Friday, August 25, 2017

NOSSO MOVIEGOER CARLOS CIRNE INDICA SEIS BONS FILMES EM CARTAZ NA CIDADE









Sofia Coppola continua em sua cruzada por surpreender seu público a cada novo trabalho. Depois dos deliciosos "Encontros e Desencontros" (2003) e "Maria Antonieta" (2006), e os estranhos (mas muito interessantes) "Um Lugar Qualquer" (2010) e "Bling Ring: A Gangue de Hollywood" (2013), ela chega agora com esta nova adaptação do romance de Thomas Cullinan (“The Painted Devil”), "O Estranho Que Nós Amamos" (2017).

Com o mesmo nome e basicamente a mesma história do filme de 1971, estrelado por Clint Eastwood e Geraldine Page (sob direção de Don Siegel), a versão de Coppola traz Colin Farrell, Nicole Kidman e Kirsten Dunst, formando o triângulo principal do filme. Conta ainda com eficiente elenco jovem, liderado por Elle Fanning.

A história se passa durante a Guerra de Secessão nos EUA, quando um soldado do Norte ferido, o Cabo McBurney (Colin Farrell), é recolhido para ser tratado num internato feminino, em plena Virginia confederada, aos cuidados da diretora do lugar, Miss Martha (Nicole Kidman), uma professora, Edwina (Kirsten Dunst), e cinco jovens alunas, que não conseguiram fugir a tempo do avanço dos yankees.

É óbvio que a presença de McBurney na escola altera de maneira radical o delicado equilíbrio que havia entre adultos (as) e jovens, em vários estágios de desenvolvimento, todas em evidente processo de amadurecimento físico. Hormônios em profusão, agindo em todas elas. Da curiosidade ao explícito interesse sexual, todas se enredam de alguma maneira com McBurney. E é aí que o equilíbrio se destrói.

O filme de Sofia Coppola, mais do que o original de Siegel, faz uso de um aparato técnico muito eficiente para reforçar toda a atmosfera da história. O quadro da tela é mais fechado, de modo a reforçar a claustrofobia (segundo a própria diretora), as cores são menos evidentes, a imagem é mais pálida e fria, e a fotografia abre mão de grandes contrastes. Tudo tem um clima meio diáfano. Do mesmo modo, a trilha sonora não enfatiza a ação, mas a compõe.

O contraponto entre Nicole Kidman, Kirsten Dunst e Elle Fanning, em três gerações e conformações diferentes de mulheres, também é outro ponto forte da produção, assim como a escolha de Colin Farrell para o papel do soldado ferido, transmite mais fragilidade do que a figura de Clint Eastwood no filme anterior, mais rústico e forte.

Um filme lento, com atuações medidas e controladas (mesmo que à beira de uma explosão de sexualidade, em alguns casos), e fotografia delicadíssima. Um detalhe: repare na garotinha que sugere a solução para o impasse que se estabelece na mesa de jantar com relação ao soldado, Marie, feita pela impressionante Addison Riecke. Ela dá um show nesta cena. Muito sutil. Experimente.



O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS
(The Beguiled, 2017, 93 minutos)

Direção
Sofia Coppola

Elenco
Colin Farrell
Nicole Kidman
Kirsten Dunst
Elle Fanning
Oona Laurence
Angourie Rice
Addison Riecke
Emma Howard

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping
com sessões às 15h20, 17h10, 19h e 20h50







Imagine um mundo quase perfeito, onde a aceitação mútua acontece espontaneamente. Agora transponha esta projeção para uma pequena confecção na região da Rua José Paulino, em São Paulo, e você começa a descobrir do que se trata “Corpo Elétrico”, atualmente em cartaz nos cinemas.

No filme de estreia em longas de Marcelo Caetano, o paraibano Elias (o também estreante Kelner Macêdo) é o gerente de produção da confecção dos irmãos Walter (Ernani Sanchez) – o bem intencionado patrão, que parece nutrir um pouco mais que interesse profissional por Elias - e Diana (Dani Nefussi) – estilista da confecção que tem no rapaz seu braço direito. Só que Elias não consegue entender nenhum tipo de distanciamento entre ele e os demais funcionários da empresa. O convívio profissional diário geralmente se estende a uma cerveja depois do expediente, fora eventuais relações muito mais próximas.

