer um tostex..."




Quando parou de rir, a garota aderiu à idéia.



Carlão Bittencourt
é redator publicitário
e cronista.
É autor de
"Pela Sete - Breves Histórias do Pano Verde"
(2003, Editora Codex),
um mergulho no universo
dos salões de bilhar de São Paulo
e escreve todas as quartas
em LEVA UM CASAQUINHO.

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