Saturday, May 13, 2017

CARLOS CIRNE INDICA NADA MENOS QUE 6 FILMES EM CARTAZ NOS CINEMAS DA CIDADE


Lançado sem muito alarde nos cinemas brasileiros, “A Promessa” (“The Promise”, 2016), do diretor Terry George (de “Hotel Ruanda”, 2004), é a primeira superprodução a tratar explicitamente do genocídio da população armênia pelo governo turco, às vésperas da I Guerra Mundial – genocídio este, inclusive, que o governo turco não reconhece até hoje.

Tema controverso, que nunca chegou com destaque às telas, teve esta restrição devida, em parte, às pressões que o governo turco exerce sobre os americanos – que têm uma base militar na Turquia -, e nunca conseguiu emplacar nenhuma grande produção. Para se ter uma ideia, o papel principal num dos primeiros filmes planejados sobre o tema foi pensado para o astro Clark Gable (1901–1960).

Esta primeira grande produção sobre o genocídio foi totalmente financiada pelo bilionário armênio Kirk Kerkorian, cuja família padeceu no conflito. Ele garantiu, inclusive, que todos os lucros do filme sejam direcionados a organizações que trabalhem com direitos humanos e pesquisas médicas.

Quanto ao filme em si, trata-se de um grande e emocionante épico que, a partir de um fictício triângulo amoroso - entre dois jovens armênios e um jornalista americano -, traça um panorama bastante abrangente sobre o despertar do movimento político que culminou com a execução de milhares de cidadãos armênios na Turquia dos anos 1910.

O jovem aspirante a médico Mikael Boghosian (Oscar Isaac, de “Star Wars: O Despertar da Força”, 2015), utilizando o dote de sua noiva Maral (Angela Sarafyan), sai de sua aldeia para estudar medicina em Constantinopla. Lá, conhece a professora Ana Khesarian (Charlotte Le Bon, de “A Travessia”, 2015), que tem um relacionamento com o repórter da Associated Press, Chris Myers (Christian Bale, de “A Grande Aposta”, 2015), e todos acabam sendo tragados pelos acontecimentos que precedem o genocídio armênio. A presença alemã na Turquia, incitando os turcos contra uma série de minorias residentes (além de armênios, foram também vitimados gregos e assírios), é claramente abordada no filme, assim como a intervenção francesa e a eventual participação norte-americana no conflito. Há, inclusive, uma absurda passagem envolvendo o embaixador americano e as autoridades turcas, que foi retirada literalmente das memórias do embaixador Morgenthau (James Cromwell), envolvendo apólices de seguros armênias em Nova York. Inacreditável o diálogo.

Destaque para o cuidadoso design de produção – de Benjamín Fernández (de “Os Outros”, 2001) – e para o elenco, que se dá ao luxo de ter coadjuvantes do porte da bela Shohreh Aghdashloo (de “Star Trek: Sem Fronteiras”, 2016), Tom Hollander (de “Missão: Impossível – Nação Secreta”, 2015), Jean Reno (de “Esquadrão de Elite”, 2015) e James Cromwell (de “O Artista”, 2011), além dos astros Oscar Isaac, Charlotte Le Bon e Christian Bale. E a expressiva trilha sonora do franco-libanês Gabriel Yared.

Tendo entre seus grandes admiradores astros como Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo e George Clooney, “A Promessa” traz uma triste curiosidade: na época, armênios tentam desesperadamente chegar à segurança da cidade síria de Aleppo, de onde, 100 anos depois, refugiados sírios tentam alcançar a segurança na Turquia. É a História se repetindo inversamente em farsa. Triste. Um belo e oportuno filme. Não perca.

  
A PROMESSA
(The Promise – 2016 - 133 minutos)

Direção
Terry George

Elenco
Oscar Isaac
Charlotte Le Bon
Christian Bale
Shohreh Aghdashloo
Angela Sarafyan
Tom Hollander
Jean Reno
James Cromwell

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping



Uma grande premiação pode ser uma verdadeira maldição na carreira de qualquer um. No cinema, existe a tradição do Oscar “prematuro” (para artistas em começo de carreira, que depois lutam anos para conseguir se equilibrar no mercado cinematográfico), por exemplo. Em literatura, um Prêmio Nobel pode colocar o autor sob uma indesejada lente de aumento.