Um dos grandes trunfos do cativante filme de Marcelo Caetano reside justamente na postura adotada, muito próxima do processual do personagem principal, Elias. Não há qualquer tipo de julgamento a nenhum dos personagens em cena, ou sequer entre eles. E o mais interessante é o foco da ação. Não se trata de personagens sofisticados ou elitizados. Pelo contrário, são trabalhadores, seguranças, operários. Gente simples, e nem por isso menos interessante.

E o diretor, sem a pretensão de deixar sua marca visual registrada, trata a tudo também com uma simplicidade que valoriza ainda mais o filme. Excetuando-se duas cenas, muito bem engendradas: a saída da fábrica, à noite, por uma longa rua, aonde os personagens vão conversando e trocando de protagonismo frente à câmera, num belo plano-sequência; e a recorrente chegada de Elias ao trabalho, pelas ruas do Bom Retiro, faça chuva ou faça sol. O “balé” dos guarda-chuvas é lindo.

A valorização do elenco (e por consequência do filme como um todo) também acontece pelo trabalho dos roteiristas - Marcelo Caetano, Gabriel Domingues e Hilton Lacerda – que deixam os diálogos fluírem com a simplicidade da conversa cotidiana. Em determinados momentos, certamente aconteceram improvisações coletivas, que o diretor cuidou de não “limar” na edição final.

E a fluidez dos diálogos independe de quem esteja em cena. Amantes na cama, divagando sobre o mar, ou um numeroso grupo de drag queens se preparando para entrar em cena. A caracterização de uma geração de jovens trabalhadores que, na verdade, não está exatamente preocupada em julgar ninguém ou com a ascensão profissional ou social, mas sim em viver, se possível bem, é a grande mensagem que o filme de Marcelo Caetano tem a oferecer. E consegue. Não perca!


CORPO ELÉTRICO
(2017, 94 minutos)

Direção
Marcelo Caetano

Elenco
Kelner Macedo
Lucas Andrade
Marcia Pantera
Mc Linn da Quebrada
Henrique Zanoni
Evandro Cavalcante
Nash Laila
Georgina Castro
Dani Nefussi
Ernani Sanchez

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping com sessões às 18h40








O mais recente filme do ator, roteirista e diretor Rachid Djaïdani (de “Rengaine”, 2012), "Tour de France", funciona como um contundente retrato da situação social que a França enfrenta nos dias que correm: cidadãos de outras etnias – principalmente de origem árabe – não são aceitos como “verdadeiros franceses”, mesmo havendo nascido no país. O conflito social vive à beira de explodir a qualquer momento.

Neste ponto, o promissor rapper Far’Hook (Sadek, um sucesso da música francesa atual, estreando no cinema), entra em confronto com outro rapper que o jura de morte, e tem que se “recolher” por um tempo, até que a poeira baixe. Seu produtor, Bilal (Nicolas Marétheu), lhe pede então que acompanhe, como motorista, seu pai, o empreiteiro Serge (Gérard Depardieu), numa viagem pelos portos franceses. Serge tem como hobby a pintura, e quer reproduzir o trajeto que o pintor francês Joseph Vernet (1714-1789) cobriu, retratando portos franceses a serviço do rei Luiz XV; ou seja, a "Tour de France" do título original.

O que torna "Tour de France" muito oportuno é o fato de que, ao assisti-lo, percebe-se que o conflito étnico é apenas a ponta do iceberg, na França atual. Não são apenas os “estrangeiros” que não são bem aceitos, mas também qualquer um que possa estar – ou se sentir – à beira do extrato social. O próprio Serge, a princípio orgulhoso e com todo o preconceito que nutre pelos estrangeiros, aos poucos vai se percebendo tão deslocado quanto Far’Hook, dentro de seu próprio país (de ambos, aliás).

O fato de Serge e seu filho Mathias (Bilal é seu nome muçulmano, a religião que abraçou) não estarem se falando, e tanto ele quanto Far’Hook não estarem nem um pouco interessados em conhecer o outro lado da moeda, ou se dar a conhecer, transforma a viagem de ambos num cabo de guerra disfarçado em bom convívio, até que este realmente acontece. E a improvável amizade tem muito da relação pai/filho de que ambos tanto sentem falta.

Terno e emocionante, o filme é valorizado ainda mais pela surpreendente interpretação do estreante Sadek, assim como por um Depardieu muito mais contido do que o normal, mas nem por isso, menos carismático. Não perca!




