Wednesday, March 30, 2016

CAPAS E CAPUZES: UM HISTÓRICO DOS SUPER-HERÓIS NA TV (por Carlos Cirne - parte 3)


publicado originalmente em Colunas & Notas
com material da Playlist


O SÉCULO 21: VOCÊ ESTÁ A UM MAU DIA DE MIM

No mesmo ano em que Lois & Clark saíram do ar, Batman & Robin, de Joel Schumacher, parecia selar o destino dos filmes de super-heróis. Mas o que os quadrinhos sempre ensinaram é que os super-heróis não se mantêm mortos por muito tempo.

Depois de anos de erros ou quase acertos, a Marvel repentinamente teve um momento de sorte e a partir de Blade (1998), X-Men (2000) e Homem-Aranha (2002), os heróis estavam presentes novamente, e as coisas foram num crescendo, até chegar aos bilhões de arrecadação de hoje.

E, devagar, as coisas foram acontecendo na TV também. Não foram tão bem a princípio. Basta “lembrar” das esquecíveis Mutant X (três temporadas e um processo de paternidade entre Fox e Marvel); The Tick (sendo revista agora pela Amazon); Witchblade, da TNT; um obscuro spin-off de Batman chamado Birds of Prey; e uma versão pobre de Blade para a TV.



A série mais bem sucedida – e, na verdade, a mais longa série de super-heróis desde sempre – foi outra derivação do Superman, chamada Smallville. Foi desenvolvida para o canal WB e seria, a princípio, uma história sobre a juventude de Bruce Wayne, a partir do projeto abortado de Darren Aronofsky Batman: Ano Um. Acabou sendo focado no jovem Clark Kent (Tom Welling), no período anterior à sua mudança para a grande cidade, com seus poderes ainda descontrolados, mesclando romance adolescente -– numa linha Dawson’s Creek –- com ação, e a amizade com sua eventual nêmeses Lex Luthor (Michael Rosenbaum) e a paixão por Lana Lang (Kristin Kreuk), antes de Lois Lane entrar em cena.

Sem nunca ter sido um queridinho da crítica, Smallville conseguiu manter o interesse dos fãs, acrescentando elementos de novela à ficção científica e apresentando aos fãs as primeiras aparições de vilões como Brainiac e Darkseid, além de belas homenagens a figuras icônicas da franquia, como Christopher Reeve (o Superman do cinema) aparecendo em inúmeros episódios. Nunca teve uma audiência espetacular, mas manteve um público fiel durante 10 temporadas e mais de 100 episódios. Sua influência pode ser notada ainda hoje, na grade atual do canal CW, com Arrow, The Flash e Legends Of Tomorrow, além da Supergirl, na CBS, todos com estrutura muito similar a Smallville.



Outro nicho explorado no período foi a orfandade dos fãs de Lost, que demandavam mistério serializado, o que levou aos altos índices de audiência iniciais de Heroes, que infelizmente não conseguiu manter a qualidade dos episódios, perdendo espectadores no decorrer de suas temporadas. Recentemente, a minissérie Heroes Reborn não conseguiu alcançar o sucesso desejado.

Na esteira do sucesso de títulos como Batman: O Cavaleiro das Trevas e Os Vingadores, era esperado que shows de super-heróis alcançassem grande sucesso, mas a tendência parece ter se estabilizado.



Surpreendentemente, títulos da DC como Gotham – uma história do Batman antes do Batman – ou os da Marvel como Agents of S.H.I.E.L.D. – um sub-Vingadores – ou ainda Agent Carter – spin-off do Capitão América – estreiam fortes e depois reduzem o interesse, sem contudo cair demais, mantendo um público fiel. Já a Netflix tem planos mais ambiciosos: quatro temporadas interligadas, com Daredevil (Demolidor) e Jessica Jones somados a Luke Cage este ano, e Iron Fist no ano que vem, preparando terreno para uma minissérie dos Defenders.

A bem da verdade, eles têm sido extremamente criativo, tornando o Demolidor no melhor resultado de uma adaptação do estilo Frank Miller para a televisão, e Jessica Jones numa heroína que é uma verdadeira metáfora à sobrevivência de abusos. Infelizmente, o bloqueio de informações que a Netflix impõe impede de se saber se estas séries estão realmente se saindo bem na audiência, se superam ou não sucessos da rede como Narcos ou Orange Is The New Black.



E há mais a caminho, como a comédia da NBC Powerless, ou o spin-off dos X-Men, Legion.

E apesar disso, ou por causa disso, o grande volume de shows sobre o assunto, talvez ainda demoremos a ter uma série de TV sobre super-heróis dominando o imaginário dos fãs da mesma maneira que seus correlatos da tela grande.

Ou não.

Afinal, o maior sucesso em séries de TV dos últimos anos também é derivado de histórias em quadrinhos.

A única diferença é que The Walking Dead não estão nem de capa nem de capuz...


Carlos Cirne é um dos mais respeitados
críticos de cinema de São Paulo.
Ao lado do pesquisador teatral Marcelo Pestana,
vem editando há 14 anos a newsletter
COLUNAS E NOTAS
que conta com mais de 10 mil assinantes.
Marcelo Pestana e Carlos Cirne apresentam
todas as segundas às 19 horas
o MOVIE CHAT, aberto ao público,
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em Santos SP.

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