É o que acontece com Daniel Mantovani (Oscar Martínez), argentino laureado com o Nobel de Literatura, que passa a receber todo tipo de convites e pedidos após sua premiação. Acaba por aceitar uma visita à sua terra natal, um lugarejo no interior da Argentina, chamado Salas, numa espécie de volta ao lar. Mas deve haver algum motivo pelo qual ele não havia retornado à cidade há mais de 40 anos – vivia em Barcelona, na Espanha.

E Daniel vai acabar descobrindo isto da pior maneira possível: indo a Salas. Primeiro, porque algumas lembranças devem ser deixadas onde estão, ou seja, no passado. Tudo parece menor, menos róseo, e certamente, muito menos cosmopolita do que nos lembramos. E o fato dele ter usado pessoas reais da cidade como moldes para seus personagens, fatalmente não vai ajudar muito no processo.

Num primeiro momento, as pessoas se sentem lisonjeadas ao se reconhecerem nas páginas dos livros. Mas, ao apurar um pouco mais a vista, esta lisonja pode desvanecer rapidamente. Ou criar um tipo de intimidade entre o público e o autor que não existe, a não ser na cabeça de quem a formula. E Daniel passa a ser alvo de todo tipo possível de assédio, por parte de todos que se acham próximos a ele. De pedido de donativos a ser jurado de um concurso de arte (com resultados desastrosos), tudo pode acontecer a esta figura de destaque (talvez a única da cidade), que ali está justamente para receber a mais prestigiosa honraria do local, a medalha de “Cidadão Ilustre” de Salas.

E seu reencontro com o passado – antigos amigos e amores – pode ser ainda mais decepcionante e/ou aterrorizante, com se observa neste fantástico estudo sobre a notoriedade e suas agruras, dirigido por Gastón Duprat e Mariano Cohn. No coeso elenco, destaque para o protagonista, Oscar Martínez, como o escritor meio “tolerância zero”, sem o devido filtro para a peculiar situação em que se encontra, além do excelente Dady Brieva, como o amigo de infância Antonio, perigosa e assustadoramente “sem noção”.

O filme de Duprat e Cohn acaba por evidenciar o fato de que as pessoas nem sempre lidam bem com o sucesso alheio e, mesmo quando o fazem, dificilmente conseguem aquilatar o percurso percorrido para ali chegar. Imperdível.

 
O CIDADÃO ILUSTRE
(El ciudadano ilustre – 2016 - 118 minutos)

Direção
Gastón Duprat
Mariano Cohn

Elenco
Oscar Martínez
Dady Brieva
Andrea Frigerio
Nora Navas
Manuel Vicente
Marcelo D'Andrea
Belén Chavanne
Gustavo Garzón

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping


Baseado em “O Pato Selvagem”, peça de Henrik Ibsen de 1884, o filme “A Filha” (The Daughter, 2015), do estreante roteirista e diretor australiano Simon Stone, é um verdadeiro “Nelson Rodrigues”, tamanha a quantidade de desvios, conflitos e revelações bombásticas que encerra.

Tal qual o cronista-mor do subúrbio carioca, Simon Stone transporta para solo australiano o clássico norueguês sobre a verdade absoluta, e a desnecessidade desta. A volta ao lar de Christian (Paul Schneider), para o novo casamento de seu pai, Henry (Geoffrey Rush, no piloto automático) com sua ex-empregada Anna (Anna Torv, bastante parecida com sua compatriota, Cate Blanchett), e seu reencontro com o amigo de infância Oliver (Ewen Leslie), acaba por ser o estopim de uma tragédia sem fim na vida de todos os envolvidos.


Todos vivem numa moribunda cidade madeireira que está entrando em colapso. A empresa local – de propriedade de Henry - está demitindo a maior parte de seus funcionários, que devem buscar trabalho fora da cidade. Entre eles, está Oliver, que vive com o pai, Walter (Sam Neill, sempre bem), a mulher, Charlotte (Miranda Otto) e a filha, Hedvig (Odessa Young). Obviamente, as coisas não são tão cartesianas quanto este resumo pretende colocar.


