Hoje
a nossa entrevista é com um dos maiores malucos da história.
Aquele que é
considerado no Brasil o pai do rock e criador da “Sociedade Alternativa”… tão
alternativa que nunca chegou a existir.
Com vocês, o maluco beleza Raul Seixas.
BJ
– Raul, alguns músicos, produtores e amigos seus costumam dizer que você,
apesar de maluco, era um sujeito muito inteligente. Mas eu dei uma fuçada na
sua história e descobri que você repetiu 5 vezes o sétimo ano do Ensino
Fundamental. É verdade isso?
RS
– Que porra é essa de sétimo ano do Ensino Fundamental?
BJ
– Desculpe. Na sua época equivalia ao segundo ano do ginásio. É verdade que
você repetiu 5 vezes esse ano?
RS
– Cinco vezes? Tem certeza disso? Eu achei que era menos. (risos) Rapaaaaaazzz, vou ser sincero com você. A escola não me ensinou nada. Ela não
me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que eu aprendi foi em casa, na rua
e nos livros. Em casa, eu aprendi a respeitar… na rua, aprendi a me virar… e
nos livros, aprendi a sonhar. Deu nisso aqui, ó... (apontando pra ele mesmo) Raulzito.
BJ
– Pois é, dizem também que você não se esforçava nos estudos porque só queria
saber de cantar e tocar rock, gênero musical que ainda engatinhava no país.
Raul, conte pra gente como você começou sua carreira.
RS
– Engatinhava, não. Ninguém ligava pro rock no final dos anos 50. Só eu e uns
malucos espalhados por aí (risos). A gente ouvia Elvis, Little Richards, Chuck
Berry. Só que eu curtia também Luiz Gonzaga, essas foram minhas influências. Eu
comecei em 1963… ou foi em 62? Rapaaazz, eu acho que foi mesmo em 61. Não
importa. Nessa época aí eu tive uma banda chamada Relâmpagos do Rock. Na
verdade ela teve vários nomes. Um deles foi… porra, bicho, não
lembro. Foi com os irmãos Thildo Gama e Décio. Ou era Délcio? Não sei. Mas em
63 eu me juntei com o Mariano, o Eládio e o… porra, me fugiu agora… ah, o
Calerba. E a gente formou os Panteras. Que antes foi The Panters. Uma confusão
da porra, né. Em 67, eu me formei no colégio, fiz cursinho e passei em Direito,
Psicologia e Filosofia… só pra calar a boca de quem falava que eu era burro e
não estudava. Aí eu casei com a Edith e fui pro Rio de Janeiro tentar a sorte.
BJ
– É verdade que você passou fome no Rio?
RS
– Rapaaaazz, passei mesmo. Mas foi só um período que o bicho pegou e que a
gente teve que lavar uns pratos num boteco pé sujo de Copacabana pra ganhar um
sanduíche pra cada um. Na verdade, a gente foi pro Rio porque o Jerry Adriani
convidou o Raulzito e os Panteras pra ser banda de apoio dele tocando em alguns
shows e gravando umas coisinhas. Pouca gente sabe, mas o maior sucesso do Jerry
Adriani, Doce Doce Amor, é composição minha. Mas a bufunfa que eu ganhava era
pequena, só dava pra pagar o cafofo. (risada tímida).
BJ
– Foi quando você virou produtor?
RS
– Exatamente. Foi em 1972. Não, nada disso. Acho que foi em 70. É… em 1970. Mas
eu não tenho muita certeza não. O Jerry que mais uma vez me quebrou o galho.
Ele convenceu o Evandro, que era presidente da CBS, a me dar esse emprego de
produtor. E eu acabei me dando bem. Se tinha uma coisa que eu conhecia era
música, porra. Eu produzi muita gente na época. Produzi o Renato & Seus
Blue Caps, o Leno, o Trio Ternura, Tony & Frankie, a Diana, o Oswaldo
Nunes… vocês podem não conhecer muito essa galera, mas na época eles
arrebentavam, vendiam disco “pra caralho”…. eita, desculpe aí. Produzi também o
próprio Jerry Adriani e aquele cara famoso pacas… como é mesmo o nome dele?…
BJ
– O período mais produtivo de sua carreira talvez tenha sido de 72 a 74, quando
músicas como Mosca na Sopa, Metamorfose Ambulante, Al Capone, Ouro de Tolo,
Medo da Chuva, Gitá e Sociedade Alternativa foram compostas. Aliás, esse foi o
período em que você conheceu Paulo Coelho, se envolveu com o ocultismo e criou
a Sociedade Alternativa. Conte um pouco sobre essa época.
