Saturday, June 3, 2017

CAFÉ & BOM DIA #62 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Marceline Desbordes Valmore vale a pena não só pelas poesias, mas também pela biografia. É uma artista atormentada que nascida no século XVIII, 1786 e luziu até 1859. Filha de um pintor dourador de armas e ornamentos que ficou arruinado pela revolução francesa decidiu construir vida em Guadalupe nas Caraíbas, porém num momento convulso que fez com que voltasse para a França sem sua mãe, falecida com febre amarela nesta curta estadia. Essa volta tornou a situação familiar pior do que a partida. Marceline teve uma recomendação para o corpo de cantores da Ópera Comique, era então 1804 e logo renunciou ao canto para tornar se atriz do Odeon. Conhece e se apaixona por Henri Latoche com quem mantém uma tortuosa relação mesmo casada com Prosper Lanchantin. Seu primeiro livro surge em 1819, foi reimpresso em 1821 com o título de "Poesies" . Lendo as poesias de Marceline Desbordes podemos percorrer um caminho de reflexões da infância, amor, maternidade, amizade, solidariedade e morte. Pode em principio parecer uma poesia simples, mas é de delicado estilo com regras diversificadas sobretudo ´nos versos impares. Contudo muito pouco difundida entre nós ainda que seja ela uma das maiores da literatura francesa.



DOIS ANOS ATRÁS - "Laranja Mecânica” é, à primeira vista, um romance de difícil leitura porque o autor inventou uma linguagem em gírias para ser falada por adolescentes que causa estranhamento por causa dos termos eslavos (mistura do russo e do inglês, chamada de “Nadsat”) e palavras rimadas – que exigem dedução para o entendimento. Para facilitar, a maioria das edições do romance é acompanhada de um glossário. Cada linha traz pelo menos uma palavra completamente desconhecida. Com o correr das páginas, porém, o leitor começa a se acostumar e a perceber que a compreensão não é prejudicada por isso – sem contar que Burgess foi genial ao ajudar na dedução dos significados. O escritor explicou em uma entrevista que o título veio da velha expressão “cockney, as queer as a clockwork orange”, traduzida como “tão bizarro quanto uma laranja mecânica” – que muitos entenderam como a denominação de uma engrenagem que tritura cérebros por meio de lavagem cerebral ou hipnotismo. Burgess escreveu seu romance no momento mais dramático de sua vida, no começo da década de 1960, quando, erroneamente, diagnosticaram câncer em seu cérebro. Para não deixar a esposa desamparada, pôs-se a trabalhar desesperadamente, movido pelo medo de morrer antes de concluí-lo. A ideia do romance nasceu de um fato real ocorrido em 1944, quando sua primeira mulher foi estuprada por quatro soldados norte-americanos. Dividido em três partes, cada uma com sete capítulos, o livro tem 21 capítulos, como gesto intencional de simbolizar os 21 anos de idade como um marco na maturação humana. Em sua história, os soldados estupradores viram uma pequena gangue em uma Inglaterra de futuro não muito distante, que vive um grave problema da cultura de extrema violência juvenil, praticada, no caso, pelo narrador do romance, um adolescente desajustado que sente prazer em agredir e até matar as pessoas, o lunático e cruel Alex, uma espécie de filósofo do caos que promove arruaças, intimidações, brigas, estupros e assassinatos. Esse livro me impressiona.



O ceticismo de Valery me encanta. Valery é autor de poesias intelectualizadas, de um profundo ceticismo, sem remorso, sem astucia , poeta simbolista e mallarmeano. Vamos encontrar na poesia uma combustão essencialmente sutil, alquimia em que a sensualidade, espírito, imaginação, sonho e meditação se aliam. Tomo dois ensaio para ler " Meu Fausto " e " Degas " e me envolvo com uma grande originalidade no método , especificamente na arte, desenvolvida em rara medida e densidade. Como se fora um perito. Na poesia é claro termos poetas mais insubstituíveis que Valery, mas não tão apaixonados. É intrigante a dilatação da capacidade, do espírito humano sem querer explicar o mundo. Seus ensaios foram publicados em cinco volumes, mas aqui somente alguns poucos. "O próprio livro dança, em movimentos intelectuais complexos que, contudo, não buscam deslocar-se a um ponto definido. Valéry capta fragmentos, escolhas poéticas, que guardam o que ele chama de “tempo da ressonância” e exprimem os ornamentos da extensão e da duração. Sua prosa desdobra literariamente aquilo que Degas dizia em relação ao desenho: “O desenho não é a forma, é a maneira como se vê a forma”.



