Tuesday, May 16, 2017

AS BOAZUDAS DOS ANOS DE OURO DO CINEMA BRASILEIRO #21: CHRISTIANE TORLONI

por Chico Marques


Quando Christiane Torloni ganhou seu primeiro papel de protagonista na novela das seis "Gina" na TV Globo em 1977, o Brasil inteiro perdeu a respiração:

Que mulher majestosa era aquela: magra, com seios fartíssimos, um rosto lindo, um sorriso absolutamente arrebatador e talento de sobra como atriz?

Aos poucos o mistério foi-se revelando, e ela foi-se afirmando como uma das figuras femininas mais marcantes de toda a gistória da TV Brasileira.

Nascida com o nome Christiane Maria dos Santos Torloni em São Paulo no dia 18 de Fevereiro de 1957, ela é filha da atriz Monah Delacy (Lacy Corrêa dos Santos Torloni) e do ator Geraldo Matheus.

Quando adolescente, não queria ser atriz. Pensou em ser atleta e em ser bailarina. Mas não teve jeito: acabou seguindo a profissão dos pais.

Em meados dos Anos 70, mudou-se com a família para o Rio, e fez alguns testes na TV Globo. Resultado: 42 anos de carreira na emissora e mais de 30 novelas na bagagem, até o presente momento.


Interpretou a filha da primeira Helena (Lilian Lemmertz) criada por Manoel Carlos em “Baila Comigo”, de 1981, e 22 anos mais tarde viveu a quinta Helena do autor em “Mulheres Apaixonadas”.


Nunca se afastou do teatro. Tem ao menos 20 peças em seu currículo -- entre elas “O Lobo de Rayban”, em 1988, ao lado de Raul Cortez, e a sequência “A Loba de Rayban”, montada em 2009, após a morte de Raul e de seu personagem também.

Foi casada com o psicanalista Eduardo Mascarenhas, com o artista plástico Luiz Pizarro e com os diretores de TV Dennis Carvalho e Ignácio Coqueiro.

Aos 60 anos recém-completados, Christiane continua linda e ativa. Para manter a boa-forma, diz que decora os textos enquanto caminha na esteira e faz ioga ao menos duas por semana. Nós aqui acreditamos. Aliás, tudo o que ela disser, nós aqui acreditamos, sem contestar em momento algum.

Seu último trabalho na TV foi em "Velho Chico", numa caracterização inusitadae brilhante ao lado de seu velho amigo Antonio Fagundes, onde revelou dotes insuspeitos como cantora e dançarina.














Os fãs tiveram papel importante na sua volta ao Brasil, depois de três anos morando em Portugal?

Recebi cartas que me impressionaram. De pessoas que pareciam saber o que se passava na minha cabeça. Diziam: não abandone a sua carreira. Não diziam “não nos abandone”. Estavam preocupados comigo. Me sentia sozinha e para mim essas cartas são verdadeiras jóias. Teve um peso essencial, foram cartas de amor.

Continuou contratada da Globo quando morou fora?

Sim, eles me esperaram. O Boni (José Bonifácio Sobrinho) ainda estava na Globo e não quis rescindir o contrato. Praticamente o renovou quando eu partia. Quando fui para Portugal, não tinha certeza nem se ia voltar a ser atriz. Não sabia se ia voltar ao Brasil. Fui repensar a vida. A Globo tem uma postura humana que se revela em circunstâncias como esta, de que infelizmente fui vítima. Como mantém o pagamento de pessoas soropositivas.

A circunstância de que fala é a morte do seu filho, a razão de sua ida para Portugal. Como superou essa perda?

Só dá para usar o verbo no gerúndio. Teve um momento em que até andar era difícil. Não conseguia sair do chão. Só se dá o ponto final no dia em que a gente expira, pelo menos nesse plano aqui. Não tem nada concluído na minha vida. Fui criada na fé, e essa é uma das boas heranças que recebi da minha família. Sem fé, eu seria muito triste, amarga.

Pratica alguma religião?

