Saturday, February 3, 2018

PUXÃO DE ORELHAS (uma crõnica de Alvaro Carvalho Jr)



Palavras são palavras, nada mais do que palavras, dizia aquele personagem de Chico Anísio, numa clara ironia aos políticos que, então, falavam, falavam e não cumpriam nada. Na abertura dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal, a Ministra Carmem Lúcia fez questão de dar um puxão de orelhas nas três maiores autoridades públicas do País que compareceram à abertura: o presidente da República, Michel Temer, o presidente do Senado, Eunício Guimarães, ambos do MDB e, finalmente, no não menos famoso presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Em comum, os três têm o péssimo hábito de se envolverem em trapalhadas que acabam nas mãos do Ministério Público Federal. Todos estão sendo investigados.

Espero, sinceramente, que Carminha não esteja apenas jogando para a plateia. É preciso que a nossa vida política sofra uma faxina exemplar e que suas palavras não sejam como as do personagem de Chico Anísio. Ela foi dura, pelo menos no papel: "O respeito à Constituição e à Lei para o outro é a garantia de direito para cada um de nós cidadãos. A nós, servidores públicos, o acatamento irrestrito à lei é impor-se como dever. Constitui o mau exemplo o descumprimento da lei, e o mau exemplo contamina e compromete. Civilização constrói-se sempre com respeito às pessoas que pensam igual e diferente.

Constrói-se com respeito às leis vigentes". Bem, como diz o velho ditado, para bom entendedor, meia palavra basta. A presidente não poderia ser mais clara, num puxão de orelhas de dar inveja. Ao seu lado esquerdo estava o indefectível presidente Michel Temer, que não movimentou qualquer músculo da face. Permaneceu impassível, com aquele olhar de vampiro cansado. Os outros dois, o presidente do Senado e o da Câmara, acompanharam Temer: olhares distantes, impassíveis, destacando a cara de choro do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Não acredito que as palavras da Ministra, claras e fortes, tenham abalado a moral desses políticos, homens que não levam o caráter muito à sério... E já que estava com a língua solta, Carminha aproveitou o embalo e jogou um balde de água fria sobre as pretensões do ex-presidente Silva. Voz pausada, firme e olhar direto, ela foi na ferida: "Pode-se ser favorável ou desfavorável a decisão judicial pela qual se aplica o direito. Pode-se buscar reformar a decisão judicial pelos meios legais e pelos juízos competentes. O que é inadmissível e inaceitável é desacatar a Justiça, agrava-la ou agredi-la. Justiça individual fora do direito não é Justiça, senão vingança ou ato de força pessoal".

Que me lembre, desde que o caldo do ex-presidente entornou, nunca tinha visto algo tão direto partindo de uma autoridade do tamanho de Carmem Lúcia. Críticas apareceram, mas nunca tão contundentes e diretas. Ela deixa claro que as atitudes tomadas pela defesa do cidadão Silva abusou da falta de ética, da falta de respeito. E essa advertência também atinge a tigrada que sobe em palanques para ofender juízes e a própria Justiça. Não é assim que se constrói um País justo. Leis foram feitas para serem respeitadas e decisões da Justiça para sempre cumpridas. Carminha alertou ainda: "O Judiciário aplica a Constituição e a Lei. Não é a Justiça ideal, é a humana, posta à disposição de cada cidadão para garantir a Paz. Paz que é o contínuo dos homens e das instituições. Se não houver um juiz a proteger a Lei para nossos adversos, não haverá um para nos proteger no que acreditamos ser nosso direito". Agora, confesso, ainda tenho minhas dúvidas quanto ao comportamento de Carminha. Esta semana ela fez questão de anunciar que não pautará a discussão para anular a prisão em segunda instância -"foi decidido em 2016"- diminuindo ainda mais as chances do Sr. Silva livrar-se da prisão e endoidecendo o pessoal que quer porque quer transformar todo esse julgamento num ato político. A vitimização do Sr. Silva, liderada por seus advogados e seus acólitos chega a absurdos tão grande que acabam se chocando com a incompetência, como o caso do Habeas Corpus preventivo encaminhado ao STJ, num momento que não há, ainda, qualquer chance de cadeia. Restam dois recursos, para, então, as algemas serem acionadas...

Mantendo-se essa tendência, esse nível de dureza, Carminha poderá se juntar ao Juiz Sergio Moro e aos três desembargadores que apostam na seriedade e numa mudança radical na vida pública brasileira. O medo é o afrouxamento dessa filosofia, abrandar penas e voltarmos ao velho vai da valsa de sempre. A população brasileira não aguenta mais tanta bandalheira. É urgente que esses canalhas que se servem do Estado sejam colocados na cadeia, literalmente. É urgente que a moralidade volte; é urgente que a burocracia burra e idiota seja jogada no lixo; é urgente que palavras, enfim, valham alguma coisa. A bola está com Carminha....inté


Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
Colabora com LEVA UM CASAQUINHO
sempre aos sábados,
quando esquece que está aposentado.


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