Burro é o nome dado ao filhote macho do cruzamento entre o jumento, também chamado de asno ou jegue (Equus asinus), com a égua, ou cavalo fêmea (Equus caballus). Quando se trata de uma fêmea resultante desse cruzamento, falamos em mula. Como são indivíduos resultantes do cruzamento entre espécies com número de cromossomos diferentes, apresentando número ímpar de cromossomos, burros e mulas tendem a nascer estéreis. Esses animais se apresentam mais parecidos com os cavalos do que com os jumentos. Eles têm porte que varia do pequeno ao médio, orelhas grandes (mas menores que as dos jumentos) e pelo curto. São muito resistentes, dóceis e com grande capacidade de equilíbrio, atravessando, com agilidade, trilhas estreitas, sinuosas, pedregosas, acidentadas e íngremes. Além disso, possuem a audição bem apurada, grande sensibilidade em seus cascos; e olfato e paladar mais rudes, permitindo com que sejam bem menos seletivos quanto à alimentação. Graças a esses atributos, tais animais foram amplamente utilizados no transporte de cargas, tais como alimentos e mercadorias; sendo, por isso, tratados como indivíduos de grande estima. Infelizmente, a urbanização e modernização do transporte de cargas fizeram com que esses equinos perdessem seu prestígio, assumindo o sinônimo de atraso.



Borges foi um imitador mixuruca de Kafka. John Cage tentei ouvir duas vezes, nada. Tentei ler seu livro "Silencio", nada. Um impostor completo, o significado da obra de Cage é nenhum como ele próprio afirma ser. Joseph Conrad é paradigmático e parece ser traduzido do polonês. A juventude de hoje pensa estar inventando alguma coisa e inventou, alardeando o que faz. Quer mais? Então vamos lá. Marguerite Duras é uma projetora dos sentimentos masoquistas que parecem ser afirmações de independência feminina, mas é só uma maneira de enganar. Michel Foucaut suprime Safo e lesbianismo na sua história da sexualidade . Cita uma infinidade de escritores desconhecidos e suprime também Platão e Juvenal. Essa é a coragem de Paulo Francis para dizer o que pensa. Direito inalienável. Qual o motivo de tomar como ofensa? Cada leitor tem impressões próprias o fato de pontificar não faz de ninguém menos ou mais. É apenas uma opinião. Eu acho Alexander Soljenítsin muito chato, José de Alencar um porre e muitos outros, e daí?



Desses dias que acordamos do avesso,onde se começa donde quisermos desde que seja no avesso. O raciocínio parece ter dormido numa coqueteleira mal tampada, vaza líquido do avesso. Não há limites no avesso do espelho de Dorian Gray. Não há água nas torneiras para lavar o rosto e o estágio de degradação se torna padrão. Andamos pelas ruas avessas como se os raios solares fossem entregues para noites sem luar e sem estrelas. Minhas mãos estão molhadas pelo liquido que vaza de um copo avesso. Meus olhos estão abertos, sei que estão abertos mas o avesso quer que pense estarem fechados. Sei onde estão todas as coisas do meu cotidiano, minhas mãos alcançam ainda que esteja no avesso. Eu não acredito em mágica. Eu não acredito em I-ching. Eu não acredito em bíblia. Eu não acredito em tarô. Eu não acredito em Hitler. Eu não acredito em Jesus. Eu não acredito em Kennedy. Eu não acredito em Buda. Eu não acredito em mantra. Eu não acredito em gita. Eu não acredito em yoga. Eu não acredito em reis. Eu não acredito em Elvis. Eu não acredito em Zimmerman. Eu não acredito em Beatles.

EU ACREDITO EM MIM, NO MEU CAFÉ
E NO AVESSO DO AVESSO.



Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.



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