Fui criada na fé católica, mas não acredito nos dogmas católicos. Fui há alguns anos à Tailândia com o meu filho Leo e foi maravilhoso. Já meditava e compramos livros sobre budismo. Tivemos como guia um monge tibetano. Também viajei por 40 dias à Grécia, sozinha. Lá pensei: não dá para dizer que Deus não existe.

Como surgiu a idéia de interpretar Joana D’Arc no teatro?

Joana D’Arc aos 17 anos unificou um país e pôs fim à Guerra dos 100 Anos. Tive a idéia num garimpo em livraria. Costumo dizer que rezo mais em livraria do que em igreja.

Teme envelhecer?

No meu sítio em Nova Friburgo (cidade serrana no Estado do Rio), há um eucalipto que eu olho e penso que queria ser como ele. É uma árvore incrível. Adulta, ela é toda craquelada, com o tronco rasgado, enrugado. Quando fica mais velha, a natureza faz um peeling. As lascas vão caindo e ela fica lisa. As mais velhas são mais bonitas do que as jovens. É um erro pensar que o corpo é só a crosta quando, por dentro, tem essa coisa magnífica, que não precisa siliconar, ou malhar como um filho da mãe para botar a bunda no lugar. Como se põe a alma no lugar? Se a gente não a puser no lugar, tudo dança.

Já fez uma plástica no seio. Fez ou faria outras?

Sim. Todos têm o direito de se consertar. A questão de se siliconar, tirar bunda, lipoaspirar, se não vira uma doença ou loucura, tudo bem. Operei mama depois que meus filhos nasceram, com o Ivo Pitanguy. Tinha seios superbonitos, mas amamentei e desmontou tudo. Aí dizia para todo mundo que tinha um colo patrocinado pelo Pitanguy.

O sexo é o mais importante no casamento?

Nada que vem do amor e do corpo é imoral. Ensinei meus filhos a não terem nojo do corpo, do seu cheiro. Senão, como vão viver ao lado de uma mulher que se liqüefaz todo mês?

Você já foi símbolo de mulher liberada, chegou a ser chamada de amante do Brasil. Ainda se acha liberada?

Liberada do quê? Não adianta queimar sutiãs ou dançar na boca da garrafa e achar que é ser liberado. Infelizmente, a mulher tem uma performance externa liberal, mas em casa está apanhando. Fisicamente e moralmente. É torturada em jogos de ciúme, poder. Há algemas muito arraigadas na psiquê da mulher.

Faz análise?

A terapia é uma viagem psíquica que se começa e nunca mais se deixa. Comecei aos 18 e aos 60 ainda faço.

De mulher liberada você se tornou musa das Diretas. Como foi?

Não havia intenção de me tornar um símbolo. Participar das Diretas foi uma necessidade. Sou filha da revolução, fazia papéis no cinema que eram a revolução na arte, como em O Bom Burguês. Quando ouvi o boato de que a coisa ia abrir, quis participar.

Vestiria hoje a camisa de um candidato ou causa política?

Só se fôssemos ameaçados por um retrocesso na democracia. A democracia não é só um conceito político. Não dá para pregar liberdade se dentro de casa você dá porrada na cara da sua mulher ou se enfia dois pares de chifres na cabeça do seu marido.

O homem brasileiro é machista?

O homem brasileiro é o melhor homem do mundo. É quente, assim como a mulher brasileira é quente e é muito feliz com o homem brasileiro. Por isso dizem que no Brasil até prostituta goza.

Passou pela crise dos 40 e dos 50?

Não tive crise nem aos 30 nem aos 40 nem aos 50. A vida ficou melhor, a minha observação talvez tenha ficado até mais serena, apesar de tudo o que me aconteceu. As danças orientais me ajudaram a compreender mais o meu corpo. A mulher ocidental é travada, os buracos são tensos, fechados. Ela tem a respiração truncada porque tem que botar para dentro a bundinha. As danças orientais trabalham a respiração. Melhora tudo, a sexualidade, a TPM.

As mulheres estão traindo mais?

