por Chico Marques
Houve um tempo em
que atores e atrizes infantis e juvenis tinham sérias dificuldades em
prosseguir no métier depois de crescidinhas.
É que, de uma hora para outra, o mercado de trabalho na Indústria Cinematográfica se fechava para elas.
As ofertas de trabalho simplesmente paravam de chegar de repente,
o coitado do jovem ator ou da jovem atriz enlouqueciam com a rejeição da
Indústria e o esquecimento rápido do público, e só com muita sorte -- e um excelente Agente, claro... -- é que
esse quadro trágico conseguia ser revertido.
Hoje em dia, essa crueldade toda abrandou bastante. A enorme variedade de mídias audiovisuais existentes
praticamente inviabiliza o surgimento de novos casos clássicos de abandono artístico, como os de Shirley Temple e de Macaulay Culkin.
Quer evidência maior
disso do que Reese Witherspoon, Natalie Portman e Jennifer Lawrence?
Todas começaram suas carreiras como atrizes
juvenis, e conseguiram permanecer em cena na idade adulta sem sofrer com interrupções prolongadas ou com transições traumáticas em suas carreiras.
A linda e adorável Jennifer Shrader
Lawrence nasceu em Louisville, Kentucky no dia 15 de Agosto de 1990
Dona de um talento natural como atriz, sem nunca ter feito teatro, nem mesmo na escola, ela entrou para a vida artística meio que por acaso, numa ida a Nova York para fazer testes para comerciais.
Foi muito elogiada
por seus avaliadores, que afirmaram nunca ter visto desempenho semelhante na leitura dramática de um texto em uma
jovem de 14 anos de idade, daí a convidaram para passar um verão na cidade aperfeiçoando suas habilidades como atriz.
Ela topou, e logo começaram a chegar convites para os primeiros comerciais, e também para um primeiro filme, "The Devil You Know".
Com Hollywood
chamando insistentemente, e Jennifer tomando gosto pelo novo rumo que sua vida estava tomando, o jeito foi a família toda mudar de mala e cuia para
Los Angeles para que sua carreira deslanchasse.
E não deu outra, a carreira de Jennifer Lawrence deslanchou rápido mesmo.
Ingressou no elenco da sitcom "The Bill Engvall Show" (2007) e estreou como protagonista no cinema em ótimos filmes de
baixo orçamento -- mas que foram vistos pelas pessoas certas -- como "A Casa de Jogos" (2008) de Lory Petty e "Vidas Que Se Cruzam" (2008) de Guillermo Arriaga.
Sua primeira cartada
de sorte veio ao aceitar fazer a obstinada Ree no drama de suspense "Inverno da Alma" (2010), de Debra Granik, que
lhe rendeu suas primeiras indicações ao Oscar e ao Golden Globe.
E então, depois de acertar
participações altamente lucrativas nas séries "Jogos Vorazes" e
"X-Men", não hesitou em abraçar o papel de uma proto-ninfomaníaca que apaixonou todo o Planeta Terra na comédia romântica "O Lado Bom da Vida" (2012), dirigida pelo talentoso mas irregular David O
Russell, que lhe rendeu um prematuro (mas merecidíssimo) Oscar de Melhor Atriz -- depois, é claro, de faturar prêmios na mesma categoria no Golden Globe, no Screen Actors
Guild Awards, no Satellite Awards, no BAFTA e no Independent Spirit Awards.
No ano seguinte, Jennifer Lawrence tratou de repetir a parceria com David O Russell e com o ator Bradley Cooper, que havia
dado tão certo para todos os envolvidos em "O Lado Bom da Vida", na estranhamente divertida comédia de gangsters dramática American Hustle
(2013), que também arrebanhou prêmios aos montes pelo mundo afora em Janeiro e Fevereiro de 2014.
Não satisfeitos com isso, a trinca Jennifer Lawrence-Bradley Cooper-David O Russell voltou à carga uma terceira vez num filme familiar adorável, mas que infelizmente não foi tão bem de crítica e bilheteria quanto os dois anterires.
Trata-se de "Joy" (2015), uma comédia agridoce meio maluquinha -- se não fosse assim, não seria um filme de David O Russell -- sobre a inventora Joy Mangano.
