Wednesday, December 14, 2016

SANGUE DO MEU SANGUE: UM FILME BELO, DELICADO E EMOCIONANTE (por Carlos Cirne)



Entrando em circuito, o novo filme de Marco Bellocchio, “Sangue do Meu Sangue” (2015), um dos destaques da última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, quando o cineasta foi homenageado com uma retrospectiva de seus trabalhos, e tivemos a oportunidade de assisti-lo. A cinematografia de Bellocchio deve se completar ainda este mês, com a estreia de “Belos Sonhos”, aqui no Brasil.

Neste “Sangue do Meu Sangue”, Federico Mai (Pier Giorgio Bellocchio, filho do diretor), chega à cidade de Bobbio, para tentar resolver uma situação limite: seu irmão, padre, suicidou-se depois de se envolver romanticamente com a irmã Benedetta (Lidiya Liberman, que lembra muito a nossa bela atriz Nydia Licia, em sua juventude), e não pode ser enterrado em campo santo, a menos que a freira confesse o pecado da sedução e se arrependa, salvando assim a alma do padre da danação eterna. Só há um pequeno problema: Federico também se enamora de Benedetta, bem como ela dele.

Enquanto tenta resolver a aflitiva situação, Federico hospeda-se na casa das celibatárias irmãs Perletti, Maria (Alba Rohrwacher) e Marta (Federica Fracassi) que, apesar de seus esforços, também não conseguem não se sentir atraídas pelo hóspede. Enquanto isso, nos dias de hoje, um corretor de imóveis, Federico (o mesmo Pier Giorgio Bellocchio), chega ao antigo claustro de Bobbio (agora abandonado), trazendo um investidor russo disposto a comprar o imóvel e transformá-lo num spa ou hotel de luxo. Só que o claustro não está completamente vazio. Nele está vivendo o “Conde” (Roberto Herlitzka), um nobre italiano que abandonou a família e se refugiou ali, vivendo apenas com alguns criados (e muito poder, aparentemente). Na realidade, a figura moderna de um vampiro.

E estas duas histórias vão correndo paralelamente, destilando ácidas observações sobre o poder da Igreja e do dinheiro, nos séculos XVII ou XXI, invariavelmente. As observações do roteiro do também diretor Marco Bellocchio trazem à tona sua obstinada opinião: o tipo de influência que a Igreja e o Estado - intrinsecamente indissociáveis, apesar a tradição de esquerda da política do país - exercem na sociedade italiana é inalterável, não importando o período da história.


Por outro lado, o poder do amor e da beleza – recorrentes em ambas as tramas, mesmo que em vieses diferentes – pode, de alguma maneira, redimir a mais renhida das posturas, desafiando inclusive condições de tempo e espaço. Basta acompanhar o desfecho do segmento do século XVII para se ter ideia do poder da fé e do amor.

Com um humor beirando o burlesco, e atuações que acompanham esta premissa, o segmento dos dias atuais cede ao ceticismo – e à inexorabilidade dos fatos – para comprovar que, apesar de qualquer esforço em contrário, algumas situações são, realmente, imutáveis. As belas locações - Bobbio, Piacenza, na região da Emilia-Romagna -, valorizadas pela fotografia primorosa de Daniele Cipri, são um destaque à parte neste belo e delicado filme. Não perca!


SANGUE DO MEU SANGUE
(Sangue del mio sangue, 2015, 106 minutos)

Direção
Marco Bellocchio

Elenco
Roberto Herlitzka
Pier Giorgio Bellocchio
Alba Rohrwacher
Lidiya Liberman
Federica Fracassi
Filippo Timi
Elena Bellocchio
Alberto Bellocchio

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping



Carlos Cirne é crítico de Cinema
e há 12 anos produz diariamente
com o crítico teatral Marcelo Pestana
a newsletter COLUNAS E NOTAS,
de onde o texto acima foi colhido.




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