TOUR DE FRANCE
(Tour de France, 2016, 94 minutos)

Roteiro e Direção
Rachid Djaïdani

Elenco
Gérard Depardieu
Sadek
Louise Grinberg
Nicolas Marétheu
Mabô Kouyaté
Raounaki Chaudron

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping
com sessões às 19h00







Tenho a tendência de desconfiar um pouco de títulos grandiloquentes como “O Maior Não-sei-o-quê do Mundo”, ou “A Melhor Sei-lá-o-Quê do Brasil”, e confesso que “O Filme da Minha Vida” me deixou um pouco preocupado. Primeiro porque não se sabe se este deve ser “o” filme da vida do autor ou da nossa? E segundo, porque a sombra nefasta da unanimidade sempre me assustou. E as primeiras impressões pareciam apontar nesta direção.

Pois bem: estava errado. Pode não ser que este seja o filme da minha vida, mas é o do protagonista, Tony – vivido com assombrosa naturalidade por Johnny Massaro, certamente um dos melhores de sua geração -, e o diretor e roteirista Selton Mello (junto com Marcelo Vindicato) garante que assim o seja.

Adaptado do romance “Um Pai de Cinema”, do chileno Antonio Skármeta (que, aliás, faz uma ponta no filme, como Esteban), mesmo autor de “O Carteiro e o Poeta”, “O Filme da Minha Vida” tem tudo para agradar em cheio ao mais variado tipo de público. Belíssima fotografia do mestre Walter Carvalho, toda em tons de sépia; locações na Serra Gaúcha, perto do inverno; direção de arte caprichada, de Monica Delfino e René Padilha; uma irresistível ambientação no princípio da década de 1960, com direito a uma trilha sonora inusitada; e um elenco afinadíssimo, com destaque para Massaro e para o cada vez mais brasileiro Vincent Cassel, aqui atuando num registro muito delicado.

Um pequeno resumo da história: o garoto Tony Terranova vai estudar fora de Remanso, sua cidadezinha e, ao retornar formado, descobre que o pai está indo embora, com saudades de seu país (ele é francês) e de seus amigos. Tony dedica-se então a ser professor, tornando-se uma espécie de jovem figura paterna de seus alunos, quase como uma espécie de autocompensação. Vai tocando sua vida com a mãe, Sofia (Ondina Clais), e com um amigo de seu pai, Paco (Selton Mello), sujeito abrutalhado, mas esclarecido na “vida”, de quem Tony se aproxima para tentar saber do pai.

Selton, aliás, reserva para o seu Paco, em diálogos com Tony, as melhores tiradas do filme todo. Sua opinião pessoal sobre televisão e cinema são absolutamente impagáveis. Outra grata surpresa é o garoto João Prates, que vive Augusto, o aluno mais próximo de Tony, por coincidência irmão de Luna (Bruna Linzmeyer) e Petra (Bia Arantes), ambas interesses românticos de Tony, por motivos diferentes. Luna é a jovem e etérea moça de límpidos olhos muito claros. E Petra, a bela e voluptuosa mulher, alvo de fantasias muito menos inocentes. Repare também na deliciosa participação de Rolando Boldrin.

Num misto de romance histórico e rito de passagem, “O Filme da Minha Vida” traça uma delicada relação entre a vida do jovem Tony, o despertar de sua paixão, e o enredo de “Rio Vermelho” (Red River, de Howard Hawks, 1948), estrelado por John Wayne Montgomery Clift, e visto (ou ouvido) em vários trechos desta história. Tecnicamente impecável (e o apuro fica, felizmente, transparente), emociona e entretém. Não perca!



O FILME DE MINHA VIDA
(2017 – 113 minutos)

Roteiro e Direção
Selton Mello

Elenco
Vincent Cassel
Selton Mello
Bruna Linzmeyer
Bia Arantes
Johnny Massaro
Antonio Skármeta
Ondina Clais
Rolando Boldrin
Martha Nowill
João Prates
Erika Januza

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping com sessões às 13h40, 16h10 e 21h00








Um jovem garoto tem em suas mãos a capacidade de salvar o mundo da influência do Mal, e é ajudado em sua jornada por um relutante guerreiro, que acaba se revelando de uma origem bem mais nobre do que imaginado. “O Senhor dos Anéis”, certo? Não. “A Torre Negra”!

