Wednesday, May 24, 2017

CASA CLÁUDIA (uma crônica de Marcelo Rayel Correggiari)



Deixemos avisados: essa Mercearia não comercializa sacos de cimento, cal, argamassa, tijolos... mas acha espantosos certos açodamentos em torno de reformas.

Verdadeiras bagunças, quebradeiras, tudo sob a promessa de ‘um mundo melhor’, um país mais equânime... blá-blá-blá...

Dois ‘impeachments’ em menos de quatro anos: um lugar com esse recorde só é de vigésima categoria porque não existe a vigésima-primeira.

Pois, vejamos se a direção dessa casa entendeu alguma coisa: o impedimento da antiga chefa do executivo não era só por ‘improbidade administrativa’. Havia uma certa pauta obscura de “salvação da pátria” que dependia de uma máscara muito mal afixada, diga-se de passagem.

A pergunta seria: “... salvar a pátria de quem e para quem”?! Hmmm... sinistro... muito sinistro!

Como quase tudo que envolve política... em especial a partidária... diga-se de passagem.

O bicho pegando, jacaré abraçando, e gente ainda rezando para que as reformas política, trabalhista e previdenciária sejam aprovadas e sancionadas a toque de caixa! Hmm... que lindo, isso! A atual governança vem se provando, a cada dia, mais suja do que pau-de-galinheiro, mas... “tem de sair as reformas”!

Mas que reforma, cara-pálida?! Isso aqui não é sequer uma casa, vão reformar o quê?! Pensamos, nessa descalibrada Mercearia, que seria o caso de uma construção e não um ‘makeover’ amplo, geral e irrestrito que nem a turma do ‘Decora’ conseguiria dar jeito.

Verificar quem está devendo ao INSS, fazer aquela auditoria da dívida, uma bem caprichada, nem pensar. “Tem de fazer reforma... tem de fazer reforma!”. Ah, meu pai...


Não se pensa, sob qualquer hipótese, em mexidas bem pequenas e pontuais antes de eventuais alterações mais extensas. É mete o ‘foda-se’... e pronto! Parte-se para reformas sem conceito e/ou um bom fundamento: a boa e velha história do aluno que não faz o ‘para casa’ e só falta bater no(a) professor(a) porque não tirou 10 na prova.

Seria meio absurdo afirmar que a atual governança é ilegítima, principalmente se considerarmos o aspecto etimológico da bagaceira transgênica (“lex, legis”, ‘lei’ em português, palavra da terceira declinação, imparissílabo com radical terminado em uma só consoante). A porta não estava aberta e a galera entrou, presidente e vice. Foi tudo feito dentro do que prevê a lei, dentro dos ritos processuais que, inclusive, permitem certas ‘forçações de barra’.

Só que a atual chefia do ‘samba-dança’ executivo não possui a menor sustentação no que for. Ilegítima, etimologicamente falando, até não é... mas... não se sustenta nem para voo de galinha: falastrona, embusteira, enfiada na lama ‘com força’... uma desgraça completa.

Mesmo assim, as reformas precisam ser aprovadas... precisam ser aprovadas... precisam ser aprovadas... precisam ser aprovadas... “para o bem da economia do país”, “para o país sair da crise”... hmm!


Não foi bem essa a fala do economista Marcos Lisboa, lá pelo início do mês, na comissão de assuntos econômicos (CAE) do Senado Federal. A impressão que ficou é a de que o país é meio ‘cabecinha’, fechado, com ou sem reformas. A mesma reclamação pôde ser vista recentemente num painel de debates da mesma casa, só que na comissão de relações exteriores (CRE).

Colocam-se muitas (falsas!) esperanças nas tais ‘reformas’ sem antes se mudar o ‘mindset’ (e lá vamos nós repetir o discurso feito por essa mesma Mercearia no início de 2016!). Uma reforma sem uma mudança de mentalidade tem a serventia de hímen em lupanar: somente quando uma mudança de mentalidade ‘ganha densidade’ é que podemos registrar que uma reforma ‘vingou’.

Mas... como assim, ‘né’?! O negócio é a tal da ‘reforma’... reforma... reforma... reforma. Ô lugar que adora um puxadinho! O mundo se acabando, poderes legislativo e executivo com “... mão na cabeça!”, sem a menor sustentação para aprovar sequer o orçamento de manutenção do elevador do prédio onde moram, mas tem de sair a “reforma”. Dá licença...

Ou seja: tem gato nessa tuba. O mundo se explodindo e as tais reformas têm de sair?! Hmm... alguém terá tremendo proveito com isso. O povo, certamente, é quem não tem.

Na república das construtoras, onde a carne é processada, o obscurantismo é a máxima. Capitalismo tropical: para se dar bem é preciso “ir para a cama” com cão e gato. Enquanto isso, 20 milhões de desempregados (incluindo os por ‘desalento’) que em dezembro agora completam dois anos de amargura.

Indubitavelmente, não é uma crise política. É uma crise humana.



Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO

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