Tanto "American Hustle" quanto "Joy" lhe renderam Golden Globes e muitos outros prêmios, fazendo dela a atriz mais bem paga no cinema atualmente e também a atriz mais rentável de sua geração, tendo participado de produções que renderam algo em torno de 6 bilhões de dólares pelo mundo inteiro.
Acredite: não é pouca coisa.
Depois do fiasco comercial do dramalhão "Serena" (2016), Jennifer Lawrence recuperou seu prestígio na Indústria com o sucesso estrondoso do sci-fi "Passageiros" (2016).
E agora se prepara para o lançamento (em 21 de Setembro) de "Mother", novo filme de Darren Aronofsky, onde contracena com Javier Bardem, Ed Harris e Michelle Pfeiffer, e que é, desde já, sério candidato a muitods Oscars e Golden Globes no início do ano que vem.
Celebramos os 27 anos dessa jovem, linda e talentosa atriz resgatando os 6 filmes mais
vitais de sua carreira.
Em comum entre eles, a certeza de que podem ser encontrados nas estantes da Paradiso Videolocadora.
VIDAS QUE SE CRUZAM
(The Burning Plains, 2008, 107 minutos, dir.: Guillermo Arriaga)
O passado e o presente podem ter um efeito curioso sobre as pessoas separadas pelo espaço e pelo tempo: Mariana (Jennifer Lawrence), uma garota de 16 anos, está tentando unir as vidas destroçadas de seus pais em uma cidade na fronteira do México; Sylvia (Charlize Theron), uma mulher que vive em Portland, deve realizar uma odisséia emocional para apagar um pecado de seu passado; Gina (Kim Basinger) e Nick (Joaquim de Almeida), um casal que tem de lidar com um intenso e proibido caso; e Maria (Tessa Ia), uma jovem garota que precisa ajudar seus pais a encontrar a o perdão e o amor. Os cincos começarão as próprias jornadas em busca de redenção e descobrirão que suas ações poderão fazer a diferença entre a vida e a morte. Um filme magnífico, que, de tão envolvente, permitiu a todas as atrizes escaladas desempenharem as melhores performances de suas carreira. Acreditem: não é pouca coisa. Estreia primorosa de Arriaga na direção. Para quem não lembra, ele é o roteirista de "Amores Perros", "21 Gramas" e "Babel", todos dirigidos por seu ex-parceiro Alejandro González Iñarritu.
UM NOVO DESSPERTAR
(The Beaver, 2011, 91 minutos, dir.: Jodie Foster)
Walter Black (Mel Gibson) é o presidente de uma indústria de brinquedos. Ele sofre de depressão, o que faz com que se torne cada vez mais distante da esposa Meredith (Jodie Foster) e dos filhos Porter (Anton Yelchin) e Henry (Riley Thomas Stewart). Um dia, ao jogar o lixo fora, ele encontra o castor, um bicho de pelúcia no qual é possível colocar o braço. Logo em seguida Walter tenta o suicídio, mas fracassa. A partir de então, já com o castor, ele assume uma nova identidade e passa a se comunicar através do boneco. O castor permite que Walter volte à vida, no trabalho e junto à família, mas aos poucos ele passa a sofrer um conflito de identidades. Terceira produção dirigida por Jodie Foster (Mentes que Brilham), o filme toca fundo em algumas questões pessoais, apresenta diálogos fortes e cenas quase chocantes, na bizarrice e na dor. Aos que encontrarem semelhança com a bola Wilson (Náufrago), fora o desespero dos protagonistas, ela para por aí. Até porque Walter descobre na pretensa nova vida que adquiriu, um conflito de identidade que o levará às últimas consequências. Essa é a intrigante, divertida e insana história de um homem que precisa lembrar da vida e esquecer a morte.
INVERNO DA ALMA
(Winter's Bone, 2011, 100 minutos, dir.: Debra Granik)
Aos 17 anos de idade, Ree Dolly (Jennifer Lawrence) embarca em uma missão para encontrar seu pai, já que ele usou a casa de sua família como forma de garantir sua liberdade condicional e desapareceu sem deixar vestígios. Confrontada com a possibilidade de perder a casa onde mora com seus irmãos pequenos e precisar voltar para a floresta de Ozark, Ree desafia os códigos e a lei do silêncio arriscando sua vida para salvar sua família. Ela desafia as mentiras, fugas e ameaças oferecidas por seus parentes e, dessa forma, começa a juntar a verdade sobre seu pai. "Inverno da Alma" talvez seja o grande monólogo cinematográfico de 2010. É claro que é injusto com os coadjuvantes do filmes falar algo deste tipo, em especial com o ótimo John Hawkes (indicado ao Oscar pelo papel), mas é impossível negar que a bela Jennifer Lawrence (que já havia roubado a cena de Charlize Theron em Vidas que se Cruzam) é o principal trunfo da produção.