Estão se desvalorizando mais, só saem com os homens pensando em sexo. Deve ter alguma relação com Q. I., porque só mulher muito burra se desvaloriza tanto. A emancipação feminina não está só no sexo. Bundificar tudo é chato. A primeira vez que ouvi o Gabriel, o Pensador cantando Cachorrada fiquei meio chocada. Depois vi que ele estava certo.

Não é contraditório quem já posou nua falar em bundalização?

Posei lindamente para a Playboy três vezes, feliz da vida. Não por protesto, claro. Teve gente confusa de me ver na Playboy e nas Diretas. Mas dei seis páginas de entrevista numa época em que mulheres mostravam a bunda e os homens, as idéias.















   

Você é uma ótima dançarina. Pensa em fazer musicais?

Graças a Deus, vivemos um momento no Brasil em que nossos atores-cantores estão botando pra quebrar, não ficam a dever em nada para a Broadway. E eu não tenho formação de canto. Não sou como Alessandra Maestrini, Marília Pêra ou Bibi Ferreira. Não posso dizer: “Agora vou fazer um musical!”. Não sou louca. Já fui convidada, mas disse que, até para fazer testes, precisaria de seis meses para poder me preparar.

Como você começou a se interessar pela dança?

Fui criada para ser atleta, não para ser atriz, apesar de meus pais terem praticamente fundado a Escola de Arte Dramática de São Paulo. Era muito duro ser ator há 50 anos, e meus pais não tinham a menor vontade que eu seguisse carreira artística. Quando eu era criança, podia participar de qualquer modalidade atlética, mas artística, não. Fui convidada, quando criança, para fazer espetáculos com o Sérgio Britto, como quando ele montou A Noviça Rebelde, e minha mãe não deixou de jeito nenhum. Só fui fazer minha primeira aula de balé clássico aos 16 anos.

Como lida com sua sensualidade aos 60 anos?

Lido com meu tempo no meu tempo. Uma pessoa que posou três vezes para a Playboy entre os 25 e 27 anos não pode, aos 60, ser aquela moça. Mas acho que sensualidade não tem idade. Você pode ser uma senhora, aos 80 anos, e ser sensual. Meu pai tem ciúme da minha mãe e minha mãe do meu pai. Ela foi uma mulher muito bonita e hoje é uma senhora linda. Vem de dentro. Como o Brasil é um país jovem, as mulheres estão botando botox aos 30 anos porque se sentem velhas. Existe uma ditadura da juventude.

E você não se curva a essa ditadura?

Não. Vou fazendo minhas personagens, faço as coisas no meu tempo. Não adianta eu querer ser uma coisa que não sou, que já fui ou que ainda não sou.

Como mantém a forma?

Eu tenho a rotina de quem quer manter o corpo saudável. Tento me alimentar bem, dormir bem, ter uma prática física. Cada um vai descobrindo o que gosta de fazer.

E o que você gosta de fazer?

Como sempre andei de bicicleta, gosto de spinning. Também faço, há muitos anos, ioga em casa, é uma prática metafísica. As pessoas me perguntam o que devem fazer e eu respondo: “O que você gostava de fazer quando era criança, gostava de nadar? Então faça isso”. Toda atividade física é lúdica. Não adianta a pessoa ir para uma academia e ficar se machucando. Aquilo que não é feito com alegria não dura. O nosso corpo tem inteligência e sente que o que estamos fazendo vai fazer bem para ele. Desde que me entendo por gente, nado, ando, adoro velejar.

Você produziu um filme sobre a Amazônia, não é?

Chama-se Amazônia – Da Cidadania à Florestania e o Despertar. É a história de uma rede de pessoas que, há 25 anos, fazia parte de uma rede sem saber disso. Nós lutamos pela redemocratização do Brasil, pela preservação da Amazônia e, quando nos demos conta, estávamos juntos na Praça da Sé (em São Paulo) e depois no Acre. Chico Alencar (deputado federal pelo PSOL) foi meu professor de história no Colégio Andrews e eles botavam fogo para a gente pôr o pé na rua. Fiz palanque, lutei pelas diretas... E, de repente, veio a bandeira da sustentabilidade com a minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes. Foi um chamado.