Numa atmosfera diferente da que se costuma apresentar em produções australianas – com imagens frias, longos silêncios e tons cinzas -, Simon Stone consegue uma interessante adaptação do longo texto (cinco atos) de Ibsen, atualizando a trama de maneira contemporânea, porém com exagerada concessão ao melodrama. Daí o paralelo traçado com Nelson Rodrigues. Curiosamente, o mesmo diretor já adaptou o texto original – “O Pato Selvagem” - para uma montagem em palco na Austrália, também estrelada por Ewen Leslie, no papel equivalente ao de Oliver.


Interessante como exercício cinematográfico, pode irritar alguns pela inépcia de alguns personagens, ou a apatia de outros. Mas vale pelo elenco coeso. Experimente.



A FILHA
(The Daughter – 2015 – 96 minutos)

Direção
Simon Stone

Elenco
Geoffrey Rush
Sam Neill
Ewen Leslie
Paul Schneider
Anna Torv
Odessa Young
Miranda Otto
Wilson Moore

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping



Norman Oppenheimer (Richard Gere), idoso operador financeiro – eufemismo para “lobista” – parece passar seus dias a tentar influenciar pessoas (sem muito sucesso) no mercado financeiro de Nova York. Uma relação daqui, um parente dali, aproxima-se dos grandes tubarões tentando negociar oportunidades meio efêmeras para leigos no negócio.

Até que um dia trava relações com um jovem político israelense, Micha Eshel (Lior Ashkenazi, em excelente atuação), ajuda-o numa necessidade e, três anos depois este lhe retribui de maneira bastante inesperada, dada sua nova situação política. Ou seja, Norman estava no lugar certo, na hora certa.

E a situação dele se altera drasticamente, inclusive perante seus contatos mais constantes, os empresários e lobistas Bill Kavish (Dan Stevens, de “Downton Abbey”) e Philip Cohen (Michael Sheen, de “Animais Noturnos”), além do rabino Blumenthal (Steve Buscemi, de “Boardwalk Empire”). De figura irrelevante a conselheiro influente, ele percorre todo o espectro político-econômico do mercado americano. Até que acontece a reação inexorável – o mercado agindo em constante situação de “roda gigante”, numa metáfora utilizada no próprio texto – que o coloca novamente em situação desfavorável.

Com forte acento israelense, esta coprodução EUA/Israel – rodada metade em Nova York, metade em Jerusalém – é o primeiro filme em língua inglesa do israelense Joseph Cedar (de “Beaufort”, 2007 e “Nota de Rodapé”, 2011, indicações ao Oscar de Filme Estrangeiro, por Israel) que, se tivesse um mínimo do consagrado humor judaico, poderia estar entre os trabalhos mais engajados do mestre Woody Allen, ele próprio perito em questões da alma de seu povo.

O diretor e roteirista Joseph Cedar consegue de todo o elenco sólidos desempenhos. Do carismático Lior Ashkenazi a Richard Gere, trabalhando contra o tipo, numa caracterização que em muitos pontos lembra o irresistível Carl Fredricksen (na voz de Ed Asner) em “Up – Altas Aventuras”, de 2009, até Charlotte Gainsbourg, num flagrante “bad hair day”, ambivalente com a sua funcionária de carreira Alex. Não deixa de ser sintomática a presença do politicamente engajado Gere (ativista da independência do Tibete) nesta produção que não poupa críticas ao mundo dos negócios ou à fauna que o compõe. Experimente.

  
NORMAN
(Norman: The Moderate Rise and Tragic Fall of a New York Fixer - 2016 - 117 minutos)

Direção
Joseph Cedar

Elenco
Richard Gere
Lior Ashkenazi
Michael Sheen
Charlotte Gainsbourg
Dan Stevens
Steve Buscemi
Hank Azaria
Josh Charles

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping



O filme “A Cabana” (The Shack, 2017), baseado em bestseller homônimo, parte de um perigoso pressuposto: a fé de seu público. Não há sequer um ponto de argumentação viável caso você não professe do mesmo nível de religiosidade dos envolvidos na película. Funciona meio como uma catarse comunitária, onde o público é convidado a compactuar com as experiências vividas pelos personagens.

Escrito pelo canadense William P. Young como um presente para seus filhos – num período de vacas magras da família -, o livro destinava-se, originalmente, a ser apenas uma reconfortante leitura familiar e acabou, graças às suas óbvias qualidades agregadoras, se tornando um sucesso mundial com mais de 20 milhões de cópias vendidas.

