Friday, December 23, 2016

CAFÉ E BOM DIA #44 ESPECIAL DE NATAL (por Carlos Eduardo Brizolinha)



No fronti-hospício do inferno o "Deixai toda esperança ó vós que entrais" em A Comédia de Dante, "O homem comum, que não tem qualquer domínio de seu mental, torna-se escravo de imagens e pensamentos que tomam sua mente e passam por seu cérebro como uma turba enfurecida", - Quem aqui entra, faz-me uma honra; quem não entra - um prazer".- F. Nietzsche, em A Gaia Ciência. Dinâmica de solidão sociável altamente recomendável pra quem, como eu, tem dificuldades crônicas para relacionamentos sem valor. por exemplo, a péssima inclinação de projetar na fulana da esquina modelos perfeitos de pessoa com quem seria bom estar e me livrar quiçá do fardo de, por maior que me queira para o mundo, ser sempre pequeno para mim. Quando o sonho arruína, a dor é tanto maior porque, não é o fulano da esquina que se escafedeu ou se revelou, foi meu ideal que "tragicamente" foi derrotado. Esse excesso de tragédia me irrita, por isso, creio, minha empatia com o Nietzsche Como comportamento do ser humano não é previsível saio para o universo da arte. Com absoluta certeza aprendo mais com o silêncio de Renoir, Rafael, Munch do que o som do vazio de corpos sem alma.




Em todo homem dorme um profeta, e quando ele acorda há um pouco mais de mal no mundo… A loucura de pregar está tão enraizada em nós que emerge de profundidades desconhecidas ao instinto de conservação. Cada um espera seu momento para propor algo: não importa o quê. Tem uma voz: isto basta. Pagamos caro não ser surdos nem mudos… Dos esfarrapados aos esnobes, todos gastam sua generosidade criminosa, todos distribuem receitas de felicidade, todos querem dirigir os passos de todos: a vida em comum torna-se intolerável e a vida consigo mesmo mais intolerável ainda: quando não se intervém nos assuntos dos outros, se está tão inquieto com os próprios que se converte o “eu” em religião ou, apóstolo às avessas, se o nega: somos vítimas do jogo universal… A abundância de soluções para os aspectos da existência só é igualada por sua futilidade. A História: manufatura de ideais…, mitologia lunática, frenesi de hordas e de solitários…, recusa de aceitar a realidade tal qual é, sede mortal de ficções… A fonte de nossos atos reside em uma propensão inconsciente a nos considerar o centro, a razão e o resultado do tempo. Nossos reflexos e nosso orgulho transformam em planeta a parcela de carne e de consciência que somos. Se tivéssemos o justo sentido de nossa posição no mundo, se comparar fosse inseparável de viver, a revelação de nossa ínfima presença nos esmagaria. Mas viver é estar cego em relação às suas próprias dimensões… Se todos os nossos atos — desde a respiração até a fundação de impérios ou de sistemas metafísicos — derivam de uma ilusão sobre nossa importância, com maior razão ainda o instinto profético. Quem, com a visão exata de sua nulidade, tentaria ser eficaz e erigir-se em salvador? Nostalgia de um mundo sem “ideal”, de uma agonia sem doutrina, de uma eternidade sem vida… O Paraíso… Mas não poderíamos existir um instante sem enganar-nos: o profeta em cada um de nós é o grão de loucura que nos faz prosperar em nosso vazio. O homem idealmente lúcido, logo idealmente normal, não deveria ter nenhum recurso além do nada que está nele… Parece que o ouço: “Livre do fim, de todos os fins, de meus desejos e de minhas amarguras só conservo as fórmulas. Tendo resistido à tentação de concluir, venci o espírito, como venci a vida pelo horror, a buscar-lhe uma solução. O espetáculo do homem — que vomitivo! O amor — um encontro de duas salivas… Todos os sentimentos extraem seu absoluto da miséria das glândulas. Não há nobreza senão na negação da existência, em um sorriso que domina paisagens aniquiladas. (Outrora tive um “eu”; agora sou apenas um objeto… Empanturro-me de todas as drogas da solidão; as do mundo foram fracas demais para me fazer esquecê-lo. Tendo matado o profeta em mim, como terei ainda um lugar entre os homens? Quem tem medo de Cioran?




Vou começar pela numeróloga, afinal foi ponto de partida de uma longa história. A numeróloga disse: se quiser ser alguém na vida deve mexer no seu nome. Ex é para baixo, Exx sim é para cima, diferente, sucesso. Veio com o acréscimo de uma letra uma tremenda burocracia, mas no final a letra agregada veio. Depois passeando numa livraria veio o livro de feng shui e a casa ganhou bambus, mini árvores, mesa de quina para a luz do sol, mesa de centro colada no canto, doou uma porção de coisas. Disse que melhorou tudo. Veio a acupuntura, toda semana acupunturista. Não que tivesse dores para ser espetada, mas para manter o bom funcionamento do corpo. Daí veio a homeopatia, depois osteopata, do in, shiatsu e na sequência sua grande descoberta numa farmácia natureba = Florais de Bach. Um para expulsar as energias negativas, lubrificar chakras, paciência no dia a dia, etc. Disse sentir ser Karma zerado para outras encarnações. Veio o Ioga, Yoga, power ioga, aero ioga, Ioga fue e conheceu a radioestesia e veio o período de andar pela casa com dois pedaços de ferro aberto para sentir a vibração. Isso levou a descobrir um vidrinho com um líquido mal cheiroso, horrível, penetrante, coisa que queima os pelinhos das narinas. Coisa para isolar vibrações potencialmente negativas, sempre tem...sempre tem. Passou a pingar na lingua para isolar o mal. Descobri ser amônia. Desse jeito a casa ficou purificada, telúrica,idílica, naturalista, alternativa. Deixei de pedir opiniões pois sempre acabava em homeopatia, florais, amônias em meu ser apavorado com o invisível. O mundo de Exx sobre controle, sem stress, alegria, ódio, inveja, devidamente controlado. Dias atrás tomando café Exx senta ao meu lado e compartilha. De repente me fala = Fou fomendo o fão e fão finto fabor. Pois é, pôs a língua para fora e me assusto, não só com o inchaço como também lisa como a pia de mármore. As forças do mal venceram.

TOMO MEU CAFÉ E DESEJO BOM DIA E FELIZ NATAL A TODOS

(com agradecimento ao L. Silvestre - M. Marcelino, Nuno Leal Maia pelos livros)


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.



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