Aos
poucos a vida vai voltando ao normal, com uma preguiça danada.
Preguiça
também da polêmica em torno do desfile da Tuiuti. Que é que tem? Foi bacana.
Propuseram uma reflexão sobre as cicatrizes deixadas pela escravidão. Poderiam
até ter aprofundado mais e visto como a própria preguiça e a aversão ao
trabalho fazem parte da cultura brasileira e estão relacionadas ao passado
escravista.
Em
vez disso, questionaram a reforma trabalhista. Beleza! Colocaram o vice da
Dilma vestido de vampiro. Achei engraçado. Ironizaram os manifestantes pelo
impeachment? Sem problemas, direito deles. É assim nas democracias.
Que
diferença! Antigamente não havia isso de democracia. No começo, quando as
primeiras escolas de samba receberam o reconhecimento oficial, receberam também
o “delicado” pedido de apoio à propaganda patriótica do governo. O chefe de
Estado era o ditador e populista Getúlio Vargas.
E
assim foi, sob censura e controle mesmo durante o curto período democrático
entre o fim do governo de Getúlio e o início do governo dos militares. No
governo militar então, nem se fala. As escolas eram obrigadas a enviar o samba
e os croquis das fantasias para serem avaliados.
Aliás,
foi nesse período que começou a ascensão da escola Beija Flor com enredos sobre
a ordem e o progresso.
Lembrei
da Beija Flor porque achei que, neste ano, as críticas da escola à corrupção
foram ainda mais fortes e contundentes do que as da Tuiuti à reforma
trabalhista. Esculhabaram do Petrolão a Sérgio Cabral.
Mas
aí vem o jornalista Josias de Souza e informa que o patrono da escola, o
contraventor Anísio Abrão David foi condenado a 48 anos de cadeia por
corrupção. Está livre graças ao STF – que, pelo andar do carro alegórico, em
breve, será enredo na Sapucaí.
E
eu me lembrei também que, há 3 anos, a Beija Flor foi campeã com um enredo
sobre a Guiné Equatorial, país que vive sob uma ditadura há mais de três
décadas. A Guiné é rica em desigualdade e em petróleo. A Odebrecht e o Lula
ganharam destaque numa história de suspeita de desvios de recursos do BNDES
para financiamento de obras no país, mas não apareceram no enredo da escola de
Nilópolis.
Enfim,
são enredos muito complicados e que não combinam com a alegria do Carnaval. Mas
eu não ficarei nem um pouco surpresa se descobrirem que a Tuiuti emprega
pessoas sem carteira assinada.
Meu nome é Denise Mattos Marino,
mas fui sintetizada: Denise Marino
ou, simplesmente, Dê,
acompanhada ou não do Marino.
Sou historiadora e professora de história.
Atualmente aposentada – fui mais rápida
que a reforma. Mas ainda levo
para os meus aposentos a curiosidade,
o “só sei que nada sei”
e a vontade de ensinar.
Ah! Sou libriana.
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