Monday, December 26, 2016

POEMINHA DE SEGUNDA: QUASE NATAL (por Vinícius de Moraes)



POEMA DE NATAL
Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.





Marcus Vinicius de Moraes
(18/10/1913 - 09/07/1980)
poeta, jornalista, compositor,
músico e diplomata
na linha direta de Xangô,
dispensa apresentações.
No poema acima
ele reflete sobre aquele que,
para muitos, é um dia triste.




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