Sunday, March 27, 2016

CAPAS E CAPUZES: UM HISTÓRICO DOS SUPER-HERÓIS NA TV (por Carlos Cirne - parte 1)

publicado originalmente em Colunas & Notas
com material da Playlist


Se você acha que os super-heróis estão dominando os cinemas nesta segunda década do século 21, você certamente não tem prestado muita atenção à televisão. Mesmo num ano carregado de estreias baseadas em heróis de comic books, com sete superproduções chegando aos cinemas -- Deadpool, Batman vs Superman: A Origem da Justiça, Capitão América: Guerra Civil, X-Men: Apocalypse, Tartarugas Ninja 2, Esquadrão Suicida e Dr. Estranho –- a programação da televisão chega perto de uma centena de horas recheadas de lutadores contra o crime, oriundos dos quadrinhos, este ano.

Com a chegada da segunda temporada do Daredevil da Marvel ao Netflix – que teve uma primeira aclamada temporada – chegamos à soma de pelo menos dez séries baseadas em super-heróis atualmente em cartaz na televisão (nem todas no Brasil), incluindo Arrow, Marvel’s Agents Of S.H.I.E.L.D., The Flash, Gotham, Agent Carter, Powers, Supergirl, Marvel’s Luke Cage e Legends of Tomorrow. E isso sem contar as séries de animação, ou as limitações orçamentárias que sempre acompanham as produções para televisão, que nem sempre podem destruir cidades inteiras que seus primos dos cinemas conseguem. Mesmo assim, há uma longa tradição de super-heróis dos quadrinhos sobrepujando as adversidades e os baixos orçamentos de produção, alcançando milhões de espectadores durante anos, e emulando tão perfeitamente as criações dos comic books. Eis, portanto, um pequeno histórico dos super-heróis em carne e osso (ou aço) na televisão.


ANOS 1950: MAIS RÁPIDO QUE UMA BALA DE REVÓLVER

Resumindo uma longa história: as aventuras de super-heróis em quadrinhos se popularizaram nos anos 1930 e atingiram seu apogeu durante a Segunda Guerra Mundial, quando heróis como Superman, Capitão América e Mulher Maravilha venderam milhões de exemplares. Mesmo antes deles, heróis em potencial já eram muito populares em shows de rádio, como Besouro Verde, Lone Ranger e Doc Savage. Não demorou para que estes heróis mudassem de mídia, com o Besouro Verde se tornando um herói de quadrinhos em 1940 e o Superman indo para o rádio em 1942, sempre em seriados. Um delicioso exemplo destes seriados pode ser visto em A Era do Rádio (Radio Days, 1987), filme de Woody Allen, onde ele conta sua infância.

Alguns destes personagens se aventuraram pelas telas de cinema, ainda em seriados, como o Zorro, O Sombra, Capitão Marvel/Shazam e o Capitão América chegando aos cinemas antes do final da Guerra. E dois dos maiores sucessos dos dias de hoje, Batman e Superman, tiveram seus próprios seriados no período também, com Kirk Alyn na capa do Superman por quinze episódios de enorme sucesso para a Columbia. Mas os seriados estavam com os dias contados, no final dos anos 1940, com a chegada da televisão.



Um dos primeiros grandes sucessos da Era de Ouro da Televisão foi uma série de “super-herói” da ABC, The Lone Ranger - no Brasil, estranhamente batizado de Zorro, o mesmo nome do personagem depois lançado pela Disney (1957 a 59), estrelado por Guy Williams -, aproveitando um conhecido herói do rádio, um cowboy de máscara negra – personificado por Clayton Moore -, seu cavalo SIlver e constantemente acompanhado por seu amigo, o índio Tonto (Jay Silverheels), que foi ao ar de 1949 a 1957, chegando a ser um dos dez mais assistidos shows da TV americana no período. Em tempo: esqueçam o estapafúrdio remake feito para os cinemas em 2013 -- O Cavaleiro Solitário --, estrelado por Johnny Depp e Armie Hammer.

Os quadrinhos de super-heróis viram suas vendas caírem depois da guerra, sendo paulatinamente substituídos por histórias de horror, western, ficção científica e romance, mas alguns dos grandes sucessos permaneceram em atividade. Talvez se aproveitando do sucesso de The Lone Ranger, o produtor e distribuidor de filmes B, Robert L. Lippert, comprou os direitos do Superman, contratando os redatores da DC Comics, Whitney Ellsworth e Robert Maxwell, responsáveis pelo seriado do Superman do rádio, para criar um especial de uma hora chamado Superman and the Mole Men, em 1951, com o resto da série, chamada As Aventuras do Superman, sendo filmada ainda naquele ano, mas indo ao ar apenas no ano seguinte.



Filmada de maneira rápida e barata (o elenco todo recebia apenas U$ 2000 por episódio), com o nosso herói combatendo ladrões e gângsteres ao invés de sua tradicional galeria de vilões, a série foi mudando de sua estética “film noir” do princípio a um tom mais leve e engraçado em suas temporadas posteriores. Acabou se tornando um sucesso então e até hoje, com constantes reprises ainda acontecendo na TV americana. Na sexta temporada havia a previsão de que, pelo menos, duas mais fossem acontecer. Porém, de maneira absolutamente chocante, George Reeves, astro do show, foi encontrado morto em sua casa de Los Angeles, com um tiro na cabeça. Reeves sempre teve dificuldades de lidar com o personagem que o fez famoso, tendo ainda um histórico de problemas financeiros e, portanto, sua morte foi declarada como suicídio.

Mas as teorias de conspiração logo sugeriram que ele havia sido assassinado, com as suspeitas recaindo sobre sua ex-amante Toni Mannix, casada com Eddie Mannix, um dos chefões da MGM. Os últimos dias de vida de Reeves foram dramatizados no filme de 2006, Hollywoodland, ironicamente tendo o futuro Batman no papel de Reeves, Ben Affleck. Com a morte do ator, a série morreu com ele, e a televisão se manteve longe dos super-heróis até a próxima década.

(continua amanhã...)


Carlos Cirne é um dos mais respeitados
críticos de cinema de São Paulo.
Ao lado do pesquisador teatral Marcelo Pestana,
vem editando há 14 anos a newsletter
COLUNAS E NOTAS
que conta com mais de 10 mil assinantes.
Marcelo Pestana e Carlos Cirne apresentam
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