Esse iletrado
merceeiro, até hoje, cai na boa & velha esparrela da carcomida recomendação
para que se leia Balzac.
Disco riscado
(nos dias de hoje, ‘arquivo bugado’): “Será possível que você só recomende
isso?! Deus do céu... Já deu!”.
A reclamação faz
sentido: porque é aquele mesmo título por décadas. Não é a leitura de uma
“Eugénie Grandet” ou “A Mulher de Trinta Anos”. A recomendação, tanto literária
quanto para a Vida, recai sempre em “O Pai Goriot”.
A indicação
frequentemente carrega certa urgência relacionada à citação de um bom exemplo daquilo
que chamaríamos de modelo da ‘Literatura de Alto Giro’, ‘Alta Literatura’ e
assim por diante. O mesmo valeria para “Uma Campanha Alegre” ou “O Mandarim”,
do Eça, por exemplo.
Num país ‘funkeiro’,
‘sertanejeiro’, ‘temerário’ e caindo pelas tabelas, chega a soar como o mais
refinado pedantismo...
... mas, tudo
bem...
... tudo bem,
mesmo! Quem há de se ater à terrível sordidez da pensão de Mme. Vauquer,
forrada de escroques e gente da pior laia, há de entender, igualmente, a
complexidade circense (em parte, mas, em algumas pessoas, ‘no todo’!) da
natureza humana.
É muita doença
para pouco cérebro...
... ou muito
‘mau-caratísmo’ para pouco corpo.
Em “Le Père
Goriot”, Balzac mostra, de alguma maneira, como nascem os traumas, mas também
descreve com enorme maestria suas consequências. Outro viés da obra, bem mais
secundário e tremenda ‘viagem’ da cabeça de quem a lê, vai ao encontro de como nascem
os(as) imbecis.
Os(As)
imbecis... já ouviram falar?! Conhecidos(as) como idiotas, “babacas”, e toda
sorte de nomenclatura?!
Costumam ser
mais numerosos que mato!
A imbecilidade,
em algum grau e/ou extensão, faz parte da natureza humana. E seria bom não
perdermos as estribeiras diante dela: todos nós carregamos alguma dose
manifestada em ocorrências aqui e acolá. Sua serventia? É incerto dizer...
suspeitamos que seja um índice ora para um convívio social razoável, ora para
se entender que padecemos de algum mal.
Isso se torna
claro quando não sabemos muito o que falar diante de situações que pouco
compreendemos e são completamente fora de nosso controle. Um velório, um luto,
um tratamento de saúde, o fim de um casamento, perdas... O(A) querido(a)
freguês(a) pode ser o(a) mais hábil dos entes comunicativos, um ‘Sílvio Santos’
dos RPs... “Sound the alarms!”. Em algum momento, a casa cai.
É parte da
natureza humana: as pessoas se preocupam, genuinamente, com o bem-estar das
pessoas queridas. Contudo, pouco sabemos o que dizer diante de certas
complexidades.
Aí, é um
carnaval de recomendações de ‘como viver bem a vida’. Ora, deem licença! O ‘pau
quebrando’, ‘jacaré abraçando’, e abrem-se as portas do supermercado da
existência cujas gôndolas estão forradas de modelos certíssimos de como
conduzir bem esse troço.
Tem o lado bom
da coisa: um firme exercício de certa prática cristã da paciência. Afinal, não
fazem por mal...
O duro é quando a
pessoa deseja exemplificar o que se é dito. Putz! Aí, é ladeira abaixo.
Simplesmente
porque é nessa abordagem que reside o perigo: “... veja como eu faço!”, e o(a)
querido(a) freguês(a), portador(a) de entusiasmado enunciado, enfiando as fuças
contra o muro de concreto.
Porque é esse
gesto que assegura a ‘trombada’ das coisas. Uma espécie de ‘fim-de-mundo-virado-do-avesso’
em que se perde por completo a sensibilidade fundamental e necessária para
‘entender o(a) outro(a)’, ‘estar “na pele” do(a) outro(a)’, ‘compreender a
mecânica’ presente no outro lado da conversa a fim de se conhecer, finalmente,
os motivos que asseguram tempos vindouros terríveis contra alguém que passa por
um perrengue singular.
Pode piorar?!
Opa! Só pode! Quando esse gesto ‘exemplificador’ e falido já em seu nascedouro é
incorporado como ‘estilo-de-vida’. A pessoa está se arrombando, mas nada faz,
definitivamente, para mudar a trajetória.
Perde-se o
entendimento dos valores reais dos isolamentos temporários, das ‘mudanças de
rota’, dos resgastes dos talentos, do trabalho hercúleo que se tem para o
alcance de dias bem, bem melhores.
Não se trata,
aqui, dos ‘gestos violentos’, agressivos, doença grave desde que o mundo é
mundo. Um(a) babaca pode até ser violento(a), agressivo(a), mas nem toda
violência e/ou agressividade pode ser considerada uma ‘babaquice’. É algo bem,
bem mais sério.
Assim,
iniciam-se os trabalhos semanais dessa caminhante Mercearia com a astuta
recomendação de um querido freguês em torno do tema: não há problema algum em
ser idiota! Sejam babacas e imbecis. Sejam babacas e imbecis até não poder
mais! Mas, por favor... não passem recibo!
Porque, aí... é
de foder!
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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