Sunday, August 21, 2016

UMA LEMBRANÇA REMOTA (um conto mínimo em forma de poema por Márcio Calafiori)




O que de mais remoto me lembro:
meus pais tomando o café da manhã
na casa da Rua Zalony. Na ponta dos pés,
tento alcançar alguma coisa na mesa.
Ele levanta, ela o acompanha até a porta.
Enquanto isso, pego a fatia de salame.
Agora, estou seriamente engasgado. Num
lampejo inédito, terrível, tenho consciência
de que estou vivo — e que vou morrer.
De volta à cozinha, minha mãe me pega, tropeça
e cai. O impacto do tombo livra a minha garganta:
— Ah, como é bom respirar.





Márcio Calafiori é jornalista. 
Nasceu em 1957 e se formou 
pela Facos em 1986. 
Exerceu quase todos os cargos 
em redações de jornais em Santos, 
Santo André, Campinas e São Paulo. 
Foi redator, repórter, revisor, editor, 
secretário de redação, 
chefe de reportagem e ombudsman. 
Aposentou-se em 2012 
como professor da Unisanta, 
depois de 29 anos 
de dedicação exclusiva 
ao Jornalismo Impresso.
Colabora regularmente com
LEVA UM CASAQUINHO.


No comments:

Post a Comment