Monday, February 5, 2018

FÁBIO CAMPOS INDICA "TODO O DINHEIRO DO MUNDO", UM DOS GRANDES FILMES DESTE ANO



“Todo o Dinheiro do Mundo” gerou polêmica antes mesmo de ser lançado, quando, às vésperas do lançamento, os produtores resolveram substituir Kevin Spacey, que fazia o papel do bilionário americano Jean Paul Getty, por Christopher Plummer.

Como as denúncias contra Spacey se deram próximas ao final do ano e os produtores esperavam indicações ao Oscar, o filme só seria indicado se fosse lançado em algum cinema até 31/12 do ano corrente. Para que isso fosse possível, houve uma corrida para refilmar as cenas das quais Spacey participava.

Quando li essa noticia, imaginei que participação de Jean Paul Getty se resumiria a um coadjuvante importante, mas de participação discreta. Ao contrário, Plummer tem, além de um papel importantíssimo, muitas cenas no filme. Imagino o inferno que deve ter sido recrutar todo o elenco novamente após o filme finalizado, filmar e montar novamente tantas cenas com outro ator.

Pesadelos à parte, não se percebe essa pressa no filme, Plummer está ótimo, a indicação ao Oscar de coadjuvante é merecida, apesar de eu achar que existe um desejo de cutucar Spacey, que pode até lhe render o Oscar.


Mas vamos ao filme.

O filme é baseado num caso de sequestro bastante famoso no início dos anos 70 quando o neto do magnata americano Jean Paul Getty foi sequestrado na Itália. Confesso que até assistir o filme o nome de Getty só me era associado ao belíssimo museu em Los Angeles que recebe o seu nome. Não sabia que ele era, na época, o homem mais rico do mundo. Acho que nos anos 70, não havia, como hoje, essa obsessão por listas de pessoas mais ricas. Lembro bastante de Onassis, mas, a fama se dava muito mais pelo casamento com Jaqueline Kennedy do que por figurar nas tais listas.

Partindo do sequestro, Ridley Scott aproveita para mostrar os efeitos que uma quantidade absurda de dinheiro pode fazer a uma pessoa e a todos que a rodeiam. Getty aparece como uma figura magnânima, cercada de serviçais, enquanto seu filho, no início, é um cidadão comum que formou família e optou por levar a vida longe do pai. É justamente a decisão de reaproximação que transforma a vida de todos.

Getty envia o filho para gerenciar os escritórios de sua companhia petrolífera na Itália e se aproxima dos netos, até então distantes. A partir daí o filho de Getty sucumbe ao peso que é viver à sua sombra e o neto passa a conviver com a pressão que é ser um Getty, constantemente ressaltada pelo avô. Os valores da família estão diretamente ligados ao dinheiro e ao poder associado a ele. A única que parece imune a esse contagio é sua nora, Gail -– a sempre excelente Michelle Williams, também indicada ao Oscar com toda justiça.

Gail aparece desde o início como uma mulher forte, capaz de contrapor Getty, e é exatamente isso que o sequestro do filho, após a separação do marido, vai fazer. De um lado o avô, que se recusa a pagar o resgate mesmo sendo o homem mais rico do mundo, e do outro a mãe, fazendo o impossível pra ganhar tempo, conseguir o dinheiro e receber o filho de volta. Gail ganha a ajuda de Fletcher Chase (Mark Walberg), uma espécie de preposto do bilionário para situações de crise, enquanto o jovem Paul acaba conquistando a simpatia de um dos sequestradores no cativeiro.


O filme alterna entre o embate entre Getty e Gail e o dia a dia do sequestro na Itália, criando uma dinâmica ágil que mantem o interesse do espectador, mesmo que este já saiba o desfecho da história. Getty é a figura central do filme, mesmo quando ele não está presente, é impossível não parar de pensar em como uma pessoa seria afetada por aquela quantidade absurda de dinheiro. Um pouco da velha discussão se dinheiro traz felicidade, mas colocada de uma forma muito mais interessante do que costumeiramente.

Ao mesmo tempo em que gasta milhões com obras de arte, ele parece tratar o sequestro do neto como mais uma de suas negociações rotineiras, ao ponto de se preocupar se o dinheiro pago pelo resgate pode ser abatido do imposto de renda. Plummer está excelente mesmo tendo tido pouquíssimo tempo para se preparar para o papel, não consigo imaginar o filme sem ele.

“Todo o Dinheiro do Mundo” é um dos melhores entre os concorrentes ao Oscar desse ano e, na minha opinião, o melhor filme de Ridley Scott em anos.



Vale decididamente uma passada no cinema.


TODO O DINHEIRO DO MUNDO
(All The Money In the World, 2017, 135 minutos)

Produção e Direção
Ridley Scott

Elenco
Michelle Williams
Christopher Plummer
Mark Wahlberg
Romain Duris
Andrew Buchan
Timothy Hutton

Cotação

em cartaz nas Redes Roxy e Cinemark


Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 50 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.

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