Friday, June 23, 2017

A HAVAIANA MAIS AUSTRALIANA DO PLANETA TERRA COMPLETA 50 ANINHOS ESTA SEMANA.

por Chico Marques


Pouca gente sabe, mas a belíssima atriz australiana Nicole Kidman nasceu, na verdade, em Honolulu, Hawaii.

Filha de um renomado psiquiatra e pesquisador em bioquímica e de uma enfermeira, ela foi morar em Sydney com três anos de idade.

Como era linda desde pequenininha, virou uma modelo infantil de sucesso.

Quando cresceu, ficou ainda mais linda, e tratou de estudar artes dramáticas para tentar alguma coisa na TV australiana, que a recebeu de braços abertos.

Da TV para o cinema foi um pulinho, e com a projeção que o Cinema Australiano ganhou a partir de meados dos Anos 80, nossa linda ruivinha não demorou muito até que seu rosto começasse a despontar em filmes muito interessantes como "Flirting" (onde contracena com a também muito jovem Naomi Watts) e "Dead Calm" (ao lado de Billy Zane e Sam Neill), ambos sucessos internacionais.

Seu primeiro trabalho hollywoodiano foi "Dias de Trovão", um ótimo drama de corridas dirigido por Tony Scott e escrito pelo especialista Robert Towne, onde ela não só rendeu uma ótima performance como também começou a namorar seu futuro maridão Tom Cruise, com quem foi casada por 10 anos.



Enquanto esteve casada com Cruise, Nicole Kidman procurou seguir um caminho próprio, o mais desatrelada possível da carreira do marido.

Graças a suas escolhas, Nicole conseguiu desenvolver uma carreira bem mais consistente em termos artísticos que a do marido. Fez thrillers inisitados como "Malícia" e "Um Sonho Sem Limites", musicais como "Moulin Rouge", dramas históricos como "Billy Bathgate" e "Retrato de uma Mulher" e ainda blockbusters como "O Pacificador" e "Batman Eternamente".

Claro que, vez ou outra, Cruise e ela acabaram contracenando em projetos como "Um Sonho Distante" de Ron Howard e "De Olhos Bem Fechados" de Stanley Kubrick, mas foram apenas esses.


Nicole Kidman viveu sua melhor fase como atriz da virada do século para cá, depois do fim de seu casamento com Tom Cruise, esbanjando versatilidade, vontade de trabalhar e uma atitude sempre inquieta, desafiando os padrões e as expectativas de Hollywood, dos críticos e do seu público com suas inesperadas escolhas.

Conseguiu alternar filmes que a tornaram uma atriz extremamente popular -- como "A Intérprete", "Austrália", "A Bússola de Ouro" e "Mulheres Perfeitas" -- com outros bem independentes -- "Margot e o Casamento" de Noah Baumbach, "Pele" e "Reencarnação", ambos de Jonathan Glazer -- e alguns até experimentais -- caso de "Dogville", de Lars Von Trier.

Mas foi em dramas como "As Horas", onde ela interpreta Virginia Woolf na derradeira crise de depressão de sua vida, e "Uma Longa Viagem", onde ela contracena com Colin Firth, além de trabalhos mais recentes como "Olhos da Justiça" de Billy Ray (refilmagem do premiado filme argentino "O Secredo de Seus Olhos") e "Hemingway e Gellhorn" de Philip Kaufman que Nicole finalmente ganhou status de grande atriz.


Ano passado, às vésperas de completar 50 anos, Nicole tratou de se antecipar a um novo momento de sua carreira, onde os papéis como protagonista em filmes para cinema começam a escassear, e decidiu apostar pesado na TV, onde foi recebida como uma grande estrela.

Participou de Big Little Lies, série da HBO dirigida pelo brilhante Jean-Marc Vallée, ao lado de Reese Whiterspoon, Laura Dern e Shailene Woodley.