Na história, a família edulcorada de Mack e Nan Phillips (Sam Worthington - surpreendentemente bem - e Radha Mitchell), e seus três filhos, Josh (Gage Munroe), Kate (Megan Charpentier) e Missy (Amélie Eve), sofre uma dolorosa perda e fica completamente desestruturada. Católicos fervorosos, veem sua fé ser testada. E Mack não passa no teste. Ele não consegue entender como um Deus misericordioso pode infligir tal dor a seus amados filhos.

No meio desta situação indizível, Mack recebe um bilhete o chamando para um encontro, justamente no local onde a tragédia familiar aconteceu. Descrente e desconfiado, ele parte para a tal cabana. E em lá chegando, todos seus conceitos pessoais serão postos em cheque, de forma radical.

Questões de fé pessoal postas de lado, o filme de Stuart Hazeldine (fez antes Exame, 2009) acerta ao retirar o peso da subserviência na relação entre criatura e objeto da fé. A culpa judaico-cristã é atenuada na maneira em que as situações dogmáticas são discutidas de maneira simples e quase didática.

E o elenco, nesta segunda parte do filme, em muito colabora para que este não se torne uma injeção de glicose diretamente na veia. Octavia Spencer (esbanjando simpatia, como sempre), o israelense Avraham Aviv Alush e a brasileira Alice Braga (com a personagem mais contundente do filme, “Sophia, a Sabedoria”), principalmente, garantem que o melodrama não tome conta completamente. Algumas situações são até contornadas com humor, para alívio da plateia.

Com belas Direção de Arte (de Gwendolyn Margetson) e Fotografia (de Declan Quinn), o filme talvez seja apenas contraindicado para aqueles que tenham passado por situação de perda recente entre família ou amigos. Para estes, é garantia de um vale de lágrimas incontrolável. Experimente.

A CABANA
(The Shack – 2017 – 132 minutos)

Direção
Stuart Hazeldine

Elenco
Sam Worthington
Octavia Spencer
Radha Mitchell
Megan Charpentier
Gage Munroe
Amélie Eve
Avraham Aviv Alush
Sumire Matsubara
Alice Braga
Graham Greene

em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping



A cidade de Boston viveu um verdadeiro pesadelo no dia 15 de abril de 2013, quando acontecia a 117ª edição da mais antiga prova de corrida realizada nos EUA, a Maratona de Boston. Foi neste dia que os irmãos Tamerlan (Themo Melikidze) e Dzhokhar Tsarnaev (Alex Wolff), estudantes de origem chechena, resolveram explodir duas bombas de confecção caseira, na linha de chegada da prova, em meio ao público, no mais atroz atentado perpetrado em solo americano depois do 11 de setembro.

E é justamente esta história que “O Dia do Atentado”, novo drama dirigido por Peter Berg, e estrelado e produzido por Mark Wahlberg (ambos do recente “Horizonte Profundo: Desastre no Golfo”, 2016), conta em minuciosos detalhes. Mesclando informações pessoais de vários envolvidos na tragédia a noticiário da mídia em geral e dados da polícia e do FBI, o roteiro tenta apresentar o caos que tomou conta da cidade logo após a detonação das bombas.


A começar pelo socorro às vítimas, seguindo pela busca de pistas e informações que levassem aos culpados, acompanha-se o policial Tommy Saunders (Mark Wahlberg), o agente especial do FBI Richard Deslauries (Kevin Bacon), o comissário de polícia Ed Davis (John Goodman), o sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons), além de civis que, de uma maneira ou de outra acabariam envolvidos com os culpados pelo crime. Entre eles Katherine Russell (Melissa Benoist), esposa norte-americana de Tamerlan, até hoje às voltas com processos que tentam identificar sua participação nas ações dos irmãos, e Dun Meng ou “Manny” (Jimmy O. Yang), jovem estudante chinês que tem participação efetiva na captura dos irmãos terroristas.


O que impressiona – e envolve – o espectador na produção de “O Dia do Atentado” é a maneira perfeita com que são mescladas imagens reais com encenações de tudo que aconteceu naquele dia. É quase impossível divisar-se a ruptura entre imagens reais e refeitas. Vale ressaltar que a crueza de determinadas cenas chega a revoltar o mais temperado dos estômagos. Obviamente, entre as inúmeras vítimas do atentado são pinçados os casos que mais possam geram a empatia no público, por motivos óbvios. (SPOILER) A tocante cena do menino de nove anos morto sendo guardado por um soldado da Guarda Nacional é de dar nó na garganta.