RS
– Rapaaaazzz. Você que tá dizendo que foi tudo nessa época. Mas deve ter sido
por aí mesmo. Eu lembro que foi uma época boa mesmo. E essas músicas todas aí
realmente são muito boas também. Não lembro a letra de todas não, mas sei que
são ótimas. Acho que algumas até são letras do Paulo. Essa coisa da Sociedade
Alternativa era uma viagem que a gente levou muito a sério nesse período. Quando
eu conheci Paulo Coelho, ele escrevia uns textos sobre discos voadores e tal. E
eu também tinha essa pegada mística, lia muito sobre ocultismo. A minha
história com o Paulo foi meio que sintonia à primeira vista. Depois eu acabei
caindo na real e percebi que ele era meio xarope, se achava o cara.
BJ
– Não sei se você sabe, mas depois que você morreu, o Paulo Coelho deu uma
entrevista dizendo que na década de 70 vocês dois ficavam rivalizando pra ver
quem era mais famoso. Que as letras que ele fazia eram tão ou mais importantes
do que a sua música. O que você acha disso?
RS
– Esse Paulo Coelho é mesmo um idiota. Eu soube sim que ele ficou famoso
escrevendo esses livros ainda mais idiotas do que ele. Que otário! Mas…
voltando ao assunto: na época ele era um “ilustre desconhecido” (gargalhada) Se não fosse pela parceria que fez comigo, eu acho que ele não conseguiria
vender livro nenhum hoje. Na verdade rolava mesmo uma disputa entre a gente.
Mas era uma disputa cultural… pra ver quem sabia mais. E era saudável. A gente
se dava bem. Até a polícia federal dar uns choques nos nossos bagos… aí a coisa
começou a desandar.
BJ
– Você foi mesmo torturado pela ditadura?
RS
– Que papo é esse de “dita dura”? Lá ele! (gargalhadas) Brincadeira, meu
velho. Esse assunto é sério. Me fodi nas mãos desses escrotos da federal. Eu e
o Paulo. Os caras acharam que a Sociedade Alternativa era uma sociedade
comunista… que era um movimento armado contra o governo… e desceram a porrada
na gente. Fui fugido pros Estados Unidos. Morei lá um bom tempo. Não lembro
exatamente quanto tempo, mas foi bastante. Quer dizer, acho que nem tanto.
Minha primeira mulher era americana, a Edith. A gente morou na casa dos pais
dela.
BJ
– É verdade que você comeu lixo em Nova Iorque?
RS
– (gargalhada) É verdade sim, mas dessa vez não foi porque eu não tinha grana.
Eu já era um artista famoso e ganhava muito dinheiro com direitos autorais e
shows. O que aconteceu foi o seguinte: eu tava andando de noite por Nova Iorque
quando entrei sem querer num beco. E tinha um palhaço na sarjeta comendo lixo.
Um palhaço mesmo… um mendigo vestido de palhaço… coisas de Nova Iorque. E ele
me convidou pra comer o lixo com ele. E eu aceitei.
BJ
– Você comeu lixo?
RS
– Comi sim. O lixo americano é bem mais saudável, tem uma porção de coisas
boas.
BJ
– Uma coisa que você também não deve saber é que depois de morto suas músicas
continuaram tocando por muito tempo. Aliás, tocam até hoje. E o mais
interessante é que foi criada uma expressão com o seu nome: é o “Toca Raul”…
que é muito usada pelo público em shows quando as pessoas não estão gostando
muito das músicas e pedem pra que a banda que está se apresentando toque alguma
música sua. Por isso, a expressão “Toca Raul”. Você sabia disso?
RS
– Rapaaaaazz, que galera doida é essa. Como pode pedir música de outro artista
num show? Bom, mas isso é sinal de que a minha música é boa… por isso as
pessoas pedem. Mas
eu vou te dizer uma coisa. Isso também já aconteceu comigo, sabia. Eu tava
tocando num bar de São Paulo e um cara da plateia pediu pra tocar um rock de um
outro músico. Ele levantou e gritou TOCA… Só
que eu não lembro quem era o músico. Porra, não lembro mesmo.
BJ
– Posso fazer um bate bola rápido com você?
RS
– Pode
BJ
– Uma cor
RS
– Vermelho! Quer dizer, azul
BJ
– Uma fruta
RS
– Mangaba. Se bem que faz tempo que não como e eu não lembro muito do sabor
BJ
– Um livro
RS
– O Livro da Lei, do guru Aleister Crowley
BJ
– Uma comida
RS
– Maniçoba
BJ
– Uma inspiração
RS
– Luiz Gonzaga
BJ
– Uma lembrança
RS
– Peraí… tá difícil
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