Numa trama que, apesar de suas origens – uma obra de Stephen King – está longe do suspense ou horror que era de se esperar, “A Torre Negra”, novo longa do diretor dinamarquês Nikolaj Arcel (de “O Amante da Rainha”, 2012), é praticamente um western clássico dos anos 1950, na linha de “Três Homens em Conflito” (1966), com direito a muitos tiroteios e até um duelo final. Sem falar no pezinho na fantasia de J.R.R. Tolkien, assumido pelo próprio autor.

Na história, o garoto Jake (Tom Taylor) tem pesadelos cada vez mais vívidos, onde enxerga uma grande torre, e diversas situações envolvendo um pistoleiro e outro misterioso “homem de negro”, e estes sonhos se tornam cada vez mais realistas. Ele transforma as imagens que vê em desenhos bastante soturnos. Simultaneamente, a cidade de Nova York (assim como outras pelo mundo) começa a sofrer devastadores terremotos, cada vez mais poderosos. A família de Jake trata os pesadelos do garoto como distúrbios relacionados à trágica perda do pai bombeiro, a ponto de procurar uma instituição onde interná-lo.

Só que as visões do garoto revelam um poder desconhecido, do qual o “homem de negro” pode fazer uso em seu intento. Na realidade, o tal “homem de negro”, Walter O’Dim (Matthew McConaughey), pretende destruir a Torre Negra (ponto de equilíbrio entre os vários universos paralelos existentes), de modo a ter poder absoluto sobre estes mundos. Para tanto, diz a lenda, o poder de uma mente infantil pode destruir a Torre. A função dos pistoleiros, ou do último deles, Roland Deschain (Idris Elba), é impedir que Walter chegue a esta criança especial e consiga seus intentos. E esta criança é Jake.

A trama com ares de “samba do roteirista doido”, na prática, nem é tão complicada assim, e se desenvolve bem no filme, roteirizado a oito mãos por Akiva Goldsman, Jeff Pinkner, Anders Thomas Jensen e Nikolaj Arcel. A origem, uma série de oito livros que levou mais de 30 anos para ser concluída pelo prolífico Stephen King, também rendeu cinco volumes de novelização em HQ, outro sucesso de público. Com ecos da saga de Tolkien, dos westerns clássicos, além de inúmeras citações a seus próprios trabalhos, como “O Iluminado”, “Cujo”, “Christine, O Carro Assassino”, e principalmente de “It – A Coisa” (a estrear no cinema ainda este ano), com um parque temático abandonado chamado “Pennywise” (o palhaço-vilão de “It”), entre outros detalhes menores, “A Torre Negra” resulta numa eficientíssima aventura de ação, por mais inverossímil que possa parecer.

Idris Elba, em personagem monossilábico (que antes dele passou pelas mãos de Daniel Craig, Christian Bale, Viggo Mortensen, Javier Bardem e Mads Mikkelsen) tira leite de pedras, como pode. Já Matthew McConaughey, carregando a mão em seu Walter, poderia ter exagerado menos, em favor da maior sutileza. Não chega a comprometer, porém. O grande destaque fica por conta do jovem ator britânico Tom Taylor, vivendo o atormentado Jake. Muito bom.

Tecnicamente impecável, peca apenas pela simplista caracterização dos aldeões que ajudam Jake e Roland na luta contra Walter. Figurinos genéricos e sem criatividade, em cenários com cara de reaproveitados. Um deslize desnecessário. Assista, esperando menos suspense e mais ação.



A TORRE NEGRA
(The Dark Tower, 2017, 95 minutos)

Direção
Nikolaj Arcel

Elenco
Matthew McConaughey
Idris Elba
Tom Taylor
Dennis Haysbert
Claudia Kim
Jackie Earle Haley
Katheryn Winnick
Nicholas Pauling

em cartaz nas Redes Roxy e Cinemark










Carlos Cirne é Crítico de Cinema
e há 15 anos produz diariamente
com o crítico teatral Marcelo Pestana
a newsletter COLUNAS E NOTAS,
de onde os textos acima foram colhidos

1 comment:

  1. Muito boas dicas de cinema. Em 2017 houve estréias cinematográficas excelentes, mas o meu preferido foi a Torre Negra filme por que além de ter uma produção excelente, tem uma boa história. Mais que filme de ação, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. É um dos melhores filmes de ação , tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. O filme superou as minhas expectativas, realmente o recomendo!

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