Você se considera uma pessoa politicamente engajada?

Acho importante para o cidadão. Senão, onde você se conecta com o lugar onde está? Você tem que estar conectado com seu espaço, seu tempo. Algumas pessoas vivem de férias na vida, são uma massa de manobra. Não fui criada assim, fui criada em uma família de muita consciência política.

Sendo uma pessoa pública, não tem medo de se expor demais se posicionando assim?

Sou livre e a democracia é isso. A gente não precisa concordar, precisa conviver. E poder expor as minhas ideias é muito bom, dá um tesão na vida. Eu sou assim, não sei ser diferente. Acho estranha essa morfina que tomou conta de uma geração inteira, uma coisa blasé socialmente, politicamente.

Acha as novas gerações apáticas?

Não sei, acho que existe uma falta de esperança. Nem todos os políticos são corruptos, mas, se as pessoas não fazem nada, os que são vão continuar sendo.

Posaria nua novamente?

Não teriam dinheiro para me pagar. Atualmente, teria que estar num humor muito especial para posar nua de novo. E teria que ser um dinheiro que mudasse totalmente meu patrimônio.






















TELEVISÃO

1969 Teatrinho Trol
1975 Caso Especial: Indulto de Natal
1976 Duas Vidas
1977 Globo de Ouro
1977 Sem Lenço, Sem Documento
1977 Gina
1979 Malu Mulher
1980 Planeta dos Homens
1980 Plantão de Polícia: O caso Serginho
1980 Chega Mais
1981 Baila Comigo
1981 Amizade Colorida: Vertigem de Alturas
1981 Caso Especial: Os Amores de Castro Alves
1982 Elas por Elas
1983 Louco Amor
1983 Aplauso
1984 Partido Alto
1984 Transas e Caretas
1985 A Gata Comeu
1986 Selva de Pedra
1986 Armação Ilimitada
1987 Corpo Santo
1989 Kananga do Japão
1990 Araponga
1991 O Bispo do Rosário
1992 As Noivas de Copacabana
1994 A Viagem
1995 Cara e Coroa
1997 Sai de Baixo: As Mulheres Preferem os Loiros
1998 Mulher Sulamita: De Braços Abertos
1998 Torre de Babel
1999 Mulher Carmem: Anjos e Demônios
1999 Você Decide: Profissão Viúva
1999 Você Decide: Amélia Que Era Mulher de Verdade
1999 O Belo e as Feras: Uma é Pouco, Duas… é Demais
2001 Um Anjo Caiu do Céu
2001 Os Normais: Um Pouco de Cultura é Normal
2002 Os Normais: Umas Loucuras Normais
2003 Mulheres Apaixonadas
2005 América
2007 Amazônia, de Galvez a Chico Mendes
2008 Dança dos Famosos 5 Vencedora
2008 Beleza Pura
2009 Caminho das Índias
2010 Ti Ti Ti
2011 Chico Xavier
2011 Fina Estampa
2014 Alto Astral
2016 Tá no Ar: A TV na TV
2016 Velho Chico











CINEMA

1978 Encarnação Julieta
1980 Ariella
1981 O Beijo no Asfalto
1981 Eros, o Deus do Amor
1982 Rio Babilônia
1982 Das Tripas Coração
1983 O Bom Burguês
1984 Aguenta, Coração
1984 Águia na Cabeça
1987 Besame Mucho
1987 Eu
1993 Perfume de Gardênia
1995 Cinema de Lágrimas
2001 Ismael e Adalgisa
2007 Onde Andará Dulce Veiga?
2010 Chico Xavier
2012 Open Road



























PARA CELEBRAR OS 60 ANOS
DE CHRISTIANE TORLONI,
RESGATAMOS 4 ÓTIMOS FILMES
DE QUE ELA PARTICIPOU
DISPONÍVEIS NO YOUTUBE











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