Outro fator impressionante é a agilidade com que a cidade de Boston foi “fechada” pela polícia e pelo FBI, de modo que os terroristas, quando identificados, não pudessem escapar de maneira alguma. Isso e uma vasta busca em imagens de inúmeras câmeras de segurança da área do atentado, ajudaram em sua rápida resolução, a tempo de evitar que os irmãos chegassem a seu outro alvo, que seria Nova York. Mas o filme, na realidade, realça o trabalho de cada um dos pequenos responsáveis pela captura dos irmãos Tsarnaev.


Funciona enquanto documento histórico (apesar de se perder um pouco na finalização arrastada, apresentando todas as pessoas reais citadas no filme), mas também como drama policial, com toques quase surreais em sua conclusão. Experimente.



O DIA DO ATENTADO
(Patriots Day – 2016 – 133 minutos)

Direção
Peter Berg

Elenco
Mark Wahlberg
John Goodman
Michelle Monaghan
Jimmy O. Yang
Melissa Benoist
Alex Wolff
Themo Melikidze
J.K. Simmons
Kevin Bacon

em cartaz nas Redes Cinemark & Roxy




O mais novo filme do diretor e roteirista norueguês André Øvredal (de “O Caçador de Troll”, 2010) poderia ter sido um novo alento no horizonte dos filmes de suspense / horror. Poderia. E até começa bem. Numa abertura muito climática vê-se o exterior de uma bucólica casa de interior, silenciosa e plácida, até que se percebe peritos forenses recolhendo provas, e corpos começam a brotar em abundância, dilacerados pelos cômodos. Por fora, nenhum sinal de arrombamento. Por dentro, uma chacina.

No subsolo da casa, nova descoberta: uma jovem mulher (Olwen Catherine Kelly) é encontrada enterrada, com o corpo em bom estado de conservação. Ou seja, a coisa é recente. Todos os corpos são enviados então para o necrotério da família Tilden, tradicional há três gerações na cidade. Não encare nada do que foi contado como “spoiler”. Esta é a descrição dos primeiros cinco minutos do filme. Ainda há muito por vir.

O mais interessante é que, partindo do intrigante prólogo, o filme tinha grandes chances de se desenvolver de maneira cada vez mais instigante, na medida em que Tommy (Brian Cox, em papel anteriormente reservado a Michael Sheen) e Austin Tilden (Emile Hirsch), pai e filho, começam a analisar os corpos que chegaram a seu morgue. Cada vez mais inexplicáveis, as condições dos corpos vão revelando que nem tudo transcorreu como se imaginava.

E o que poderia ser um grande filme de suspense psicológico vai, paulatinamente, abrindo espaço para o puro e simples “gore”, com um terror gráfico em última instância tomando conta do roteiro por completo, além de uma grande incoerência que interliga as ações dos personagens que, do ceticismo científico vão sucumbindo à credulidade sobrenatural num átimo.

Nem a grande química entre os protagonistas – Cox e Hirsch se não são, deveriam ser pai e filho – consegue alterar a percepção de que as conclusões são apresentadas aos trambolhões e sem muito critério, comprometendo o que poderia ter sido um tenso suspense. A bela fotografia e os efeitos visuais também valorizam o produto, ao contrário da irritante trilha sonora, em si já um “spoiler”, antecipando vários momentos climáticos. Nem o tema de “Tubarão” foi tão explícito (e olha que lá tinha uma função).

Deve agradar aos fãs do gênero, mas a gente fica esperando mais... Em vão. Experimente.

A AUTÓPSIA
(The Autopsy of Jane Doe – 2016 - 86 minutos)

Direção
André Øvredal

Elenco
Brian Cox
Emile Hirsch
Ophelia Lovibond
Michael McElhatton
Olwen Catherine Kelly
Jane Perry
Parker Sawyers
Mary Duddy

em cartaz nas Redes Cinemark & Roxy




Carlos Cirne é Crítico de Cinema

e há 15 anos produz diariamente

com o crítico teatral Marcelo Pestana

a newsletter COLUNAS E NOTAS,

de onde os textos acima foram colhidos







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