Tuesday, August 9, 2016

BETO STRADA TRAZ "SOM EM CENA" DE VOLTA A SANTOS DE 10 A 14 DE AGOSTO NO SESC

por Madeleine Alves 


Leia em auto e bom som o que lhe digo, leitor: são muito raros os profissionais que se debruçam e dedicam a entender o som pra cinema. Também, pudera – em um mundo em que há muita aparência difundida, em uma existência em que muito se fala e pouco se escuta, tropeçamos no clichê da arte que imita a vida e direciona a maioria dos profissionais de audiovisual a prestar mais atenção no que intriga a visão do que naquilo que capta os ouvidos.

Com mais de 40 longas-metragens no currículo, o maranhense Beto Strada trilha a senda sonora desde os 6 anos de idade, quando estudava violino. De instrumento em instrumento, de aprendizado em aprendizado, tornou-se compositor e músico, e, como tal, começou profissionalmente trabalhando como a maioria dos músicos, tocando na noite do Rio de Janeiro.

Seus caminhos rumaram para o departamento de som cinematográfico quando o ator Jesse Valadão convidou para fazer a trilha sonora do longa-metragem “O Mau-Caráter”(1974) -– fez um trabalho tão bom que Jesse se apaixonou pela trilha, abrindo as portas do cinema para um jovem Beto.

"A música sempre esteve presente na minha vida.
Fazendo música de cinema, aprendi com grandes profissionais
na área de mixagem e produção de foley
a importância dos ruídos na produção do áudio do filme
– algo que, na produção da banda sonora de um filme,
exige um trabalho criativo sensacional."

Seus passos no aprendizado do ofício sonoro cruzaram-se com um mestre brasileiro de foley: Geraldo José. Foi ele quem mais executou o trabalho de foley no Brasil e fez som desde o tempo das novelas da Rádio Nacional.

"Geraldo foi o meu professor de foley:
aprendi com ele milhares de coisas
na área de produção de áudio."

Beto trabalhou com diretores que fizeram a história do cinema brasileiro no século XX: Anselmo Duarte, Nelson Pereira dos Santos, José Mojica Marins (Zé do Caixão) e Adenor Pitanga, entre outros. E foi nessa rota de trabalho e aprendizado constante que ele pôde ver as mais incríveis coisas – as traquitanas mais inventivas, as histórias mais curiosas possíveis na produção de um filme. Juntando todas as narrativas, daria certamente um livro.

"Teve um dos filmes que eu musiquei,
do Jesse, chamado “Nós os Canalhas” (1975).
Depois da tentativa de rodar o mesmo take
3 vezes por deficiência do ator que contracenava com ele,
Jesse perdeu o humor e mandou buscar o revólver
e as balas de verdade no caminhão de produção
e deu 3 tiros na parede.
Isso deixou o ator extremamente preocupado e nervoso
e só assim ele conseguiu rodar a cena.
Ficou incrível – e eu vi tudo isso acontecer.
Essa é uma cena inesquecível na minha vida."

De todas, Strada relata que a experiência mais marcante de sua vida foi ver como acontece a produção de um filme num set de filmagem. Dos 42 longas que musicou, Beto pôde acompanhar da elaboração do roteiro à tela 20 dessas produções – e foi essa observação que lhe permitiu aprender tudo o que sabe sobre cinema. E, claro, a outra foi ver uma música de sua autoria tocada por uma grande orquestra.

"Quando eu musiquei o filme Os Trapalhões na Guerra dos Planetas,
com apoio da 20th Century Fox e da TV Globo,
vi a minha música para o filme sendo executada
por uma orquestra com mais de 60 pessoas,
com arranjos meus.
Aquilo realmente mexeu muito com a minha vida
e me impulsionou a continuar nessa vida
de compositor de música de cinema."

E, entre idas e vindas no seu caminho cinematográfico, tornou-se também mestre de outros aprendizes do audiovisual. Há 15 anos, criou a oficina O Som em Cena, ministrando-a em algumas faculdades e festivais de cinema. De São Luís do Maranhão a Gramado, os seus alunos frequentemente relatam: ‘Professor, a partir dessa aula meu ouvido mudou. Eu agora ouço mais do que eu ouvia, ouço coisas que eu nem ouvia. A percepção auditiva mudou depois da oficina."

"Uma das coisas que mais me dá prazer é ensinar.
Quando eu consigo a autorização para ministrar a oficina
é uma vitória, pois assim abrem-se as portas
para que eu ensine algo que esses alunos nunca ouviram falar:
compositores importantes, linguagem de ruídos, sessão de foley;
quando começam a fazer, os alunos ficam apaixonados."

A trajetória de sucesso de Beto Strada nos mostra que podemos todos ser mestres e aprendizes uns dos outros na jornada da vida, mostrando nuances e despertando sentidos que antes passaram despercebidos pela correria cotidiana e por aquilo que nos impõem ser o padrão. Principalmente quando amamos o que fazemos – que é o que assegura uma longa estrada na senda cinematográfica.

"Vou fazer cinema pro resto da vida:
dando aula, dirigindo, escrevendo roteiro, produzindo.
Eu vou viver de cinema a vida inteira enquanto eu tiver forças.
E digo mais: tem uma frase que o Jesse Valadão
me disse e eu nunca esqueci.
Ele disse quando eu tinha 19 anos:
‘Beto, maestrinho, agora que você pegou o vírus do cinema,
nunca mais você vai se livrar dele.’"


SOM EM CENA
COM BETO STRADA
10 a 14 de Agosto
SESC-SANTOS
Conselheiro Ribas 136
Tel: (13) 3278-9800



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