A biografia da patinadora Tonya Harding (Margot Robbie) é surpreendente.
Ainda mais quando ela relata a sua trajetória, e se desculpa dos diversos erros cometidos ao longo da mesma.
Tonya ganhou o seu primeiro campeonato aos 4 anos de idade, estimulada por sua mãe, LaVona (Allison Janney), um poço de rancor, de mal humor, que jamais sorria ou tinha uma palavra descente de estímulo para a sua filha.
Apesar de treinar horas a fio, de se dedicar à sua grande paixão, a patinação, de lutar contra a pobreza, Tonya conseguiu atingir momentos brilhantes em sua vida, como o campeonato americano e olímpico de patinação.
A despeito de todo o sucesso, ela não conseguiu superar a barreira que ela mais almejava: a social.
O seu comportamento impulsivo, a sua eventual falta de "classe", tornavam-na uma representante do pior que os EUA tinha, a classe baixa branca, deseducada e com ausência do fino trato.
O fato da patinação ser um esporte praticado em sua maioria absoluta por pessoas originadas nas classes sócio-economica mais elevadas só fazia o quadro de Tonya se tornar mais inquietante.
Para complicar a sua vida turbulenta, ou como consequência inevitável de sua criação, Tonya namora e casa com Jeff (Sebastian Stan), e é submetida a violência doméstica dezena de vezes, com inúmeras passagens pela polícia.
A narrativa vai do drama à comicidade, retratando o absurdo e dos paradoxos da existência desta anti-heroína, que como foi retratado amplamente pela imprensa americana e mundial na década de 90, esteve envolvida num esquema para tirar do páreo a sua principal adversária, Nancy Kerringan.
A vida de Tonya teve uma segunda chance, como tanto apreciamos, só que numa forma de esporte mais brutalizada, o boxe.
Isso fazia mais sentido para Tonya e, dessa forma, ela pode ser entendida e não menosprezada.
Com uma trilha sonora brilhante, incluindo as canções "Devil Woman", de Cliff Richard, ótima escolha para retratar LaVona, a mãe diabólica da patinadora-boxeadora, "Barracuda", do grupo Heart e "Burning Heart", do Survivor, e atuações sublimes de Allison Janney e Margot Robbie, o filme retrata os EUA que elegeu Donald Trump.
EU, TONYA
(I Tonya, 2017, 120 minutos)
Roteiro e Direção
Craig Gillespie
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