Isso
aqui ainda é uma Mercearia e, como um razoável estabelecimento de
secos-e-molhados, não há nada de errado na realização de bons negócios.
Todos
os negócios são bem-vindos: se o ofertado nesse humilde comércio encontra algum
interesse por parte do(a) querido(a) freguês(a), podemos conversar sobre os
métodos e formas de pagamento.
Alguém
comercializar o que deseja, e da forma como melhor convir, é algo livre de
maiores interferências. Assunto que só caberia para as partes interessadas.
Contudo
(e bem ‘contudo’!), a negociação não pode virar negociata: se houver
‘externalização’, aí...
Para
os que ainda não conhecem o conteúdo do termo ‘externalização’, super simples:
imaginem uma fábrica de pneus. Imaginaram?! Pois bem, para que essa fábrica
venda seus produtos, fábricas de automóveis são necessárias. Para que essas
fábricas de automóveis tenham bom êxito, ruas precisam ser abertas.
Porém,
o dinheiro para a abertura dessas vias não vem nem da fábrica de carros, nem da
indústria de pneus. Não é permitida a construção de uma rua pela iniciativa
privada, cabendo ao famigerado ‘poder público’ arrecadar os devidos impostos
para utilizar o dinheiro desses tributos no ‘nascimento’ dessas ruas.
Entretanto,
o lucro tanto da fábrica de pneus quanto da automobilística está diretamente
ligado à presença dessas vias. Sem elas, cessam as vendas desses dois artigos e
esse ganho das fábricas fica comprometido.
Ou
seja, para que a fábrica de pneus lucre, é preciso que o povo pague pela
abertura de ruas. A isso damos o nome de ‘externalização’.
Todo
comércio é sagrado, e não há problema algum em comercializar o que for. Só que
para o sucesso dos negócios, a transação precisa estar boa para um, boa para o outro
e excelente para absolutamente todo mundo, até mesmo para aqueles que nem
estavam sabendo da negociação. Caso contrário, ...
Então,
vamos lá... o que tem de gente fazendo negocinho escuso, obscuro pacas,
esquisitaço, entre outras bossas, não está no gibi. E se vocês acham que
estamos falando de ‘políticos’, na-na-ni-na-nina! É da massa da população,
mesmo! Povão... já ouviram falar?! É cada troca-troca de cair o queixo.
Aí...
quando a transação dá errada, o que se esperava não veio... é um tal
‘pé-na-cara’, ‘pé-na-porta’, esculacho, ‘bas fond’, gritaria... um ‘auê’
daqueles.
É
de se perguntar ao(à) distinto(a): “... mas o que é que você queria fazendo
negócio com essa gente?! Tapete vermelho?! Nota fiscal com certificado de
garantia estendida?!”. Dá licença, ‘né’?!
O
segredo da boa negociação não tem segredo: ela simplesmente tem de ser boa para
pessoas que a gente nem conhece. Tem de ser boa ‘no geral’, não somente para as
partes imediatamente envolvidas. Negociação de sucesso é aquele que não
interfere negativamente na vida de alguém. Se não for assim, é um ‘saruê’ ‘da
moléstia’.
Porque
o que por aqui se faz pode ter sua representação em esferas mais elevadas. Aí,
é bom não reclamar...
Reiterando
a Mercearia da semana passada, continuamos a achar muuuuuito estranho a urgência
nas reformas trabalhista e previdenciária, sob a alegação de que é “... para
salvar as aposentadorias e pensões” e de que “... são absolutamente necessárias
para a retomada do crescimento no país”.
15
entre 10 economistas convidados para as comissões de assuntos econômicos das
casas legislativas são quase categóricos na afirmação de que não essas reformas
que farão o país crescer novamente. Segundo eles, o Brasil, de fato, nunca
‘cresceeeeeu’... assim... ‘taaaanto’ nos últimos 20 anos. Apenas teria feito
alguns ajustes pontuais que beneficiaram certo aumento de renda interna,
pequenas mudanças que contaram com certa conjuntura favorável.
As
mudanças que realmente garantiriam bom rumo para essa retomada do crescimento
seriam as reformas política e tributária. Isso, somado ao bom andamento da
educação no país, é o que realmente daria certo alento para o tão sonhado “...
crescimento”.
No
mais, uma discussão bem tépida se deve haver ‘... mais imposto’, ‘... menos
imposto’, ‘... mais direitos’, ‘... menos direitos’ que parece realmente não
levar a lugar algum. Isso sem contar que se o troço der errado, a conta vai
para ‘la derrière’ populacional.
Ou
como dizia o falecido Alborghetti: “(...) Tudo o que pinta de novo, pinta na
bunda do povo. (...)” [sic].
Midiaticamente,
o ‘trem’ é uma verdadeira cracolândia: políticos, formadores de opinião e
imprensa em desespero, naquela fissura, para que as reformas sejam aprovadas
para ontem. Se Deus aparecer em Brasília, dizendo: “... é ‘nóis’, mano! Relaxa
com esse lance de reforma que ‘tá’ tudo sussa...”, vai levar pedrada que só.
“Reformas...
ou morte!”. Hmm... esquisitaço, isso! De novo, “tem gato na tuba”. Expliquem
isso direito: as trabalhistas e previdenciárias na frente das políticas e
tributárias. E tem de sair a qualquer custo! Estranho... muuuuuito estranho.
Aí,
nem precisa dizer, ‘né’... é negociata, não é negociação. Se bobearmos, a
Constituição é rasgada e feita de confete para mais um carnaval. E o pessoal
sequer se enrubesce, gagueja, ou qualquer coisa parecida.
O
atual governo já sinalizou ao mercado sua mais nova ameaça: se a reforma
previdenciária não sair na íntegra, os pontos rechaçados voltarão à casa
legislativa por meio de medida provisória. Essa Mercearia, ao ouvir tamanha
sandice, lembrou da infância: um negocinho fascistoide ‘per cazzo’. Lembramos
do Figueiredo. Pensamos: “Não é possível! A foto de presidente pendurada no
gabinete do Temer deve ser a do Ernesto Geisel!”. Só pode...
Walter
Benjamin sempre nos pareceu meio cético em relação às ‘novidades da história’:
realmente, andamos, andamos, andamos e a impressão que se tem é de uma
involução de doer na alma.
A
pergunta que se faz não é “... andaremos na linha?!”. A grande curiosidade fica
em qual momento faremos algo bom para todos.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
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