Wednesday, February 14, 2018

REESTRUTURAÇÃO (por Marcelo Rayel Correggiari)




“(...)Au quotidien tu dois trouver l'information et discener/
Où est le mal, où est le bien, ce qui est faux, ce qui est vrai. (...)
Quand la tête te fait mal, que tu sens un malaise en toi/
Il faut lâcher prise, décontracte-toi!/
Quand la tête te fait mal et que ça craint autour de toi/
Il faut lâcher prise, allez calme-toi! (...)”(¹)
[Massila Sound System, “Lâcher Prise”]

A vida seria constituída de uma estranha Arte de ‘erros & acertos’.
Estranha Arte, essa... tudo na base do ‘cai & levanta’, mas com pouquíssimo espaço para realmente se ter bem nítido o que porventura pôde ser aprendido tanto nos erros quanto nos acertos.
Na reestruturação de uma vida quase desperdiçada por uma sorte de ‘malaise’, é preciso se ter coragem: coragem, acima de tudo, para enfrentar o mal que nos acomete.
Coragem para enfrentar o preconceito dos círculos sociais, coragem para passar por cima do preconceito vindo da própria família, coragem para aceitar que uma determinada disfunção também está dentro de nós mesmos.
Coragem. Simplesmente, coragem... e ação, ‘s’il vous plaît’!
Nada pode ser mais temerário do que continuar aceitando (e convivendo!) com pessoas e circunstâncias que, no fundo, jamais nos colocam ‘para cima’, mas, sim, ‘para baixo’ e sequer nos apercebemos disso.
É uma trajetória longa: demora um tanto até ‘cair-se em si’. Não é má vontade, cegueira ou corpo-mole. Não! É um processo, pessoal e intransferível. E, diante dele, somente o(a) titular pode agir por mais que, do lado de fora, aconselhemos com o melhor de nossas orientações.
Enquanto isso, debate-se. Quem assiste, angustia; quem se debate, agoniza. E esse processo vai ganhando corpo dentro de sua própria marcha até o dia em que eclode.
O mais difícil numa reestruturação é o ‘deixar ir’. Quando se ‘deixa ir’ algo ou alguém que nos faz muito mal, a coisa é mais fácil. Só que nem tudo está mergulhado ‘só no bem’ ou ‘só no mal’: a difícil decisão de ‘deixar ir’, dentro desse processo (de reestruturação), pessoas que amamos.
Um sentimento pouco confortável que flerta com a saudade e, porque não dizer, com a ausência. E nada tem a força de substituição ou compensação: o que se vai faz muita falta, mas igualmente faz um tremendo mal e é preciso uma quantidade abissal de bravura para seguir em frente, sem essas pessoas, sem esses lugares, sem essa alimentação de um ‘malaise’ impossível de fazer algum bem.
Porque amamos... porque se ama.
Porque amamos, errado ou não, pessoas que tinham tudo para reluzir, admiráveis seres humanos, mas que insistem na ‘vida vazia’, em se acercar de tudo o que há de mais asqueroso, em perseguir o inatingível em nome de um ‘status’ questionável, guiados(as) por um ‘descolamento da realidade’ que ora beija o ‘malaise’, ora abraça uma ‘maladie’.
Dói. Mas há de se seguir em frente.
(¹) “(...) No cotidiano, você precisa encontrar informações e discernir/
Onde está o mal, onde está o bem, o que é falso, o que é verdade?/(...)
Quando sua cabeça te faz mal, você sente um desconforto em si mesmo/
Você deve deixar ir, relaxar!
Quando sua cabeça te faz mal e isso é uma merda em torno de você/
Você deve deixar ir, acalmar-se!(...)”


Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO


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