E está escalada para a segunda temporada de Top of the Lake, série de Jane Campion para a BBC-TV, com Elisabeth Moss e Gwendoline Christie.

Mas continua incansavelmente envolvida com cinema, em filmes que prometem surpreender, como os ainda inéditos "How to Talk to Girls at Parties" de John Cameron Mitchell e "The Beguiled" de Sofia Coppola.

Daí, comemoramos a aniversário de 50 anos de Nicole Kidman promovendo um rápido tour em sua carreira através de 8 grandes filmes dos quais ela participou, e que estão disponíveis nas estantes da Paradiso Videolocadora. 







Cold Mountain (2003)
Dir.: Anthony Minghella

Romance ambientado na Guerra Civil americana escrito por Charles Frazier, Cold Mountain foi convertido para os cinemas pelas mãos de Anthony Minghella, realizador que em 1997 conquistara 9 Oscars com O Paciente Inglês (incluindo o prêmio de melhor filme e diretor). Logo que fora anunciado, o filme gerou muitas expectativas não só pelo precedente de Minghella com materiais desse tipo, mas também porque, para muitos, Cold Mountain estava destinado a ser o E o Vento Levou das novas gerações. Não foi o caso, mas o filme de Minghella é um título bem eficiente aos propósitos de contar uma espécie de Odisseia de Ulisses com o retorno do soldado desertor Inman, Jude Law indicado ao Oscar, ao povoado de Cold Mountain para reencontrar a sua amada Ada, personagem de Kidman, que tenta colocar a sua propriedade rural de pé ao lado da amiga Ruby, papel de Renée Zellweger. O trio central estava em alta na ocasião (Kidman e Zellweger acabavam de sair de duas disputas consecutivas pela estatueta do Oscar), mas o filme também reserva ótimos momentos para atores conhecidos em participações especiais, como Natalie Portman, Philip Seymour Hoffman, Charlie Hunnam e o músico Jack White. Rendeu a Renée Zellweger diversos prêmios como atriz coadjuvante, incluindo o da Academia de Hollywood.

Um Sonho sem Limites (1995)
Dir.: Gus Van Sant

Sensação em Cannes quando foi exibido em 1995, a comédia de humor negro Um Sonho sem Limites fez o público respeitar Nicole como atriz, descolando-a da imagem que até então era mais difundida da australiana, a de sra. Cruise. No longa de Gus Van Sant (Gênio Indomável, Milk), Kidman interpreta uma garota do tempo casada com um homem simples (Matt Dillon) que faz de um tudo em sua escalada ambiciosa por fama e dinheiro no showbusiness. Suzanne Stone é tão obcecada por sua carreira na televisão que contrata três adolescentes, vividos por Joaquin Phoenix, Casey Affleck e Alison Folland, em início de carreira, para orquestrarem um plano macabro ao seu lado. A interpretação de Kidman nesse filme rendeu a atriz diversos prêmios, incluindo o seu primeiro Globo de Ouro (melhor atriz em comédia ou musical) e um Critic’s Choice Award. Merecia ter sido indicada ao Oscar. Suzanne Stone é a bitch preferida de 9 em cada 10 fãs da Nicole e mostra para o público um lado sombrio da atriz.
A Pele (2006)
Dir.: Steven Shainberg

Baseado na biografia da fotógrafa nova-iorquina Diane Arbus escrita por Patricia Bosworth, A Pele é um dos títulos pouco conhecidos na carreira da atriz. Conduzido por Steven Shainberg, que em 2002 havia dirigido o inusitado Secretária com Maggie Gyllenhaal, o longa reimagina a trajetória de Arbus dentro do próprio universo que a fotógrafa buscava retratar em seu trabalho, àquele de pessoas marginalizadas por suas deficiências físicas. Com inspirações em contos “infantis” como A Bela e a Fera e Alice no País das Maravilhas, Shainberg opta por uma abordagem não convencional em biografias, a não literalidade, a leve ausência de realismo e a reimaginação de eventos reais em tom onírico, ao transformar a reprimida Diane em uma das maiores fotógrafas americanas de todos os tempos. O longa prima pelo apuro estético e investe na parceria entre Kidman e Robert Downey Jr., quando ainda se interessava por fazer outra coisa além de dar vida a Tony Stark na franquia da Marvel Vingadores.
Reencarnação (2004)
Dir.: Jonathan Glazer

