POEMA ANTIQUÁRIO
Mil folhas.
Mesmo em algumas das mais
passadas, um
pouco do sabor, um risco
de doçura e
amargo, é remanescente.
Anamnésia
construída pelo fato
e pela
imaginação: vai do anátema
ao
enaltecimento, expressos em alta voz
até ao murmúrio
cifrado no coração.
O acervo de uma
vida se dispersará
depois de ela
parar: alguma coisa
aqui, nesta
casa, para lembrar quem se foi
fica, sem roubo
nem degradação, sobrando.
O resto,
espalhado na desordem dos arquivos
dos sebos e
brechós, nós defeitos
na mudança para
lugar nenhum
perdido no
limbo, reciclável em outro corpo
e destino, longe
do clamor da hora
cada vez mais
afastado do limiar original
da montagem do
dia, à margem do relógio
rasgado por mãos
alheias, posto fora
o sonho, que se
açucara, perde o gosto, e fere.
do Rio de Janeiro em 1940.
Jornalista de profissão, começou a escrever
poesia a sério em 1960.
Trabalhou com Estudos e Pesquisas Literárias
no MEC e na FUNARTE entre 1974 e 1994.
Modernista fortemente influenciado por
Bandeira, Drummond e João Cabral,
Armando faz versos repletos de imagens impactantes.
Segue ativo publicando uma nova coleção
de poemas a cada 3 anos.
Em 1986 recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia
por seu livro "3x4",
mas sua obra-prima indiscutível é "Lar,"
publicado pela Companhia das Letras
e grande vencedor do Prêmio
Portugal Telecom de Literatura de 2011.
Seus poemas escritos entre 1960 e 2000
estão reunidos num volume indispensável
intitulado "Máquina de Escrever",
publicado em 2003 pela Nova Fronteira.
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