Sunday, August 21, 2016

POEMINHA DE SEGUNDA: O PÁSSARO EU (por Pablo Neruda)



Chamo-me pássaro Pablo,
ave de uma pena só,
voador na escuridão clara
e claridade confusa,
minhas asas não são vistas,
os ouvidos me retumbam
quando passo entre as árvores
ou por debaixo das tumbas
qual funesto guarda-chuva
ou como espada desnuda,
estirado como um arco
ou redondo como uma uva,
voo e voo sem saber,
ferido na noite escura,
aqueles que vão me esperar,
os que não querem meu canto,
os que me querem ver morto,
os que não sabem que chego
e não virão para vencer-me,
a sangrar-me, a retorcer-me
ou beijar minha roupa rota
pelo sibilante vento.
Por isso eu volto e vou,
voo mas não voo, mas canto:
pássaro furioso sou
da tempestade tranquila.


Pablo Neruda foi um poeta chileno
e um dos mais importantes poetas
da língua castelhana do século XX.
Diplomata de carreira,
foi Cônsul do Chile
na Espanha e no México.
Com mais de 30 livros publicados,
Pablo Neruda recebeu
o Nobel de Literatura em 1971.
Morreu em Santiago, Chile,
em 23 de setembro de 1973,
aos 69 anos de idade.



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