Provavelmente um dos títulos mais injustiçados na carreira da atriz, Reencarnação só passou a ser visto com outros olhos pela crítica nos últimos anos em movimentos de revisão da obra empreendidos por algumas vozes importantes na área. O longa traz Nicole como Anna, uma mulher que ainda se recupera da trágica morte do seu companheiro Sean. Quando ela começa a refazer a sua vida e anuncia que se casará novamente, surge um garoto de dez anos que diz ser a reencarnação do falecido Sean. Segundo longa-metragem da pequena, mas interessante, carreira de Jonathan Glazer (Sexy Beast e Sob a Pele), Reencarnação gerou polêmica na sua época pela famosa cena em que a atriz aparece nua em uma banheira com o garoto Cameron Bright e não agradou parte da crítica presente no Festival de Veneza quando ele fora exibido por lá. Contudo, o longa é muito mais do que esta cena. Reencarnação acaba revelando-se como um interessante ensaio do diretor sobre o processo do luto e da crença e traz uma das mais intensas interpretações da carreira de Nicole. Em uma das cenas mais memoráveis do filme, Kidman apresenta um misto de reações da sua personagem em um plano fechado durante a apresentação de uma ópera. É primoroso.
De Olhos Bem Fechados (1999)
Dir.: Stanley Kubrick

Último filme da carreira do cultuado Stanley Kubrick (O Iluminado, Laranja Mecânica), De Olhos bem Fechados foi um verdadeiro divisor de águas na carreira da atriz. Segundo relatos da mesma, a partir do seu contato diário com o perfeccionista cineasta, Kidman entendeu que estava na hora de priorizar a sua carreira, algo que a australiana colocara em segundo plano nos seus primeiros anos de casada. A partir dali, a atriz viveu a sua fase de ouro, que compreendeu os anos de 2001 a 2003, mas também um dos momentos mais tumultuados da sua vida pessoal, o rompimento com o marido na ocasião, o ator Tom Cruise, que, por sinal, é o protagonista deste longa. De Olhos bem Fechados trazia Cruise e Kidman como o casal Harford, cujo matrimônio é sacudido com a revelação de que Alice (Kidman) se sentia atraída por outros homens. A partir daí, William (Cruise) faz uma descida a seus mais profundos e obscuros desejos em uma jornada que envolve um encontro com um antigo amigo, breves momentos com uma garota de programa e uma passagem por uma soturna sociedade secreta. Redescoberto aos poucos através de processos de revisão após a sua tumultuada estreia em 1999, De Olhos bem Fechados é mais um exemplar do que Kubrick soube fazer de melhor na sua carreira: encher os seus filmes de um refinado uso da linguagem audiovisual e se aventurar pelos recônditos da psiquê humana.
Dogville (2003)
Dir.: Lars von Trier

