Wednesday, March 14, 2018

UM BANDO DE LOUCOS... E SEM A MENOR GRAÇA (por Marcelo Rayel Correggiari)



Deixemos bem claro: nunca foi e jamais seria função ou aptidão dessa constituída Mercearia ‘dar pitaco’ ou interferir nos negócios, as-suntos particulares ou no bom andamento do que for.

Só não seria possível, de uma maneira ou de outra, comprar ide-ias de jerico ou comportamentos assombrosamente espantosos que nada somam, agregam ou colaboram com algum andamento razoável das coisas.

Quando não se estabelecem, sob o fino véu de um ‘humor’ questionável, como a mais abjeta das agressões.

A arte de algum humor na vida não substitui o cuidado que se deva ter para não se injetar aqui ou acolá uma espécie de contundência desnecessária diante ‘do outro’ que não pediu para estar nesse ‘mundão-de-meu-deus’ com as características que possui ou a origem que tem.

Há de se ter alguma civilidade até mesmo para a aspereza de um queixume.

Crítica não é reclamação, resenha não é queixa, humor não é maledicência ou falso veredito. São coisas bem distintas, inclusive nos nomes e conceitos estabelecidos por esses substântivos. Se fossem a mes-ma coisa, teriam o mesmo nome e qualquer curso de Letras de porta-de-esquina prova isso com menos de cinco minutos na hora do recreio. Pensar categoricamente impede qualquer aspirante de se tornar um(a) crítico(a).

Por um motivo bem simples: quem pensa categoricamente perde o ‘the big picture’, a ‘grande figura’ que surge vez e outra diante de nossos olhos, além de colaborar sobremaneira no emperramento de algum discernimento pelo espírito (conhecido também como “razão”) diante de certas complexidades.

Se acham que o exposto acima é relativo e tremendamente questionável, por favor, não enderecem o debate somente para esse pobre merceeiro, mas igualmente para o Prof. Dr. Robert Sapolsky, biólogo e neurocientista da Universidade de Stanford, EUA.

O que vale na produção de Ciência e ‘conhecimento novo’ é per-feitamente aplicável para a vida.

Domingo passado, o programa Manhattan Connection completou seu ‘jubileu de prata’. Na apresentação comemorativa, com todos em Nova York (incluindo o ‘veneziano’ Diogo Maynardi), a lembrança de uma das grandes cabeças do início dessa trajetória, o jornalista Paulo Francis.

Francis era um colecionador de desafetos. Vários ao longo da vida. A única diferença entre ele e os candidatos a Francis do século XXI é que o original ‘tinha lastro’, muito lastro.

Acusado de racista, homofóbico e machista, era preciso muita bravura para ser leitor(a) de sua coluna semanal, o Diário da Corte, sempre aos domingos no Estado de S.Paulo.

Na crueza de seus comentários, era um festival mordidas para todos os cantos. Um negócio difícil de engolir. E por que esse iletrado merceeiro o lia? Simples: ele tinha lastro para versar sobre os assuntos. Era um homem de Shakespeare, Wagner, óperas, leitor assíduo do The New Yorker, uma biblioteca pessoal superior a dez mil exemplares, assistia a todas coreografias de dança clássica disponíveis em Nova York... e, por aí, vai...

E quem era, na vida real, o tal Franz Paul Trannin da Matta Heilborn (Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1930 – Nova York, 4 de fevereiro de 1997)? Um sujeito casado com a mesma mulher, a jornalista Sônia Nolasco, e amante dos vasos de plantas no pequeno alpendre de seu apartamento. Como o casal não teve filhos, os gatos foram seu objeto de grande afetividade. Nada mal para quem era homofóbico, racista e machista.

‘Id est’, o Francis ‘polemicista’ era um personagem para vender jornal. Funcionava, funcionava muito. Porém, quando se passava a lupa, nem ele mesmo acreditava em tudo aquilo que escrevia.

Cabe a pergunta: e por que ele é lembrado até hoje com algum traço de saudade na base do ‘tempo bom... quando tínhamos grande crítica’?! Porque ele veio das artes cênicas, começou como ator, conhecia o processo e, ao longo da vida, esmerou-se no aprimoramento de seus conhecimentos e sensibilidades.

É uma espécie de ‘Santos de Pelé’: quem viu, viu...

Até que... cá estamos nós ‘de volta às ruas’ (e isso inclui redes socias ‘as well’). O que temos de enfrentar porta afora de nossas casas não é bolinho, não! Um mar de gente necessitada de ajuda especializada, por vezes medicamentosa, que, como diz meu avô, “... acha bonito ser feio...”.

É cada procedimento perto do bizarro. Gestos destrambelhados, perdidos de propósito, um troço de uma agressividade ímpar. É de se beslicar e perguntar: “Mas o que é isso?!”.

Atacam-se gêneros, orientações sexuais, crenças, nacionalidades, profissões, religiões, reputações, trajetórias, deficiências físicas, status social, condições financeiras et cetera, et cetera, et cetera como se qualquer ser humano morresse de vontade em mergulhar num mar de infortúnios.

É bom lembrar que as coisas péssimas também acontecem para as pessoas excelentes. Ninguém está isento de passar por ‘poucas & boas’ ao longo da vida.

Sem contar, obviamente, que muitas pessoas em ‘excelente posição’ nos dias de hoje tiveram uma origem regada a bastante privação lá atrás. Cospem nos menos favorecidos e se desfazem dos menos afortunados quando o tipo de origem foi a mesma.

Não é o fim, não! É o início! O início da picada!

É por conta de gente assim que se é possível descrer das pessoas.

Sob o véu ‘da graciosidade’, do ‘humor’, o pé vai na cara de quem nem abriu a boca.

Não é ‘piada, ou ‘gracejo’: é pura agressividade na sua forma mais cruenta e completamente desumana. Sob a égide da tradicional frase amplamente difundida hoje em dia “... ah, vocês que estão de mi-mi-mi...”, justifica-se uma postura absurdamente degradante, típica de uma desordem psiquiátrica crônica que, em tempos idos, desautorizaria seu/sua portador(a) para o exercício de qualquer coisa.

Essa Mercearia passa bem longe de se tornar a polícia-dos-bons-modos ou o atalaia-do-bom-gosto. Engana-se quem assim pensa. Contudo, é bom avisar que os tempos são outros e que os incomodados não andam se mudando, o que costumava a acontecer. A reação tornou-se imediata contra todos aqueles que, em seus avançados quadros de enfermidade, atentam contra a dignidade.

Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.

É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO


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