Thursday, October 13, 2016

BANGUE BANGUE NO CIRCO (uma crônica de Ademir Demarchi)



Na semana passada eu comentava sobre os circos de várzea que circularam por Maringá e dizia que, além de seus atrativos principais com palhaços e animais, estava o teatro. Aproveitando-se do sucesso do cinema, o diferencial oferecido pelo circo estava em fazer na forma de teatro, um faroeste ao vivo, com muitos tiros e sangue para impressionar a plateia. A primeira peça que vi, nunca esqueci. Tratava-se de “Gregório 38”, uma adaptação simplificada de um filme nacional feito à maneira do “western spaghetti” que movimentou a indústria italiana copiando o cinema de Hollywood. Esse filme, de 1969, dirigido por Rubens da Silva Prado, originado na lendária Boca do Lixo paulista, imitava os bangue-bangues popularíssimos no Brasil, seguindo várias experiências anteriores de faroestes brasileiros lançados até mesmo com nomes de atores e diretores imitando nomes norte-americanos como forma de se vender ao público, que preferia o estrangeiro. Tanto a Boca do Lixo quanto Rubens da Silva Prado se pareciam em tudo com esses circos mambembes: era uma atividade apaixonada, ninguém pensava no cinema como uma indústria, sonhando com Hollywood. Assim, é curioso como se dava a coisa, conforme Prado disse numa entrevista, contando que o filmou nos fins de semana em Guararema, interior de São Paulo: “Produzi, dirigi, montei, compus a trilha sonora e, sob o pseudônimo de Alex Prado, fiz o protagonista, além de operar a câmera quando não estava em cena”. Ou seja, é magnífico como um estilo, criado pelos norte-americanos, passa a ser copiado pelos italianos (no caso de Sergio Leone, transformando filmes em obras de arte reconhecidas pela crítica como “Por um punhado de dólares”, de 1964), inspira brasileiros a fazer o mesmo na Boca do Lixo, que vai filmar no interior de São Paulo e depois, passando nas salas de cinema, alcança popularidade e acaba adaptado pelo circo para circular pelas pequenas cidades do Sul do país, chegando a Maringá, onde o assisti. A estória teatralizada pelo circo cativava a plateia, que torcia pelo “mocinho”, Toni, raivosamente: ele era um jovem que trabalhou arduamente para juntar dinheiro e pagar as dívidas da família, porém, quando retorna ao sítio descobre que todos foram mortos pelo temível pistoleiro Gregório e seus capangas. Começa então uma vingança à base de muitos tiroteios feitos no picadeiro aturdindo a plateia nas arquibancadas, que torcia tentando avisar Toni da presença dos bandidos, preparando-a para o desenlace final que se dá com um tenso duelo entre Toni e o vilão Gregório. O sucesso foi tanto com esse personagem que o diretor tratou de achar um jeito de ressuscitá-lo depois... Ele próprio foi ressuscitado na Mostra de Cinema de São Paulo de 2012, numa homenagem feita com esse filme. Quanto ao circo, nos dias seguintes à apresentação, muitas vezes repetida “furando” a lona, ou seja, entrando furtivamente já que a grana era curtíssima, nossa diversão era tentar identificar o Toni e o Gregório no entorno da lona agora carregando capim para os bichos, fazendo algum serviço pois, como na Boca do Lixo, eles batiam dirigiam os caminhões e carros, carregavam e descarregavam a tralha toda, montavam e desmontavam etc, para de noite dar uns tiros de espoleta.


Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
ambos publicados pela Realejo Edições.
Suas crônicas, que saem semanalmente
no Diário do Norte do Paraná, de Maringá,
passam a ser publicadas todas as quintas
aqui em Leva Um Casaquinho








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