Em 2002, a atriz embarcou para a Suíça e Dinamarca a fim de começar as filmagens de Dogville, longa do cineasta Lars von Trier (Melancolia, Ninfomaníaca), dando início a trilogia “Terra de Oportunidades”, na qual o diretor abordaria temas relativos a sociedade americana. Exibido em Cannes em 2003, o filme é marcado por opções ousadas do realizador. Com cerca de três horas de duração, o longa é conhecido pela ausência de cenários, substituídos por marcações a giz feitas em um galpão que reproduz o vilarejo de Dogville no Colorado. Na história, as pessoas do local abrigam a jovem fugitiva Grace (Kidman). Aos poucos, a bondade da moça começa a ser explorada pelos habitantes de Dogville, que de generosos e acolhedores passam a ser capazes de cometer as maiores atrocidades com Grace. Fruto de um processo criativo psicologicamente exaustivo, já que Trier é conhecido por ser bastante exigente com as suas protagonistas, este talvez seja uma das mais interessantes interpretações da carreira de Kidman em um filme que não apenas questiona a política de “boa vizinhança” dos EUA, mas também a própria natureza do homem, testando os limites da generosidade e bondade da humanidade através do seu olhar para a comunidade de Dogville e para a sua protagonista. O filme rendeu apenas uma continuação chamada Manderlay, na qual Bryce Dallas Howard interpretou Grace. Washington, que seria o terceiro filme da trilogia, nunca chegou a ser feito por Trier.
Os Outros (2001)
Dir.: Alejandro Amenábar

Em recente entrevista, James Wan, diretor da série Invocação do Mal, considerado por muitos como um dos mestres do terror contemporâneo, afirmou que Os Outros é um filme exemplar no seu gênero pela maneira como trata o tema do sobrenatural. A escolha de Wan é coerente, afinal o chileno Alejandro Amenábar (Preso na Escuridão, Mar Adentro) soube utilizar muito bem todos os recursos pelos quais, hoje, o malasiano é conhecido. Ao contar a história de uma mulher e seus dois filhos presos em uma mansão na ilha de Jersey durante a Segunda Guerra Mundial, aguardando o fim do conflito, Amenábar trabalha muito bem na composição de uma atmosfera de tensão com poquíssimos recursos digitais. O realizador opta por priorizar o uso de jogos de luzes e efeitos de câmera. Além disso, o diretor, com a ajuda de um roteiro escrito pelo mesmo, consegue sustentar o seu filme nos consistentes conflitos emocionais dos seus personagens principais. Pelo filme, Kidman foi indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta de melhor atriz.
As Horas (2002)
Dir.: Stephen Daldry

Reunir Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep no elenco principal de um filme e ainda trazer coadjuvantes do calibre de Ed Harris, Toni Collette, Claire Danes, Allison Janney, Miranda Richardson, John C. Reilly, Jeff Daniels e Margo Martindale é fazer de um filme um verdadeiro evento cinematográfico. O inglês Stephen Daldry (de Billy Elliot e O Leitor) adaptou o romance As Horas, de Michael Cunningham, para os cinemas e o resultado foi um filme marcante para toda uma geração de cinéfilos e amantes da literatura. No longa, o espectador acompanha um dia na vida de três mulheres em três épocas distintas das suas vidas, todas vinculadas a uma única obra literária: em 1923, a escritora inglesa Virginia Woolf (Kidman) lida com sua depressão enquanto desenvolve o célebre romance Sra. Dalloway; em 1949, enquanto lê o livro de Woolf, a dona de casa Laura Brown (Moore) tem que tomar uma importante decisão nos preparativos do aniversário do marido; e, em 2001, a editora Clarissa Vaughn (Streep) prepara uma festa para a premiação do seu melhor amigo. Entre outras questões, o filme é sobre as decisões que tomamos em nossas vidas e como nossas escolhas, muitas vezes, implicam na infelicidade dos que estão ao nosso redor, mas existem muitas leituras, todas pertinentes, e seria necessário uma postagem à parte para dar conta de todas elas. O longa foi indicado a 9 Oscars, mas só levou para casa o prêmio de melhor atriz para Nicole. No Festival de Berlim, Kidman, Streep e Moore receberam juntas o prêmio de melhor atriz. Quase fizeram parte da lista: Margot e o Casamento (2007), de Noah Baumbach; Segredos de Sangue (2013), de Park Chan Wook; Retratos de uma Mulher (1996), de Jane Campion; Reencontrando a Felicidade (2010), de John Cameron Mitchell.





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