Sunday, March 4, 2018

PARA FÁBIO CAMPOS, "TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME" MERECEU CADA OSCAR QUE GANHOU.




“Três Anúncios Para um Crime” era, desde o início, o meu favorito ao Oscar no último domingo. Mereceu cada Oscar que ganhou. Mas ganhou menos estatuetas do que merecia. Acho o filme muito mais impactante que “A Forma da Água” – que é muito bem executado, mas carece de originalidade, justamente um dos pontos forte de Guilhermo Del Toro. Vê-lo premiado justamente por esse filme não deixa de ser algo irônico.

Em “Três Anúncios”, Mildred -- a sempre excelente Frances McDormand, vencedora do Oscar de Melhor Atriz deste ano  –-, inconformada com o estupro e assassinato da filha, resolve alugar três outdoors numa estrada secundaria que passa pela cidade fictícia de Ebbing, no Missouri, para questionar o trabalho da policia quanto à investigação do crime, que permanece sem solução. Isso vira o estopim que desencadeia uma série de eventos que sacodem a pequena cidade.


Mildred nunca se coloca como a pobre mãe que perdeu a filha. Ao contrário, é uma figura desagradável, amarga, cheia de culpa, que transforma a busca do assassino da filha num motivo pra continuar vivendo. Como antagonista, temos o xerife Willoughby -- o também ótimo Woody Harrelson -- e sua equipe de policiais de cidade de interior que beira o patético. O melhor representante é o policial Dixon -- deliciosamente interpretado por San Rockwell, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Apesar do racismo, machismo, violência desmedida, e todo o tipo de trapalhadas, Willoughby é um sujeito querido pela comunidade e tem algum bom senso, não pode simplesmente arrastar todo habitante da cidade e quem mais passar por lá para recolher uma mostra de DNA e compará-la com a achada no corpo da vitima, já que não houve uma correspondência com o banco nacional de DNA. Além disso, o Xerife também enfrenta problemas pessoais, que acabam atraindo ainda mais a simpatia dos habitantes.


Li alguns comparando as situações do filme com o ódio despertado pela eleição do Trump nos EUA. Não concordo. O que é mostrado no filme sempre esteve lá, encoberto sob uma certa tranquilidade. Quando um fato desequilibra essa aparente tranquilidade as tensões vêm à tona.

Os dois filmes anteriores de McDonagh -- o muito elogiado “Na Mira do Chefe” e o não tão elogiado “Sete Psicopatas e um Shih Tzu” -- eram particularmente focados no humor negro. Não é diferente aqui. Ao longo do filme, é possível ir de gargalhadas às lagrimas em alguns minutos.

As fragilidades, o ódio, a estupidez dos personagens, somados às excelentes interpretações, conferem uma enorme humanidade aos personagens. Respeitando-se as proporções, não é difícil se identificar com as situações onde eles perdem totalmente a razão, cegados pela emoção. Há tempos não via um filme com personagens tão humanos -- e humanos fazem merda pra cacete, mas também são capazes de encontros improváveis e momentos de altruísmo inesperados. A mistura disso tudo foi o que mais me encantou no filme.


Apesar de alguns não concordarem, acho o roteiro excelente, imprevisível e nada panfletário quando toca em assuntos como machismo, racismo, intolerância, algo cada vez mais difícil hoje em dia.

Foi o filme que mais me impactou no ano. Recomendo fortemente -- mesmo que você discorde totalmente de mim -- pois não há como negar o conjunto magnifico de interpretações -- que, por si só, já vale o ingresso.




TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME
(Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2017, 115 minutos)

Roteiro e Direção
Michael McDonagh

Elenco
Frances McDormand
Peter Dinklage
Abbie Cornish
Sam Rockwell

Cotação
em cartaz nas Redes
Roxy, Cinemark e Cinespaço

TRAILER




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