O LADO BOM DA VIDA
(Silver Linings Playbook, 2013, 122 minutos, dir.: David O Russell)
Por conta de algumas atitudes erradas que deixaram as pessoas de seu trabalho assustadas, Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) perdeu quase tudo na vida: sua casa, o emprego e o casamento. Depois de passar um tempo internado em um sanatório, ele acaba saindo de lá para voltar a morar com os pais. Decidido a reconstruir sua vida, ele acredita ser possível passar por cima de todos os problemas do passado recente e até reconquistar a ex-esposa. Embora seu temperamento ainda inspire cuidados, um casal amigo o convida para jantar e nesta noite ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher também problemática que poderá provocar mudanças significativas em seus planos futuros. Adaptado e dirigido por David O. Russell (O Vencedor), o roteiro é -- diferente do livro -- mais objetivo e funcional, ainda que um pouco mais previsível. Mas adaptações são sempre adaptações: vão agradar a alguns e não vão agradar a outros. O fato de ser um filme de David O Russell -- responsável por grandes comédias desalinhadas como "Spanking The Monkey", "Flertando Com O Desastre" e "Eu Adoro Huckabees" -- e de ter em seu elenco dois atores extremamente talentosos e dedicados como Bradley Cooper e Jennifer Lawrence já fornecem todos os subsídios necessários para que o filme decole com absoluta tranquilidade.
TRAPAÇA
(American Hustle, 2014, 138 minutos, dir.: David O Russell)
Irving Rosenfeld (Christian Bale) é um grande trapaceiro, que trabalha junto da sócia e amante Sydney Prosser (Amy Adams). Os dois são forçados a colaborar com um agente do FBI (Bradley Cooper), infiltrando o perigoso e sedutor mundo da máfia. Ao mesmo tempo, o trio se envolve na política do país, através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Jennifer Lawrence), aparecer e mudar as regras do jogo. O quarteto principal (Christian Bale, Amy Adams, Jennifer Lawrence e Bradley Cooper) está fabuloso, mas não está sozinho. Coadjuvantes como Jeremy Renner, Louis C.K. e o próprio De Niro se saem muitíssimo bem. É interessante notar que os quatro protagonistas já haviam trabalhado com O. Russell, mas surgem em papéis completamente diferentes. Neste sentido, cabe destacar Lawrence. Assim como em O Lado Bom da Vida, a atriz vive uma personagem que mescla um pouco de loucura e depressão. Mesmo assim, oferece uma atuação bem diferente da vista anteriormente, comprovando sua evolução como atriz.
VIDAS QUE SE CRUZAM
(Joy, 2016, 124 minutos, dir.: David O Russell)
Após o sucesso de O Lado Bom da Vida e Trapaça, o diretor David O. Russell volta a se reunir com Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Bradley Cooper. A trama conta a história real de Joy Mangano, empreendedora americana conhecida por uma série de invenções. Vivida pela sempre competente Jennifer Lawrence, Joy é uma mãe solteira que vive com os dois filhos, a mãe (Virginia Madsen), a avó (Diane Ladd) e o ex-marido (Edgar Ramírez). Ela era uma criança prodígio, com várias ideias. O lar partido pela saída do pai (Robert De Niro) acaba obrigando-a a tomar conta da casa e ela deixa seus sonhos para trás. Com muitas dificuldades financeiras, Joy pausa sua vida para cuidar da família. Mas após ser obrigada a hospedar seu pai em casa, ela decidirá reinvestir em si mesma.
Ela cria um esfregão mais prático e seguro e passa a correr atrás para garantir sua produção e distribuição, o que não vai ser nada fácil, sem contar com o apoio da própria família, que, com exceção da avó, não parece acreditar muito em Joy.
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